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Três razões para acreditar que “Aquarius” pode se dar bem em Cannes

Filme de Kleber Mendonça Filho é o representante brasileiro na competição do Festival de Cannes. Evento começa nesta quarta (11/5) e segue até 22 de maio

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SBS Distribution/Vitrine Filmes
Aquarius, de Kleber Mendonça Filho
1 de 1 Aquarius, de Kleber Mendonça Filho - Foto: SBS Distribution/Vitrine Filmes

É sempre arriscado falar de um filme do qual sequer ainda temos um trailer. Mas a seleção de “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, para a competição do Festival de Cannes gera uma inegável empolgação. Uma das coisas mais interessantes da disputa pela Palma de Ouro é a intensa especulação de cinéfilos em torno de quem vencerá o prêmio. Poucos vão a Cannes, mas muita gente adora apontar seus favoritos.

Mendonça Filho não é exatamente um novato no festival. Vai ao evento há quase duas décadas e lá, na função de jornalista e crítico de cinema, se tornou uma das principais fontes de informação para os cinéfilos brasileiros. Após conquistar a crítica internacional com “O Som ao Redor” (2012), o cineasta participa como competidor. E, vá lá, não custa nada teorizar sobre as chances de “Aquarius” no litoral francês:

 

Victor Jucá/Cinemascópio

Cannes gosta de premiar quem nunca ganhou
A cota de “medalhões” abocanha boa parte dos 21 indicados à Palma de Ouro. Do experiente Ken Loach ao “garoto” Xavier Dolan, passeiam pela seleção Pedro Almodóvar, Jim Jarmusch, Olivier Assayas, Bruno Dumont, os irmãos Dardenne e vários queridinhos recentes, como Cristian Mungiu e Nicolas Winding Refn. Vale lembrar: Paul Verhoeven, de “Elle”, mal foi selecionado e já desfila como favorito por alguns especialistas de plantão.

Apesar de sempre colocar seus 10 ou 12 dinossauros na corrida pela Palma, o festival gosta de dar prêmios inéditos. Desde que o tailandês Apichatpong Weerasethakul venceu por “Tio Boonmee” (2010), os júris consagraram Terrence Malick (“A Árvore da Vida”), Abdellatif Kechiche (“Azul É a Cor Mais Quente”), Nuri Bilge Ceylan (“Winter Sleep”) e Jacques Audiard (“Dheepan”).

Victor Jucá/Cinemascópio

A adoração por “O Som ao Redor” e a expectativa por “Aquarius”
Retrato de uma Recife paranoica e tensa, “O Som ao Redor” rodou por festivais e terminou o ano de 2013 na lista de melhores filmes do ano do jornal The New York Times. Para 2016, a revista Cahiers du Cinéma apontou Aquarius como um dos longas mais aguardados do ano.

Desde os tempos de curta-metragem, quando rodou gemas como “Recife Frio” (2009), Kleber Mendonça Filho é muito querido pela crítica (brasileira e estrangeira). Só o fato de ter sido selecionado para o festival já pode significar um prêmio para o pernambucano, que está apenas em seu terceiro longa. Se “Aquarius” se confirmar como um filme tão urgente e contemporâneo quanto “O Som ao Redor”, pode sair do festival com prêmios importantes – e, quem sabe, com a Palma.

Victor Jucá/Cinemascópio

Brasil contemporâneo + cinema de arte/de gênero
Talvez o aspecto mais chamativo de “O Som ao Redor” seja o constante trânsito de Mendonça Filho entre um cinema tipicamente contemporâneo (alegórico e realista) e a estilização dos filmes de gênero. Nesse sentido, as fantasias urbanas de John Carpenter, como “Assalto à 13ª DP” (1976) e “Eles Vivem” (1988), parecem imprimir uma influência quase que espiritual na obra do pernambucano.

O recifense junta essas duas vertentes para falar sobre o que conhece: Recife, a especulação imobiliária, o processo de verticalização da cidade, diferenças de classe e medos urbanos. Um tema presente em “O Som ao Redor” retorna em “Aquarius”: o duelo entre cidade e gente. Sônia Braga vive uma jornalista aposentada que mora no prédio Aquarius, localizado na praia de Boa Viagem. Uma construtora planeja demolir o edifício.

Eis um detalhe interessante, omitido na maioria dos textos sobre o filme antes da ida para Cannes: a escritora vivida por Sônia Braga pode viajar no tempo. Se “O Som ao Redor” funciona como um suspense urbano, seria “Aquarius” uma ficção científica? Esse elemento de cinema de gênero pode muito bem convencer o júri, presidido por um sujeito que faz… cinema de gênero, o australiano George Miller (“Mad Max – Estrada da Fúria”).

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