Três filmes em finalização mostram Brasília de formas distintas
As produções que acabam de ser filmadas têm cenas ambientadas na capital federal. Só devem estrear entre 2019 e 2020
atualizado
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Os espaços abertos e o urbanismo inconfundível de Brasília fazem da capital federal um cenário digno de cinema. Esse potencial tem sido mais bem explorado de uns tempos para cá, com várias produções sendo rodadas na cidade. Na última quinta (30/8), por exemplo, estreou a comédia O Candidato Honesto 2, com cenas gravadas por aqui. Mas há pelo menos três filmes de diretores do DF em pleno processo de finalização e pós-produção.
Todos tiveram locações escolhidas e apontadas pelo produtor Fernando Toledo, que também trabalhou em O Candidato Honesto 2. “Foi um desafio grande devido às épocas distintas que eles retratam Brasília. O Candidato se passa nos dias atuais. Eduardo e Mônica é na década de 1980. Pureza traz o momento em que a personagem veio à cidade nos anos 1990. Em Capitão Astúcia, a época não é muito definida”, explica.
Casa do festival de cinema mais antigo e tradicional do Brasil, Brasília recebeu investimento público de R$ 22.702.543,10 para 71 projetos no mais recente edital do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o segundo de 2017, publicado no começo de 2018.
O longa Pureza, inspirado na história de Pureza Lopes Loiola, ilustra um tema gravíssimo e infelizmente pouco debatido nas pautas dos candidatos durante o período eleitoral: a luta contra condições de trabalho análogas às de escravo.
Nos anos 1990, Pureza, interpretada no longa de Renato Barbieri por Dira Paes (ambos na foto do alto), descobriu uma rede de fazendas praticando trabalho escravo ao procurar seu filho desaparecido na Amazônia. As denúncias chegaram às autoridades. Hoje, porém, a realidade é outra.
“Em 1995, abolicionistas e Pureza conseguiram fazer com que o estado brasileiro reconhecesse a escravidão contemporânea. Para combatê-la, teria que criar políticas públicas”, explica o cineasta.
“Mas o Brasil passou de referência internacional, com a melhor política de combate, para um momento hoje de retrocesso, com verbas minguando, pouca renovação de quadros e capacitação. Num estado democrático, seria trair a Constituição não combater a escravidão”, reflete.
As gravações do longa se estenderam por seis semanas em Marabá (Pará). Em Brasília, as filmagens duraram uma semana, mas registraram vários pontos da cidade, como Congresso Nacional, Itamaraty, cenas de rua na L2, aeroporto e ponte Honestino Guimarães.
“Brasília nos oferece os anos 1990 com bastante fidelidade. Dá para filmar com tranquilidade, sem muita intervenção. Tudo de uma maneira bem recortada, tentando evidenciar a época”, diz Barbieri. Pureza se passa entre 1994 e 1995.
Em 2019, a produção deve circular por festivais internacionais e nacionais. Só deve estrear nos cinemas comerciais no ano seguinte.
Super-herói da capital
Descrito como uma mistura de Dom Quixote e Capitão América, o personagem principal de Capitão Astúcia (Fernando Teixeira) ama aproveitar a vida. Sua cabeça sempre fervilha com novas ideias de aventura. Desta vez, porém, ele precisa ajudar o filho e o neto, um pianista frustrado.
Em seu primeiro longa, o diretor Filipe Gontijo chama a cidade onde a história é ambientada apenas de Capital. “É uma outra Brasília, alternativa e fantasiosa”, explica. “Ela tem um papel importante. Mas não quisemos fazer um filme ‘clássico’ de Brasília. Não tem superquadra ou Esplanada”, continua.
A associação aos super-heróis não veio por acaso. Gontijo procurou afinar uma linguagem que misturasse intimismo, referências dos anos 1980 e efeitos especiais. “Temos que viabilizar esse visual na pós-produção. Tem partes filmadas em fundo verde. O gênero do filme pediu um pouco disso”, detalha.
Capitão Astúcia deve estrear no final do segundo semestre de 2019. Um pouco antes, em setembro, Gontijo espera ser selecionado para o Festival de Brasília.
Universo cinematográfico de Renato Russo
Cinco anos após Faroeste Caboclo, o brasiliense René Sampaio chega ao segundo filme de sua trilogia inspirada no universo do líder da Legião Urbana: Eduardo e Mônica. Deve estrear no segundo semestre de 2019.
Vários detalhes do projeto vêm sendo mantidos em segredo pela produção do longa. “Falar sobre um filme que ainda está sendo rodado é como falar sobre um livro enquanto ele está sendo escrito, ou sobre uma matéria de jornal enquanto ela está sendo apurada”, explica o cineasta.
Mas Sampaio abre o jogo sobre as locações que devem entrar na adaptação da canção em filme. Os brasilienses vão identificar vários pontos da capital ao longo da história. A casa de Eduardo é no Setor Militar Urbano. O galpão de Mônica, no SIA. Outros espaços: UnB, Defer, Teatro Nacional, Lago Norte, obras no Noroeste, Parque da Cidade, bar Beirute, HFA, entrequadras (como a 308 Sul), Chapada, entre outros lugares.
Sampaio não vê outra maneira de tratar Brasília senão como uma personagem do filme, formando um triângulo amoroso com o casal.
“Tem toda uma magia, uma mítica da cidade, dos seus espaços, do tipo de gente e relação que se constrói e num período muito específico dos anos 80 que são indissociáveis. É uma combinação única: um cineasta brasiliense falando de uma música brasiliense lançada por uma banda brasiliense, sobre uma história também brasiliense rodada em Brasília”, orgulha-se.