Saudosismo mal conduzido estraga “007 Contra Spectre”
Uma das estreias desta quinta (5/11), novo filme de James Bond coloca o espião no encalço da Spectre, uma organização terrorista que põe em risco o futuro do agente secreto
atualizado
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O frequente ar de cansaço de James Bond em “007 Contra Spectre” obviamente não deve ter algo a ver com o enfado de Daniel Craig. Mas, já que a carranca da persona ajuda, cabe o paralelo. Enquanto, fora da tela, o ator já disse que prefere cortar os pulsos a encarnar o espião pela quinta vez, a trama também parece gasta, tão fatigada por vilões cada vez mais vis quanto pela necessidade de, a cada filme, abater e reerguer o personagem.
Com ambições desmedidas – conectar os três anteriores com este e, de quebra, revisitar o passado da saga –, o diretor Sam Mendes (do anterior, “Operação Skyfall”) tenta se valer de um truque recorrente dos estúdios: reduzir o herói a quase nada, torná-lo um pária e, assim, reconstruir a mitologia se cercando de flertes com o passado da franquia.
A galeria de vilões dos três capítulos anteriores surge já na vinheta de abertura do filme, embalada pelo fraco tema cantado por Sam Smith. Bond, M (Ralph Fiennes), Q (Ben Whishaw) e Moneypenny (Naomie Harris) parecem viver os últimos dias do programa 00: em busca de um serviço de inteligência mais dependente da precisão de drones e menos da falta de pontualidade dos agentes, uma cooperação internacional coloca o futuro dos espiões em risco.
Passadista, mas sem classe
Aqui, reaparece a Spectre, organização criminosa que não dava as caras nos filmes de Bond desde “007 – Os Diamantes São Eternos” (1971). O ressurgimento de Ernst Stavro Blofeld (Christoph Waltz), um vilão clássico da franquia, também confere um tom de retorno às origens do personagem.
Não há pecado no simples saudosismo, mas sim na condução desse revival. Ao tentar combinar o realismo sombrio e violento de “Cassino Royale” (2006), “Quantum of Solace” (2008) e “Skyfall” (2012) com um resgate de elementos clássicos da saga, Mendes realiza um filme obtuso, arrastado e esburacado por ciladas de roteiro.
Nem a figura da Bond girl sai ilesa: Lucia Sciarra (Monica Bellucci) é relegada a um par de cenas de sedução gratuitas e Madeleine Swann (Léa Seydoux, de “Azul É a Cor Mais Quente”), com mais tempo de tela, meramente espera pelo confronto final entre Blofeld e 007. Talvez Bond tenha razão em manter a cara emburrada por duas horas 30 minutos de filme: o espião anda mesmo precisando de uma folga.
Avaliação: Regular
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