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“Os Dez Mandamentos – O Filme” aposta em efeitos pouco críveis e discurso moralista

Versão cinematográfica da novela da Record narra a saga de Moisés com encenação ingênua e pouco interesse em espiritualidade

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Paris Filmes/Divulgação
Paris Filmes/Divulgação
1 de 1 Paris Filmes/Divulgação - Foto: Paris Filmes/Divulgação

Endereçado ao numeroso público evangélico brasileiro, “Os Dez Mandamentos – O Filme” guarda uma involuntária autoironia em seu título. O tal longa-metragem nem sequer esconde o que todo mundo já sabe: é apenas um compacto (de 110 minutos) do primeiro ano da novela, com o trunfo do final inédito. Convenientemente, a história é narrada por Josué (Sidney Sampaio), protagonista da segunda temporada da atração da Record.

À maneira de um programa televisivo da rede aberta, o longa-metragem é ingênuo, polido e de emoções às claras. A saga de Moisés (Guilherme Winter), o bebê israelita criado no palácio do Faraó, é contada no ritmo de uma compilação de melhores momentos: a edição afobada nem espera que um diálogo termine para que a cena seguinte surja na tela.

A estética calculada e higienizada de novela está por toda parte. Os diálogos puramente descritivos servem para não deixar nenhuma ambiguidade no ar. Se um personagem está feliz, sorri. Quando triste, chora de olho fechado, boca aberta e com lágrimas espessas correndo pelo rosto. A fotografia é digna de um institucional publicitário da Igreja Universal do Reino de Deus: cristalina, de composições sempre focalizadas nos rostos e ensolarada à beça até nas cenas noturnas.

Humor involuntário, doutrinação e moralismo gratuito
Quando a narrativa pede emoção, drama ou perigo, a câmera lenta passeia pelas cenas reafirmando alguns dos momentos mais intensos para o público, como o primeiro encontro entre Moisés e Zípora (Giselle Itié), futura esposa, ou as constrangedoras cenas de batalha e milagres.

Em trajes pastoris, a moça mexe o cabelo e os ombros enquanto coleta água de um poço. A metros dali, um Moisés hipnotizado, recém-saído do Egito após matar um oficial, é visto em planos repetidos de seu rosto, entremeados por imagens de Zípora. Uma paixão à primeira (e segunda e terceira) vista.

O humor involuntário retorna em incontáveis momentos: na narração em off de Josué, com timbres que mudam de tom e volume ao longo do filme, nos efeitos visuais pouco críveis (travessia do Mar Vermelho, as dez pragas) e até na voz de locutor de rádio religiosa emprestada a Deus.

Paris Filmes/Divulgação
A travessia do Mar Vermelho: efeitos visuais de qualidade duvidosa

 

“Os Dez Mandamentos” não se esforça para ser um filme. Um compilado de cenas inéditas e um final diferente do mostrado da novela bastam para impressionar o público-alvo. Para os não iniciados, a encenação pode soar mui moralista.

Já no deserto, com o povo a murmurar e a adorar ídolos enquanto Moisés recebe de Deus os Dez Mandamentos, o longa embarca na esperada sentença fatalista aos infiéis. “Os que negaram a Deus foram mortos”, conta, com extrema naturalidade, a narração em off. O tom de doutrinação e separatismo parece bem sintonizado com o discurso de certas lideranças (religiosas e políticas) do meio gospel brasileiro.

“Os Dez Mandamentos” é só superfície, com cenários genéricos, roupas asseadas e uma multidão de personagens lendo falas e exibindo expressões faciais. O filme despreza a mística complexa em torno de um personagem universal e reduz a espiritualidade a discursos motivacionais. Um sermão encerrado em seu próprio templo.

Avaliação: Ruim

Veja salas e horários de “Os Dez Mandamentos – O Filme”.

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