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“Oração do Amor Selvagem” mostra o que acontece quando a fé é maior do que paixão

Baseado em fatos reais ocorridos no sul do país, filme conduzido por atuação marcante de Chico Diaz fala sobre intolerância e fanatismo religioso

atualizado

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Difícil de ter uma atuação pífia do ator Chico Diaz no cinema. Vasculhe algo nesse sentido em sua filmografia e será tempo perdido, tento vencido. O filme pode não ser lá essas coisas, mas ele sempre se salva em cena no final. Em “Oração do Amor Selvagem”, do catarinense Chico Faganello, felizmente as duas coisas andam em sintonia. Ou seja, temos o deleite de mais uma atuação marcante, aliada a uma narrativa impactante baseada em fatos reais.

É a história de um estranho vilarejo no sul do país, aonde chega, não se sabe vindo de onde, Thiago (Chico Diaz). Traz na carroça a mulher doente, a filha pequena (Camilla Araújo) e rastros de um passado obscuro. Acolhidos, eles se deparam com o clima denso do lugar, comandado pela figura messiânica do religioso Otaviano (Adilson Magah), líder de uma seita bizarra que mexe com a psique das pessoas do local.

“Aqui ele benze as mulheres e elas ficam sagradas”, comenta um nativo para espanto de Thiago.

Quando a mulher morre, Thiago cai doente e, se sentindo à deriva, dá um jeito de ir embora com a filha, mas acaba saindo do espeto para cair na brasa, ao ser socorrido pela viúva Anita (Sandra Corveloni) num povoado mais próximo. Assim como os moradores da região, ela sofre influência de pastor manipulador (Ivo Müller), que faz uso da fé e ingenuidade cega das pessoas para reger a vida por ali segundo suas equivocadas convicções religiosas. Mas o religioso sofre um forte baque quando a doce irmã Miranda (Camila Hubner), se a apaixona por este rústico, mas puro forasteiro.

Narrativa clássica ponteia direção de atores segura
Pontuado por um estilo clássico, “Oração do amor selvagem” se vale de tema universal, o amor, para abordar questões pertinentes como os perigos morais causados pelo fanatismo religioso. Apoiado na ideia de que “de que nenhum Deus pode impedir a felicidade humana”, mostra como a religião, quando usada de forma manipuladora, desencadeia preconceitos, opressão, ignorância, violência, enfim, a loucura da alma. Mata-se por amor, mas também em nome do divino. E a pergunta que fica é, por que as pessoas que se julgam tementes se acham melhores do que as outras?

Um dos pontos altos do filme é a segura direção de atores conduzida pelo diretor Chico Faganello. Do tipo que carrega o personagem para casa, entrando na persona de forma visceral e intensa, Chico Diaz empresta à trama uma densidade única com seu “caboco” silencioso e cheio de orgulho matuto. Seu desempenho na fita é permeado por gestos, olhares e palavras quase inaudíveis que diz muito sobre essa figura vilipendiada pelas leis equivocadas de Deus e dos homens. A paulista Sandra Corveloni e o catarinense Ivo Müller, assustador como esse pastor insano, rimam em cena ao lado do ator.

Num primeiro momento, “Oração do Amor Selvagem” pode não empolgar, mas vai ganhando aos poucos a atenção e confiança do espectador a reboque de uma trama bem desenvolvida, atuações competentes e fotografia deslumbrante que desnuda um Brasil selvagem com sotaque regionalista. A trilha introspectiva de Zeca Baleiro só realça ainda mais esses elementos.

Avaliação: Bom

Veja horários e salas de “Oração do Amor Selvagem”.

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