Suspense “Para Minha Amada Morta” desliza no excesso de sugestão
A sessão de sexta (18/9) ainda trouxe os irregulares curtas “Cidade Nova” e “Copyleft”
atualizado
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“Para Minha Amada Morta” (PR, 113min), de Aly Muritiba
O primeiro longa (foto no alto) de Aly Muritiba é todo construído por meio da sugestão. Fernando, vivido por Fernando Alves Pinto, trabalha como fotógrafo para a Polícia Civil. Todas as noites, ele coloca o filho pequeno para dormir e revive a presença da esposa morta através de seus vestidos e sapatos. Essa obsessão se agrava quando ele descobre uma série de sextapes em VHS da mulher. Atento aos detalhes, investiga as imagens para descobrir a identidade do homem com quem ela o traía.
Até certo momento, o filme se desenvolve como um thriller procedural à la, por exemplo, “Garota Exemplar” ou o nacional “O Lobo Atrás da Porta”: o suspense se infiltra na história por meio de ações comedidas, como uma sorrateira perseguição a pé a Salvador, o amante. Mas essa constante dependência da sugestão ergue arestas que embrutecem a história por meio do excesso de estilização.
Dois planos longos ilustram bem esse desequilíbrio. Morando na casa dos fundos de Salvador, um homem da periferia, evangélico e casado e com duas filhas, Fernando certa noite chama o novo “amigo” para conversar. Com uma pá na mão, tem-se a impressão de que, a qualquer momento, ele irá golpear Salvador. Em vez disso, ele fere o chão, retirando entulho.
Em outro momento, os dois se reúnem na cozinha após um acidente que matou o cachorro de Salvador. O proprietário da casa descobriu uma pistola nos pertences do inquilino. Fernando pega uma faca e… descasca uma laranja. Some essas cenas bonitas e ocas, em que a sugestão é confundida com superexposição, com as frequentes investidas falsas do fotógrafo junto à esposa e à filha adolescente de Salvador. O resultado é um suspense tão envolvente quanto implausível.
Avaliação: Regular
Os curtas da sexta (18/9)
“Cidade Nova” (CE/DF, 14min), de Diogo Hoefel
O brasiliense João Campos interpreta aqui um personagem mui conhecido de filmes de festival: o homem oprimido pela cidade em que vive. Em “Cidade Nova”, essa angústia é tratada com pouquíssima imaginação visual, numa tentativa de suprir a falta de falas por meio de passagens aparentemente “sensoriais”.
Ele chega uma cidade no interior do Ceará, tenta se aproveitar da recepcionista da pousada onde está hospedado e bebe até tarde, sentado na calçada. Outro lugar-comum é a já esperada catarse durante uma cena sob o chuveiro. “Cidade Nova” quer ser tão sutil que acaba emperrado pela simples falta de presença.
Avaliação: Ruim
“Copyleft” (MG, 29min), de Rodrigo Carneiro
Incensado pela manifestação do diretor antes da sessão, num protesto inflamado contra a homofobia e a intolerância, “Copyleft” funciona como uma espécie de manifesto sobre a necessidade do desbunde. É uma ficção científica minimalista, em que um jovem se vê reprimido por uma sociedade heteronormativa e severa quanto aos limites da sexualidade.
“Copyleft” passa a, então, registrar Pedro cometendo uma série de atos violentos contra o próprio corpo, numa tentativa de mortificar sua verdadeira identidade. Apesar da atualidade do discurso, que não teme enquadrar essa angústia por meio de cenas chocantes e explícitas, Carneiro desbrava a intimidade do personagem de maneira um tanto obtusa. O roteiro verborrágico e a montagem esquizofrênica se interpõem entre o filme e seu posicionamento libertário.
Avaliação: Regular
Fotos: Divulgação