O Sequestro do Voo 375: Jorge Paz diz sentir “pena” de vilão do filme
Baseado em fatos reais, O Sequestro do Voo 375 estreia nesta quinta-feira (7/12) nos cinemas de todo o Brasil
atualizado
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Poucos se lembram e muitos ainda nem eram nascidos, mas em 1988 o Brasil chegou perto de vivenciar uma tragédia semelhante ao 11 de Setembro norte-americano. O Sequestro do Voo 375, longa-metragem que estreia nesta quinta-feira (7/12), resgata a história real do raptor de um avião comercial da antiga Vasp, que tinha a intenção de derrubar a aeronave no Palácio do Planalto, em Brasília, para matar o então presidente da República, José Sarney (1985-1990). Veja o trailer.
A ação criminosa teve um desfecho infeliz para o sequestrador, na produção interpretado por Jorge Paz, ator criado na periferia do Distrito Federal e conhecido por papéis em obras relevantes como o filme Marighella, e as séries Irmandade, da Netflix, e Cangaço Novo, da Amazon Prime Video. Na missão de dar vida a Nonato, homem que matou o copiloto e colocou em risco a vida de mais de 100 passageiros do Boing, o artista não se ateve à vilania do personagem.
“A gente não fez um filme hollywoodiano, onde o vilão é extremamente mau e o herói é extremamente bom. Cinema é sobre vida, sobre pessoas, e as pessoas têm de tudo, né? É isso que tentamos mostrar, um ser humano com todas as nuances de emoções”, afirma Jorge Paz, que encontrou muito material de pesquisa durante a preparação para o papel. “O roteiro me entregou tudo, existiam muitas matérias sobre o caso, muitos vídeos de reportagens com as pessoas da época, foi muito rico de estudo”, completa.
Ao buscar entender as motivações do sequestrador, Jorge confessa ter se compadecido. “Ele era um cara que devia estar passando por problemas psicológicos, um brasileiro sem assistência nenhuma e que estava desempregado. Era ingênuo e corajoso, mas com certeza doente. Eu vi numa reportagem que, antes de descer, ele pediu desculpas para as pessoas. Não quero justificar nada, ele morreu, pagou pelo o que fez, mas eu sinto pena dele também”, considera Paz.
A estrutura inédita no Brasil montada para a filmagem de O Sequestro do Voo 375 também foi um desafio para que Jorge conseguisse passar, com verdade, toda a dualidade de Nonato. “Foi um filme bem difícil de se fazer, porque a gente estava em um espaço claustrofóbico, nós gravamos em uma cabine de avião de verdade. Um espaço muito pequeno, então a câmera ficava colada o tempo inteiro no nosso rosto, mas o meu corpo estava todo contorcido”, explica.
Para as gravações da megaprodução nacional, um Boing foi recriado no histórico estúdio Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, em São Paulo. Com direção de Marcus Baldini (Bruna Surfistinha), o filme conta com apoio de imagens computadorizadas para a execução das cenas de ação no céu.
“É uma estrutura inédita no cinema brasileiro, onde um avião inteiro girava em 360 graus, que empinava para descer em rasante… Fiquei muito feliz de fazer parte desse projeto. Todos os dias eram muito intensos, chegou o dia que o meu corpo já não entendia nada, porque não tinha como eu dar apenas 50%. A gente conseguiu fazer algo que foi muito difícil. Tem muita coisa nesse filme que parece mentira, mas é real, aconteceu de verdade”, se orgulha Paz.
A ligação do voo 375 com o 11 de Setembro
O sequestro do avião da Vasp por um civil armado, em 25 de setembro de 1988, e que terminou com o assassinato do copiloto no ar, pode ter servido de material de estudo para os membros da Al-Qaeda, responsáveis pelo ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, nos EUA. Isso porque após a morte de Osama bin Laden, líder do grupo terrorista, teriam sido encontradas em sua casa reportagens sobre o caso brasileiro. “É possível que ele tenha tentado entender o que deu errado para o sequestrador aqui no Brasil”, acredita o diretor do filme Marcus Baldini.
Também chamou a atenção do pesquisador Contâncio Viana que o voo 375 não tenha refletido imediatamente em avanços nos procedimentos de segurança da aviação comercial. “Eram detectores de metais que não funcionavam, cabines dos aviões que não eram à prova de balas…Tudo isso só veio depois do 11 de Setembro. Só que o Voo 375 aconteceu 13 anos antes. Podiam ter levado em consideração, mas não levaram. Na verdade, se tivessem levado a sério o que aconteceu no Brasil, não teria acontecido o 11 de Setembro”, pontua o jornalista.