Snyder Cut: como fãs de Liga da Justiça criaram um novo fenômeno pop
A versão de Liga da Justiça do diretor Zack Snyder nasce de pedido de fãs e supera criação original
atualizado
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A versão do diretor Zack Snyder de a Liga da Justiça (conhecida como Snyder Cut), que estreou na última quinta-feira (18/3), criou um marco moderno na cultura de fãs: a produção só existe por conta de uma intensa mobilização dos fãs da DC nas redes sociais. Durante anos e meses, a campanha #releasethesnydercut (liberem o corte de Snyder, em tradução livre) dobrou a Warner Bros. e criou um fenômeno pop.
No Brasil, o filme (com quatro horas de duração) foi comercializado por R$ 49,90 em plataformas de locação on-line. Os dados preliminares indicam o sucesso: somente no NOW, Liga da Justiça de Zack Snyder teve uma performance 140% maior que o antigo recordista da plataforma (Mulher Maravilha 1984).
Mas, por que uma nova versão de um filme exibido em 2017, gera ainda tamanha comoção? Para entender isso, é preciso voltar no tempo. Há poucos meses da estreia de Liga da Justiça – grupo de heróis que reúne Superman (Henry Cavill), Batman (Ben Affleck), Mulher-Maravilha (Gadot), Aquaman (Jason Momoa), Ciborgue (Ray Fisher) e Flash (Ezra Miller) – Zack Snyder abandonou o projeto por conta de problemas familiares.
Assim, Joss Whedon assumiu o projeto e, ao lado da Warner Bros., mudou boa parte da produção. Whedon, que vinha de Os Vingadores (2012) e Vingadores: Era de Ultron, rompeu com a narrativa criada pelo colega, refilmou cenas (com direto a uma bizarra remoção digital de bigode de Henry Cavill) e lançou uma produção de duas horas.
O resultado foi um fracasso de bilheteria (levando-se em conta as gigantescas cifras esperadas em blockbusters de super-heróis) e de crítica – com apenas 23% de resenhas positivas, segundo o Rotten Tomatoes. Fãs da DC, então, creditaram a decepção ao novo diretor e iniciaram pedidos para o lançamento da versão de Zacl Snyder.
O que parecia apenas uma onda de internet virou um grande movimento e fez a Warner Bros. repensar: outro incentivo foi o surgimento da plataforma de streaming HBO Max – que chega ao Brasil em junho deste ano. Nos EUA, o Snyder Cut virou o principal produto do serviço.
Fãs na era digital
A existência de cortes do diretor não é uma novidade no mercado cinematográfico, um caso muito lembrado é a versão de Ridley Scott para Blade Runner (1973) lançada em 1991. Nem mesmo o envolvimento de fãs nesses processos é inédito, a grande novidade do Snyder Cut reside na velocidade. É o que explica Alexandre Kieling, pesquisador do Mestrado de Inovação em Comunicação e Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília (UCB).
“O que há de novo nesse frenesi dos fandons? É a velocidade de interação entre eles e as estruturas de produção cinematográficas em razão das mídias e das redes sociais. Quando se trata da DC Comics (Warner), ou mesmo da Marvel (Disney), grandes produtoras e realizadoras dessa temática que se inspira nos super-heróis dos quadrinhos, o nível de engajamento, sobretudo, dos jovens é imenso”, aponta o especialista.
Kieling também aponta que o próprio diretor soube surfar nesta onda, após as críticas à versão de Whedon.
“A resposta de Snyder foi anunciar, em 2019, que tinha um corte dele e que dependia da Wanner para o lançamento. Foi o combustível necessário para ampliar a pressão dos fãs. Esse é o fato: as produtoras usaram de todas as estratégias para engajar seus públicos e as novas tecnologias. A partir desse fenômeno, constituem com força de pressão imediata. A indústria do entretenimento sempre soube jogar com seus públicos tendo o controle do processo. Agora tem que apreender a negociar e administrar sim as redes sociais e esse relacionamento digital”, conclui o pesquisador.