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Projeto “Brasil: DNA África” investiga a origem dos afrodescendentes e a importância dos africanos na construção do Brasil

Série de cinco documentários mostra como a chegada de milhões de africanos teve forte influência nas artes, na religião, na culinária e na formação do povo brasileiro

atualizado

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Lia de Paula/MinC
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É comum e natural que as pessoas busquem informações de onde vieram. Às vezes, um sobrenome indica raízes na Itália, em Portugal ou na Espanha. Porém, essa busca fica bem mais difícil quando se trata do vínculo com a África. Quando os negros escravizados chegaram ao Brasil, lhe foram impostos novos nomes e sobrenomes que deixavam o passado para trás, como se eles passassem a existir somente partir de então. Ou deixavam de existir, no caso.

Pensando em investigar a origem dos afrodescendentes e a importância dos africanos na construção do Brasil, foi criado o “Brasil: DNA África”, em fase de produção pela Cine Group. A série de cinco documentários vai mostrar como a chegada de milhões de africanos teve forte influência nas artes, na religião, na culinária e na formação do povo brasileiro.

Em busca das origens
A ideia de criar o projeto surgiu quando Mônica Monteiro — diretora executiva da produtora — ganhou um atlas sobre o comércio transatlântico de escravos. Esse livro tinha informações sobre os estados brasileiros que receberam escravos e de onde eles vieram.

Isso inspirou a ideia de convidar 150 brasileiros dos cinco estados — Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão, Minas Gerais e Pernambuco — que mais receberam africanos escravizados para realizar um teste de DNA.

Apoiado numa base de dados com registros de 220 etnias, o laboratório norte-americano African Ancestry comparou as estruturas de DNA dos africanos e dos brasileiros. Cinco deles tiveram a chance de participar da etapa seguinte do “Brasil: DNA África”: ter a identificação do seu povo ancestral e a possibilidade de viajar até o continente africano para conhecer a terra dos antepassados.

Ex-presidente da Fundação Cultural Palmares e atual diretor da Fundação Pedro Calmon, o baiano Zulu Araújo (foto) se surpreendeu ao descobrir que vinha do povo tikar, da República dos Camarões.

Reprodução/InternetUma das sócias do {Project Tribe}, que conecta mulheres por meio de histórias e elementos simbólicos como turbantes, a carioca Juliana Luna (foto ao lado) foi para a Nigéria, conhecer os povos iorubá e fulani.

Os outros integrantes da segunda parte do projeto foram o jornalista Raimundo Garrone (MA), o professor e percussionista Levi Lima (PE) e o músico Sérgio Pererê (MG). Cada um deles teve suas histórias e memórias resgatadas em Guiné-Bissau (povo balanta); em Moçambique (makua); e em Angola (Mbundu) e na Guiné-Bissau (povos Djola), respectivamente.

Zulu e Juliana contaram, em entrevista à “BBC Brasil”, suas impressões sobre o continente africano. Confira:

“Ao participar do projeto ‘Brasil: DNA África’ e descobrir que era do grupo étnico tikar, fiquei surpreso. Na Bahia, todos nós especulamos que temos ou origem angolana ou iorubá. Eu imaginava que era iorubano. Mas os exames de DNA mostram que vieram ao Brasil muito mais etnias do que sabemos. A viagem me completou enquanto cidadão. Se qualquer pessoa me perguntar de onde sou, agora já sei responder. Só quem é negro pode entender a dimensão que isso possui. Acho que os exames de DNA deveriam ser reconhecidos pelo governo, pelas instituições acadêmicas brasileiras como um caminho para que possamos refazer e recontar a história dos 52% dos brasileiros que têm raízes africanas. Só conhecendo nossas origens poderemos entender quem somos de verdade”,  Zulu Araújo.

“Quando o exame no projeto ‘Brasil: DNA África’ mostrou que eu descendia dos iorubás, da Nigéria, não acreditei. Já fazia algum tempo que eu vinha dando oficinas sobre como montar turbantes. E quem me ensinou a fazê-los foi uma família iorubá que conheci em Boston (EUA). Lá (Nigéria) também ouvi que, independentemente da cor da pele, somos todos conectados e existe um fluxo de consciência coletiva. Não é porque não sou judia que não vou sentir empatia pelo que os judeus sofreram no Holocausto. Quando você se coloca no lugar do outro, deixa de ser você e passa a ser o outro. É isso o que nos falta na questão do negro. Se cada um buscar essa conexão, assumir sua responsabilidade e pedir perdão, veremos que estamos todos no mesmo barco.” Juliana Luna

Os cinco episódios de 52 de minutos ainda estão em fase de finalização e em processo de negociação. Por isso, não está confirmado qual canal transmitirá os programas. Em breve, a Rede Globo exibe nos canais aberto e fechados (Globo News e Canal Brasil) uma versão de 80 minutos com trechos dos cinco capítulos originais.

Veja o trailer do projeto:

Também participaram do teste de DNA:

Bahia
João Jorge, presidente do Olodum
Antônio Carlos, vovô do Ilê, presidente do Ilê Aiyê
José Carlos Capinam, compositor
Tonho Matéria, ator, cantor e capoeirista
Dody Só, ator e cantor
Zebrinha, coreógrafo e bailarino
Margareth Menezes, cantora

Rio de Janeiro
Martinho da Vila, cantor
Miriam Leitão, jornalista
Flávia Oliveira, jornalista de O Globo
Ancelmo Góis, O Globo
Luciana Barreto, jornalista TV Brasil
Luiz Melodia, cantor
Astrid Fontenelle, apresentadora
Benedita da Silva, política
Zezé Motta, atriz
Ana de Hollanda, cantora
Antonio Pitanga, ator
Juliana Luna, Tribe Project, blogueira
Selminha Sorriso, passista

Maranhão
Alcione, cantora
Apolônio Melônio, artista popular do Bumba meu boi
Fernando Abreu, compositor

Minas Gerais
Fernando Brant, compositor
Tavinho Moura, músico
Toninho Horta, músico

Pernambuco
Lepê Correa, pesquisador tradições culturais
Lia do Itamaracá, cantor
Lúcia dos Prazeres, escritora
Isaar, cantora
João Monteiro, historiador
Nando Cordel, músico

 

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