O que levou o filme Deserto Particular a disputa do Oscar 2022
O novo longa-metragem de Aly Muritiba foi o selecionado para representar o Brasil e luta por vaga na principal premiação do cinema mundial
atualizado
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Deserto Particular, filme que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (25/11), foi o escolhido pelo comitê da Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA) para representar o Brasil na disputa por uma vaga entre os indicados ao Oscar 2022.
Com direção de Aly Muritiba, o longa vem trilhando caminho premiado em festivais internacionais: foi eleito o Melhor Filme da mostra Venice Days, pelo júri popular do Festival de Veneza de 2021; além de ser o grande vencedor do Mix Brasil e de festivais em Israel e na Espanha. O sucesso é merecido. Com temática LGBTQIA+, o filme tem a coragem de retratar nas telonas, de forma poética e sem estereótipos, a dura realidade de pessoas trans.
A obra é protagonizada por Antonio Saboia (Bacurau), que vive Daniel, um policial afastado do trabalho e sob investigação interna após ato de violência em serviço. Quando sua namorada virtual deixa de responder suas mensagens, ele deixa Curitiba, onde mora com o pai doente, e cruza o país rumo a Sobradinho, no interior da Bahia, em busca da amada. Ao chegar no destino, vê seus desejos e valores serem confrontados por uma realidade diferente da que fantasiou.
Antonio Saboia está em ótima forma e passeia com sensibilidade e sem excessos pelos sentimentos do personagem. Está tudo no olhar: a depressão, o cansaço, o amor, a quebra de expectativas, o tesão, a raiva, e, por fim, o amor novamente. Na pele de Robson, o ator Pedro Fasanaro quebra o tom taciturno da produção e desenvolve todas as nuances de um jovem preso dentro de regras sociais e religiosas impostas, ainda mais duramente, nas comunidades interioranas.
O roteiro, também assinado por Aly Mutitiba, em parceria com Henrique dos Santos, apresenta uma narrativa firme que põe à prova a ideia batida de “final feliz” dos espectadores. E, mais importante, trata com respeito e bom senso as questões sobre masculinidade, sexualidade e expressões de gênero propostas no filme.
A bela fotografia, dirigida por Luis Armando Artega, atua como um terceiro protagonista de Deserto Particular. A mudança dos tons frios e cinzas do cenário curitibano para as cores ensolaradas e quentes das paisagens nordestinas mostra a transição que acontece, também, dentro de Daniel (Antonio Saboia).
Em um mundo polarizado, no qual a luta por respeito à diversidade resiste contra o retrocesso, a trama nos faz lembrar que o amor é, e sempre será, um potente agente de transformação. Essa abordagem necessária e o “mergulho no Brasil profundo”, como caracterizou o próprio Aly Muritiba, levam o filme a chegar com força na disputa por uma das cinco vagas de filmes estrangeiros no Oscar 2022.
Avaliação: Ótimo
Veja o trailer: