Podcast Cinema Brasileiro debate importância de O Auto da Compadecida
Podcast Cinema Brasileiro recebe Simone Zuccolotto para uma conversa sobre os impactos do filme de 2000 para a retomada do cinema nacional
atualizado
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Adaptado da peça teatral de Ariano Suassuna, O Auto da Compadecida tornou-se um dos maiores sucessos do cinema nacional sob a direção de Guel Arraes. A obra, escrita em 1955, estreou primeiro na TV, em 1999, em formato de minissérie, e ganhou as salas do país no ano seguinte, equilibrando crítica social e humor. Além, claro, do carisma e da química de Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele), que vivem grandes aventuras no sertão nordestino junto a outros personagens vividos por nomes de peso, entre eles o de Fernanda Montenegro.
No quarto episódio do podcast Cinema Brasileiro, o produtor e diretor Lino Meireles conversa sobre O Auto da Compadecida com Simone Zuccolotto, jornalista, diretora, roteirista e crítica de cinema. Para além de escolhas interessantes da obra de Suassuna, como a de iniciar a história com a morte de uma cachorrinha, os dois debatem a importância do longa para a retomada do cinema brasileiro e para a valorização da cultura e das tradições locais.
“É uma história muito simples, sobre a amizade de dois malandros viradores, malandros no sentido mais carinhoso da palavra, que estão ali tentando sobreviver. São sobreviventes. A história deles diz respeito a muitos brasileiros também, sejam eles de lugares rurais ou urbanos”, pontua Zuccolotto.
A jornalista ressalta que a adaptação ajudou a recolocar a indústria brasileira em “um lugar de excelência, com salas cheias”. “Era um momento de reflorescer do cinema nacional”, destaca.
Lino propõe uma reflexão sobre a escolha de Suassuna em utilizar a comédia para retratar o sertão nordestino. “Eu acho que a grande surpresa para quem não conhecia a obra foi essa visão cômica, satírica, dos relacionamentos no Nordeste. A gente vinha de uma tradição que começa até antes do cinema novo, mas que se aprofunda nele, de enxergar o Nordeste como nosso terreno mais desigual”, salienta o cineasta.
Simone concorda que esse aspecto foi trabalhado de forma rebuscada tanto pelo autor da peça quanto pelo diretor e roteirista do filme. “As pessoas não percebem que estão rindo de uma diferença social. Tem um teor de crítica sem ser explícito, como era no cinema novo. E acho que a eficiência dele está nisso também, o filme entra ali na sua cabeça sem você nem perceber”.
Dos cinemas para a TV
Em 2023, os fãs de Chicó, João Grilo, Rosinha, Dora e outros personagens inesquecíveis de O Auto da Compadecida receberam a notícia que o clássico ganharia uma sequência “25 anos depois”, como ressaltou Selton Melo ao fazer o anúncio. O novo filme estreia em dezembro deste ano, com direção por Guel Arraes e Flávia Lacerda, com produção da Conspiração e H2O Filmes.
Assim como o filme original, a sequência de O Auto da Compadecida terá seu formato compartilhado com a TV como série, que já está em produção. A diferença é que, desta vez, a produção chega primeiro aos cinemas.
No podcast Cinema Brasileiro, Lino ressalta as particularidades das estéticas do cinema e da televisão. “Tenho lido alguns artigos da época e o filme é uma unanimidade. Mas, para não parecer perfeito, as pessoas mencionam essa estética mais televisiva, de muita luz, um diálogo mais em contraplano”, pontua.
Simone avalia que essa distinção de linguagem praticamente não existe mais e revela algumas novidades da série. “O Jorge Furtado, que é um grande parceiro do Guel Arraes, escreveu um episódio da série de TV, que é uma espécie de um flashback e não vai estar no filme”, adianta.