Por que Marighella, filme com Seu Jorge, demorou tanto para estrear?
Além da pandemia de Covid-19, filme dirigido por Wagner Moura enfrentou uma série de problemas com a Ancine
atualizado
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Após anos de imbróglio, Marighella finalmente estreará no Brasil. O filme, aplaudido de pé no Festival de Berlim de 2019, foi marcado por uma série de adiamentos: a previsão era que ele chegasse ao público há dois anos, mas por causa de problemas com a Agência Nacional do Cinema e, posteriormente, da pandemia de Covid-19, ele só chega às telonas de algumas cidades nesta quarta-feira (27/10), em pré-estreia, e em 4 de novembro, em pelo menos os 300 salas espalhadas pelo país.
Baseado na biografia homônima de Mário Magalhães, publicada em 2012, a produção conta a história do poeta, escritor e guerrilheiro Carlos Marighella, protagonista na luta contra a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Wagner Moura, que estreia como diretor no longa, acredita que a temática é um dos principais motivos do adiamento.
“Não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado. As negativas da Ancine para o lançamento e, depois, o arquivamento dos nossos pedidos não têm explicação. E isso veio numa época em que o Bolsonaro falava publicamente sobre filtragem na agência, que filmes como Bruna Surfistinha eram inadmissíveis, que não ia dar dinheiro para financiar filmes LGBT”, disse o ator e cineasta em entrevista à Folha de S. Paulo, no último fim de semana.
O primeiro adiamento, da estreia marcada para 20 de novembro de 2019, ocorreu porque a equipe do filme não conseguiu cumprir a tempo os trâmites exigidos pela Ancine para a liberação de verbas que já tinham sido usadas na produção e precisavam ser ressarcidas.
Antes, a O2 havia entrado com um recurso na Ancine solicitando a liberação de verbas para a comercialização do filme antes da assinatura efetiva do contrato com o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), mas o recurso foi negado. Em outra apelação, os produtores também pediam ressarcimento de despesas pagas com dinheiro da produtora no valor de mais de R$ 1 milhão, por meio do mesmo mecanismo, o que também foi recusado.
O lançamento, então, foi adiado para maio de 2020 e, posteriormente, para abril do ano seguinte. A pandemia de Covid-19, contudo, atrapalhou os planos da equipe mais uma vez.
Em agosto de 2021, outro susto: o setor de análise técnica e seleção de projetos da Ancine encaminhou o projeto de lançamento comercial do filme Marighella para arquivamento, alegando que a O2 havia desistido do processo. A produtora negou que tivesse feito qualquer comunicação nesse sentido e, horas depois, a agência alegou ter havido um erro, além de admitir uma nova inscrição para o filme.
Mas quem é Marighella?
O personagem histórico, interpretado no longa por Seu Jorge, nasceu em Salvador, em 1911, e tinha outros sete irmãos. Filho de uma mulher negra, descendente de escravos, com um pai imigrante italiano, Marighella conseguiu romper as dificuldades e ingressar na Escola Politécnica da Bahia, onde conheceu o movimento estudantil. Aos 23 anos, se tornou o líder da luta comunista e passou a ser alvo da repressão.
Em 1937, foi preso e torturado por fazer oposição ao regime de Getúlio Vargas. Ele acabou sendo solto pouco tempo depois, mas após um curto período na clandestinidade, voltou à prisão, onde permaneceu por seis anos. Em 1945, com o fim do Estado Novo, conseguiu ser beneficiado com a anistia.
No período democrático, iniciado em 1945, Marighella foi eleito deputado federal pelo PCB da Bahia. O partido, contudo, foi colocado na ilegalidade na Guerra Fria, levando o baiano a perder o mandato. Ele, então, voltou para a militância e passou a atuar na clandestinidade novamente.
Quando os militares deram o golpe, em 1964, o ex-deputado rompeu com o PCB, que defendia uma luta sem armas, para fundar a Ação Libertadora Nacional (ALN). A organização se tornou a maior promotora de ações de guerrilha urbana no Brasil, como assaltos, emboscadas e sequestros. Por isso, Marighella se tornou o inimigo número 1 dos militares.
O grupo de Marighella, inclusive, foi um dos responsáveis pelo sequestro do embaixador americano no Brasil, Charles Elbrick. Um caso que ficou conhecido mundialmente.
Com o endurecimento do regime militar na época, os esforços em torno da captura de Marighella se intensificaram. Até que em 4 de novembro de 1969, ele foi morto a tiros por agentes do Dops, em São Paulo.
Em 2012, por meio da Portaria 2.780, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, oficializou a anistia post mortem de Carlos Marighella no Diário Oficial da União, anistiando assim o militante comunista.
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