Um Oscar demasiado branco. Veja quais artistas negros foram esnobados nas indicações
Pelo segundo ano consecutivo, o Oscar nomeou apenas brancos para os prêmios principais. Nomes fortes como Will Smith, Idris Elba e Samuel L. Jackson ficaram de fora
atualizado
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Assim que saíram as indicações ao Oscar 2016, em 14/1, a hashtag #OscarsSoWhite (“Oscar Tão Branco”, na tradução livre), criada em 2015, voltou com tudo às redes sociais. Novamente, a Academia privilegiou brancos nas categorias principais, principalmente de atuação, o que gerou revolta sobretudo pela quantidade de marcantes performances de artistas negros ao longo da temporada.
Listamos, por categoria, nomes que poderiam figurar tranquilamente na lista de indicados, com base em filmes que já estrearam no Brasil e títulos ainda inéditos no país:MELHOR FILME
“Straight Outta Compton – A História do N.W.A.”
A solitária indicação a roteiro original – escrito por roteiristas brancos – soa como uma espécie de prêmio de consolação. A Academia tinha 10 espaços reservados a melhor filme e, em 2016, preencheu apenas oito. “Straight Outta Compton” nem era o clássico caso de azarão, já que figurou em importantes premiações de sindicatos (atores e produtores) e associações de críticos.
MELHOR DIRETOR
Ryan Coogler (“Creed – Nascido para Lutar”)
Com menos de 30 anos, Coogler venceu prêmios em Cannes e Sundance por seu primeiro filme (“Fruitvale Station – A Última Parada”) e assumiu o recomeço da franquia de Rocky Balboa em “Creed – Nascido para Lutar”. Não é pouca coisa. A direção, aqui, mostra personalidade ao atualizar os dramas pessoais de “Rocky – Um Lutador” (1976), com espertas sacadas visuais que revisitam o clássico de Sylvester Stallone.
MELHOR ATRIZ
Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor (“Tangerine”)
Ainda inédito em Brasília, “Tangerine” foi rodado por câmeras de três aparelhos iPhone 5s nas ruas de Los Angeles. Apesar da estética vibrante, foram as atuações das transgêneros Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor que fizeram a boa fama do filme entre críticos e frequentadores de festivais. Na véspera de Natal, Sin-Dee (Kitana) zanza com a amiga Alexandra (Mia) pela cidade atrás do namorado/cafetão que a traiu.
Teyonah Parris (“Chi-Raq”)
Versão contemporânea da peça grega “Lisístrata”, de Aristófanes, o novo trabalho de Spike Lee ainda não tem data de estreia no Brasil. Lá fora, tem sido elogiado pelo forte engajamento em questões raciais: o longa emoldura um movimento feminino provocado pela violência nas ruas de Chicago. Teyonah Parris é a grande revelação do longa.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Gugu Mbatha-Raw (“Um Homem Entre Gigantes”)
Lançado nos EUA durante o Natal e previsto para chegar ao Brasil em 3 de março, o filme rendeu críticas mornas na imprensa americana. Ainda assim, a inglesa Gugu Mbatha-Raw, do recente hit cult “Nos Bastidores da Fama”(2014), teve performance bastante elogiada.
Tessa Thompson (“Creed – Nascido para Lutar”)
Revelada pela esperta comédia “Querida Gente Branca” (2014), Tessa faz o par romântico do personagem-título em “Creed”. Ela entrega uma performance sensível ao viver uma cantora independente que luta contra um problema de audição.
MELHOR ATOR
Abraham Attah (“Beasts of No Nation”)
A Academia adora esboçar espírito “olheiro” e indicar atores mirins à estatueta. Desperdiçou uma ótima chance ao ignorar o garotinho de “Beasts of No Nation”, nascido em Gana. Ele atuou pela primeira vez na vida neste pesado drama de guerra ambientado na África.
Michael B. Jordan (“Creed – Nascido para Lutar”)
Outro clichê do Oscar que a Academia estranhamente dispensou: atores envolvidos em dramas de boxe. Robert De Niro ganhou pela performance icônica em “Touro Indomável” (1980) e, em tempos recentes, Christian Bale por “O Vencedor” (2010). Se estendermos a modalidade para a luta livre, Mickey Rourke renasceu em “O Lutador” (2008), também indicado. Michael B. Jordan segue a cartilha à risca, com uma poderosa presença de tela. E foi preterido.
Samuel L. Jackson (“Os Oito Odiados”)
As várias parcerias de Jackson com Tarantino só renderam uma indicação ao Oscar – por ator coadjuvante em “Pulp Fiction” (1994). Em “Os Oito Odiados”, ele vive o Major Marquis Warren, um personagem que inunda a trama com ar ao mesmo tempo ameaçador e gentil, calmo e explosivo. Passou batido pela Academia.
Will Smith (“Um Homem Entre Gigantes”)
O filme (“Ali”) pelo qual o astro merecia ter vencido o Oscar teve forte concorrência. Em 2002, perdeu para Denzel Washington (“Dia de Treinamento”). Em “Um Homem Entre Gigantes”, Smith interpreta um patologista que descobre uma ligação entre danos cerebrais e as concussões sofridas por atletas do futebol americano. Indicado no Globo de Ouro, esquecido no Oscar.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Idris Elba (“Beasts of No Nation”)
A indicação ao Globo de Ouro deu esperanças de que o talentoso Idris Elba (“Círculo de Fogo”) pudesse chegar ao Oscar. Além de ter perdido a chance de alavancar a carreira do inglês em Hollywood, a Academia também desperdiçou a oportunidade de quebrar paradigmas e colocar na premiação o primeiro filme assinado pelo canal de streaming Netflix.
Jason Mitchell (“Straight Outta Compton”)
O carismático elenco da cinebiografia tem até O’Shea Jackson Jr. no papel do pai, Ice Cube. Mas o verdadeiro talento de “Straight Outta Compton” é Jason Mitchell. No papel de Eazy-E, ele entrega uma atuação divertida e trágica ao registrar os excessos e ingenuidades do rapper. O MC faleceu aos 30 anos, apenas um mês depois de descobrir ser portador da Aids