O Fantástico Patinho Feio resgata paixão de Brasília pela velocidade
Dirigido por Denilson Félix, documentário venceu prêmio no 50º Festival de Brasília, em 2017, e agora estreia nos cinemas
atualizado
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Brasília, 1967. Quatro jovens constroem um protótipo com sobras de um Fusca acidentado. Azarão, o carro da molecada é sorteado para largar em último nos 500km de Brasília, segunda corrida mais importante do Brasil à época. Fica em segundo. E só não vence por causa de uma lanterna queimada. Essa história real, não muito conhecida pela maioria dos brasilienses, é contada no documentário O Fantástico Patinho Feio, em cartaz nos cinemas brasileiros.
Em seu longa de estreia, o brasiliense Denilson Félix volta aos anos 1960 para resgatar um pouco da intensa relação da cidade com carros – não apenas os de corrida. Em sua primeira década de existência, com avenidas largas e pouco movimentadas, a nova capital era o cenário perfeito para disputas de automobilismo – e, claro, rachas juvenis.
“A população em geral não conhece essa história. As pessoas ficam surpresas. Me sinto privilegiado em poder resgatar a história do automobilismo nacional. Brasília depois ficou conhecida como a cidade do Rock. Mas antes da turma da Colina, teve a turma da Camber”, diz Félix, de 48 anos.
A mítica oficina Camber era o habitat natural daqueles quatro jovens, do Patinho Feio, como ficou popularmente conhecido o veículo competitivo construído no improviso, e de toda uma geração apaixonada por carros de corrida. Fundado na casa da mãe de um dos amigos, o espaço se tornou um “point da cidade”, explica Félix.
Muita gente passou pela Camber, entre entusiastas e pilotos. Três saíram de lá para participar da Fórmula 1, principal e mais popular modalidade do automobilismo mundial: Nelson Piquet, Roberto Pupo Moreno e Alex Dias Ribeiro. Félix pretende detalhar a história da oficina em um segundo filme, com o título provisório de Camber: Escola de Campeões. Deve ser lançado no segundo semestre de 2019.
Da ideia à primeira exibição do filme, O Fantástico Patinho Feio demorou nove anos para sair do papel. Não era a primeira ideia de longa-metragem de Félix, lembrado no cinema local como roteirista do premiado curta Sinistro (2000), de René Sampaio (Faroeste Caboclo) e por curtas solo que dirigiu. Também escreveu Campus Santo, ainda inédito longa de Márcio Curi, falecido em 2016.
Tudo começou quando Félix trabalhava em uma pesquisa para um filme sobre a vida de Nelson Piquet. Numa das entrevistas, o ex-piloto citou a Camber, onde trabalhou quando tinha 17 anos. E deu uma sugestão ao cineasta: ir à festa de aniversário de 30 anos da oficina. “Quando cheguei, fiquei ouvindo os quatro fundadores falando. Pensei, ‘a história desses caras dá um filme’. Foi quando me aproximei e pedi para filmar”, conta.
É uma história que merece ser vista. Sobre sonho, empreendedorismo, perseverança. Valores meio esquecidos no Brasil
Denilson Félix, diretor de O Fantástico Patinho Feio
Com orçamento de apenas R$ 100 mil, o diretor diz ter conseguido terminar a produção “na raça”. Para tal, teve ajuda indispensável de pessoas como Thiago Esmeraldo, comontador ao lado de Jorge Dalena. Há pouco mais de um ano, o filme venceu o Troféu Câmara Legislativa de melhor longa-metragem na Mostra Brasília do histórico 50º Festival de Brasília.
Contente com o que realizou, Félix vê paralelos entre sua história de vida e a dos garotos por trás do Patinho Feio.
“Nasci muito pobre. Filho de lavadeira. Só conheci cinema quando fui office boy do Ministério da Cultura, da Embrafilme. Minha função era levar filme para o cinema. Nessa história de carregar filme, ficava na cabine, no Cine Brasília, esperando a obra ser projetada para levá-la de volta. Costumo brincar. Se tivesse trabalhado no Ministério da Agricultura, seria agricultor. Eu também tive muita perseverança.”