O rap reconquista Hollywood em “Straight Outta Compton”
Uma das estreias desta quinta (29/10), a cinebiografia narra a turbulenta trajetória do grupo N.W.A, um dos principais representantes do hip-hop da costa oeste norte-americana
atualizado
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Tal qual um rapper iniciante se arriscando em rimas raivosas e cruas, “Straight Outta Compton – A História do N.W.A” tenta ser várias coisas de uma vez só: o retrato da juventude negra nos Estados Unidos, tão marcada pela truculência policial e pela injustiça, a saga (comercial e artística) da crônica rebelde, nascida nas ruas do bairro pobre de Compton (ao sul da região central de Los Angeles), e um relato sobre as relações (nem sempre honestas) que envolvem amizade, criatividade e ambição.
Sem pesar a mão na ambientação de época, o diretor F. Gary Gray concentra a maioria dos acertos no primeiro arco do filme, ao acompanhar a rápida transformação de meninos em rappers de sucesso. A própria meteórica ascensão custou a existência do grupo – durou cinco anos, entre 1986 e 1991, e apenas dois álbuns.
O polimento hollywoodiano, típico de qualquer cinebiografia, se intromete nos momentos dramáticos, encaretando a encenação, mas ao menos permite que as cenas musicais respirem e funcionem. E, de fato, as sequências melódicas, ora nos palcos, ora nos estúdios de gravação, emprestam ao filme uma reconhecível legitimidade.
Uma história (oficial) de rebeldia
Produzido por Ice Cube e Dr. Dre, biografados que “vingaram” na carreira pós-N.W.A, o longa obviamente dedica generosos minutos aos dois. Após um febril primeiro ato, emoldurando o nascimento da lírica do N.W.A, o filme se distancia cada vez mais de Compton para flagrar os personagens já no turbulento fim do grupo, entre disputas por direitos autorais e brigas de ego.
Nesse sentido, os personagens de Cube (O’Shea Jackson Jr., filho do rapper), Dre (Corey Hawkins), MC Ren (Aldis Hodge) e DJ Yella (Neil Brown, Jr.) parecem sair do foco de Gray. Divididos pela complicada gestão de Jerry Heller (Paul Giamatti), que aproveitou a inocência dos jovens para bolar contratos injustos, eles brigam, se separam e seguem carreira solo enquanto Eazy-E (Jason Mitchell) abraça um trágico fim: a morte precoce de Aids em 1995, aos 30 anos.
O clima de dramalhão imposto nos 30 minutos finais soa forçado. Apesar do aparente tributo a Eazy, integrante mais problemático do grupo, “Straight Outta Compton”, por outro lado, trata Arabian Prince com imensa frieza, relegando um dos membros fundadores do conjunto a uma aparição não creditada. As personagens femininas, infelizmente, também vagam como fantasmas (despidos) durante a narrativa.
O epílogo laudatório, com menções exageradas aos feitos de Cube e Dre na cultura pop, também empalidece o resultado final. Ainda assim, o filme esbanja vigor e nostalgia nas longas sequências musicais. A cada verso relido e cantado de novo, Gray emula um bonito gesto memorial – ainda que com o selo de aprovação de Cube e Dre. É o rap tratado como capítulo da história oficial.
Avaliação: Bom
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