O uso da realidade virtual entra em debate no 6º Curta Brasília
Rodrigo Terra e Ricardo Laganaro trabalham com experimentação de novas tecnologias em narrativas cinematográficas
atualizado
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- Sócios da produtora paulista Árvore, Ricardo Laganaro e Rodrigo Terra, começaram a vida profissional trabalhando com cinema e tevê convencional. Terra era produtor da TV Cultura em São Paulo enquanto Laganaro trabalhava como desenvolvedor de projetos na O2 Filmes até entrarem em contato com uma tecnologia que promete revolucionar a experiência espectatorial do cinema: a realidade virtual (Virtual Reality, em inglês).
Terra e Laganaro desenvolveram “Beleaf” (2017), uma espécie de instalação virtual em que os usuários são convidados a passear por cinco ambientes, carregando uma tocha física e explorando as possibilidades de inúmeros cenários criados em computador que desafiam nossa percepção espacial. Tudo isso em um espaço mínimo de apenas 2 metros quadrados.
“Em Realidade Virtual não é necessário utilizar a geometria euclidiana. Os conceitos espaciais de direita e esquerda podem ser modificados e redirecionados do jeito que a gente imaginar”, explica Rodrigo Terra.
Os realizadores acreditam que a nova tecnologia tem profundo potencial narrativo quando inserido em narrativas documentais ou ficcionais. Mas, apesar da novidade despertar os sentidos do corpo, a forma milenar de narrar histórias deve permanecer intacta.
“Claro, não podemos ser tão ingênuos em descartar modos de contar histórias utilizados há mais de 50 mil anos. Arcos narrativos e conflitos de personagens continuarão sendo usados, porém, a VR (Virtual Reality) pode inserir o espectador dentro da história por meio de experiência imersiva”, acredita Laganaro.
Laganaro foi o único cineasta do hemisfério sul convidado para participar de um projeto que pareava 10 cineastas com 10 ONGs para desenvolver filmes sobre temas sociais. O brasileiro foi escalada para trabalhar com a instituição americana Defy Ventures, especializada em educação de detentos. O curta “Step in To The Line”, foi inteiramente filmado dentro de uma prisão de segurança máxima da Califórnia.
Caminhando pelas instalações penais o espectador entende melhor o cotidiano dos detentos e a vida dentro do cárcere. “É uma forma muito eficiente de se criar empatia com alguém que vive uma realidade distinta da sua. O uso da VR como ferramenta social é importantíssimo atualmente”, discorre Laganaro.
“O componente da vivência é muito forte. Não é simplesmente olhar uma parte do repertório exibido nas telas. O seu corpo experimenta sensações intensas. Desta forma, criam-se memórias legítimas. O espectador, de fato, vive o filme”, explica Rodrigo Terra.
O campo de utilização da realidade virtual é enorme e expande-se para outras áreas além do entretenimento. Um deles é o uso terapêutico em tratamentos de fobias. Medo de altura, avião, aranhas e etc podem ser tratados utilizando-se essas ferramentas. Testes de reprogramação cerebral tem ajudado pacientes com paralisias graves no mundo todo. E seu uso está apenas começando.
“No futuro, vamos interagir com objetos virtuais em todos os ambientes. Por exemplo, no trabalho, é possível que nem exista a necessidade de usar uma tela para mediar nossas ações. Os objetos poderão ser manipulados dentro do ambiente em que o trabalhador estiver”, Ricardo Laganaro
A fronteira final do processo de inserção das novas tecnologias no cotidiano das pessoas ainda é desconhecido. Num exercício de imaginação pode-se imaginar um futuro parecido com as ficções científicas que povoam nosso imaginário e são abundantemente utilizados pelo cinema e pela cultura pop.
Os avanços, porém, trazem debates sobre limites éticos do uso de tecnologias tão intimamente relacionadas ao seres humanos. “Grandes pensadores que revolucionaram nossa forma de pensar se inspiraram nos SCi-Fis criados a partir dos anos 1950 para criar melhorias tecnológicas que hoje utilizamos cotidianamente. O importante é saber usar estas tecnologias de uma forma positiva”, acredita Rodrigo Terra.
CVRTA VR
Domingo (17/12), das 15h às 22h, sessões a cada 30 minutos, durante o 6º Curta Brasília. No Cine Brasília (EQS 106/107). Entrada franca. Confira
programação, sinopses e classificação indicativa de cada filme no site www.curtabrasilia.com.br