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“Star Wars – O Despertar da Força” busca inspiração no passado para renovar a saga

Estreia mais aguardada de 2015, sétimo capítulo da franquia galáctica apresenta novos heróis e reúne velhos conhecidos numa busca frenética por Luke Skywalker

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Walt Disney/Divulgação
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1 de 1 Walt Disney/Divulgação - Foto: Walt Disney/Divulgação

As luzes de um planeta cintilante são tapadas por uma colossal nave já no primeiro plano de “Star Wars – O Despertar da Força”. No novo capítulo da saga galáctica – e familiar, como George Lucas certa vez lembrou –, o diretor J.J. Abrams não perde tempo com formalidades. A disputa entre o lado bom e mau da força é delineada logo na metafórica cena de abertura.

Trinta anos após os acontecimentos de “O Retorno de Jedi” (1983), o universo parece vagar à espera de alguém que o lidere. Luke Skywalker (Mark Hamill) sumiu há décadas e as duas partes querem encontrá-lo – para fins distintos. Leia (Carrie Fisher), agora General da Resistência, nova formação assumida pelos rebeldes, envia o talentoso piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) ao planeta Jakku. Lá, ele obtém um mapa que pode fornecer a localização de Luke.

O nascimento de novos heróis e vilões (com alguns spoilers)
Esse estado de coisas frágil e inseguro se infiltra nos novos personagens da saga. Kylo Ren (Adam Driver), fã confesso de Darth Vader, sofre pressões constantes do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), um misterioso (e enorme) mago, e trava disputas internas com o General Hux (Domhnall Gleeson). Erguida sobre os escombros do Império, a Primeira Ordem ainda inspira medo com suas frotas de caças e sua horda (algo nazista) de obedientes stormtroopers.

Mas Ren nem de longe lembra a frieza de Vader. Ele é jovem, costuma destruir o que estiver pela frente quando as coisas saem do controle e sente atração pelo lado luminoso da força. Até seu sabre de luz, em forma de tridente, exibe um laser fugidio, arredio. No outro extremo, os personagens também são atléticos e inexperientes.

Rey (Daisy Ridley), uma simples catadora de lixo, esbarra com o droide BB-8 em meio à imensidão desértica de Jakku. O robô carrega o mapa que lhe foi confiado por Poe antes de o piloto ser capturado por Ren. Quem possibilita que a jornada continue é Finn (John Boyega). Numa sacada inédita na franquia, Abrams utiliza a genérica e cômica figura dos stormtroopers para daí extrair um novo herói. Órfão tal qual Rey, Finn decide largar o uniforme e participar dos atos da Resistência.

Kylo Ren e seu batalhão de stormtroopers: vilão inseguro e destemperado. Foto: Walt Disney/Divulgação
Kylo Ren e seu batalhão de stormtroopers: vilão inseguro e destemperado. Foto: Walt Disney/Divulgação

 

Os dois lados da nostalgia: um vislumbre do futuro e a repetição de ideias
“O Despertar da Força” chega com a promessa de resgatar a magia dos filmes originais, supostamente perdida por meio de eventos que ainda dividem os seguidores: a trilogia (1999-2005) sobre a origem de Darth Vader, alvo favorito de paródias e zoações (pobre Jar Jar Binks), e os retoques digitais feitos por Lucas nos primeiros longas.

A volta de Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca aos dias de rebeldia e improviso supersônico a bordo da Millennium Falcon converte qualquer ateu, mas o episódio VII também parece pagar pelo passadismo. Nesse gesto entre amigos, de um fã (Abrams) trocando suas citações e passagens favoritas com outros (milhões de) fãs, quase tudo soa derivativo: a Falcon a despistar caças do mal, uma sequência ambientada num bar lotado de alienígenas de tamanhos e cores diversos, e a Starkiller, versão anabolizada da Estrela da Morte, varrendo do mapa planetas e populações inteiras.

“O Despertar da Força” tenta inaugurar uma nova era para a saga de uma maneira reverente – sobretudo a “Uma Nova Esperança” (1977) – e confortável. Abrams parece mais preocupado em obedecer à mitologia do que emprestar algumas de suas marcas visuais à franquia – as típicas luzes estouradas do diretor, fartas em seus dois “Star Trek”, são raras por aqui.

Chewie e Han Solo: de volta aos velhos tempos de rebeldia e improviso. Foto: Walt Disney/Divulgação.
Chewie e Han Solo: de volta aos velhos tempos de rebeldia e improviso. Foto: Walt Disney/Divulgação.

 

Ainda assim, a narrativa é capaz de certos encantos: vasculha e relê, com o carisma dos novos personagens, o que havia de melhor na trilogia original – do humor ingênuo dos droides R2-D2 e C-3PO aos dramas familiares. O sétimo episódio também exala simpatia por um fator puramente técnico – é mais um filme da temporada que foi rodado em película, em oposição à fotografia digital de Lucas usada na nova trilogia. Não que isso signifique imediata qualidade: o visual de “A Ameaça Fantasma” (1999), “Ataque dos Clones” (2002) e “A Vingança dos Sith” (2005) ainda é bastante subestimado.

Se o mero saudosismo não soa suficiente para que tenhamos um novo “O Império Contra-Ataca” (1980), momento máximo da saga, é porque certos conceitos da franquia merecem ser relativizados. Talvez a trilogia feita entre 1999 e 2005 não seja assim tão infantil – a comédia de fácil assimilação e o clima de novela espacial estão presentes desde os originais.

O primeiro “Star Wars” assinado pela Disney não merece o status messiânico que tem recebido, até porque este é um produto que nunca parou de formar novos seguidores (e consumidores). “O Despertar da Força” marca o início seguro (e, sim, divertido à beça) de uma nova era da eterna batalha entre bem e mal – e entre pais e filhos com conflitos que mal cabem num universo só.

Avaliação: Bom

Veja salas e horários de “Star Wars – O Despertar da Força”.

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