Uma Dobra no Tempo: de livro clássico a mudança essencial em Hollywood
Mesmo com críticas negativas, o filme, que estreia no próximo dia 29, tem elementos de representatividade merecedores da atenção do público
atualizado
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A turma anda juntinha: os elencos de Corra! (2017), Pantera Negra (2018) e Uma Dobra no Tempo (2018), a julgar pelas redes sociais, não se desgrudaram durante toda a temporada de premiações. As produções formaram uma espécie de tríplice coroa nos últimos meses, uma demonstração de como Hollywood pode mudar o olhar sobre suas narrativas.
Uma Dobra no Tempo é baseado no romance homônimo de Madeleine L’Engle, leitura obrigatória em qualquer escola de ensino básico nos EUA. O longa, dirigido por Ava DuVernay e estrelado por Oprah Winfrey, Reese Witherspoon, Mindy Kaling e pela iniciante Storm Reid, no entanto, tem recebido críticas ruins desde sua estreia norte-americana, há algumas semanas. Ainda assim, multidões de jovens negros estão enchendo as salas para ver a obra.Antes de qualquer crítica, Uma Dobra no Tempo tem potencial para ser a produção mais importante do ano. O filme é um recado: a indústria cinematográfica deve mudar. Trata-se de uma ficção científica cuja protagonista não só é uma menina, mas uma garota negra. Pensando nos três anjos que a guiam nessa jornada, DuVernay queria escalar não apenas atrizes, mas líderes, como afirmou em entrevista à revista Time.
Para o trio, ela fez questão de contratar uma atriz negra, uma branca e uma que não fosse de nenhuma das duas etnias. “Reese é a produtora mais badalada do meio. Oprah é a mais prolífica e venerável lenda da televisão, além de ser uma artista e empreendedora. E Mindy é uma das poucas mulheres tocando um programa de TV com o nome dela, sobre ela”, explicou a diretora.
DuVernay também merece seus louros. É a primeira diretora negra a comandar uma produção de ficção científica cujo orçamento ultrapassa os US$ 100 milhões: o famoso blockbuster. “Mas não a primeira capaz de fazê-lo, nem de longe”, provocou em seu Twitter. Apesar da marca histórica, ela aparenta estar cansada do espanto causado pelo dado. “Eu fico me questionando se vocês fazem essas perguntas para meus colegas homens”, reclamou em entrevista ao site Wired.
De fato, DuVernay tem uma trajetória que fala por si só. Com 10 longas no currículo, ela foi indicada ao Oscar de Melhor Documentário, por A 13ª Emenda (2016), e ao Globo de Ouro de Melhor Direção, por Selma (2014) – além de ter sido a primeira mulher negra a levar o prêmio de Melhor Direção no Festival de Sundance, por seu quinto filme, Middle of Nowhere (2012).
Na posição de diretora de uma ficção científica, DuVernay viu-se diante da possibilidade de criar mundos. Mas suas demandas foram além da estética da cenografia: ela exigiu, por exemplo, uma menina de pele negra para interpretar a protagonista. A ideia de que um dos seres celestiais não fosse nem branco, nem negro, foi um dos pontos fundamentais para a escalação de Mindy Kaling como a personagem que cita Buda e o filósofo Eurípedes em, basicamente, todas as suas falas.
“Eu nunca vi alguém exigir inclusão como ela. É uma perspectiva diferente, e não dá para entender isso até começarmos a ter produtores poderosos, de cores e gêneros diversos. Senão, serão sempre os mesmos 20 caras fazendo os mesmos 20 filmes de novo e de novo”, afirmou Witherspoon em entrevista à Time.
Na ocasião, Oprah Winfrey concordou com Witherspoon. “Eu olhava para ela de jeans, tênis e dreads ali, mandando em tudo. É legal demais vê-la trabalhar com essas máquinas imensas. É um sentimento de ‘OK, próxima geração: aí está você'”.