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“O Brasil prima pela negação”, diz diretor de Soldados do Araguaia

Documentário reúne relatos de recrutas de baixa patente usados pelo Exército Brasileiro para combater a Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970

atualizado

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1 de 1 soldados do araguaia1 - Foto: Divulgação

Assistir ao documentário Soldados do Araguaia, do diretor carioca Belisario Franca, pode ser uma experiência marcante. No filme, em cartaz nos cinemas, oito homens contam histórias vividas durante a ditadura militar. Eles e dezenas de outros jovens foram recrutados como soldados de baixa patente pelo Exército Brasileiro para combater a Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970. Sofreram todo tipo de abuso físico e psicológico já no treinamento.

Um deles fala sobre o dia em que ajudou a transportar uma guerrilheira presa para um helicóptero. Ela foi jogada para fora do veículo em pleno voo. O ex-militar vê os olhos da vítima em pesadelos quase diariamente. Outro perdeu os testículos. Todos os depoimentos narram desumanidades das mais diversas. As humilhações foram apenas a ponta do iceberg. Superiores obrigavam os recrutar até a beber sangue.

“Não era instrução. Era tortura”, define um dos entrevistados no filme. Segundo da “trilogia do silenciamento”, iniciada com Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil (2016), o documentário mostra o passado de uma sociedade que ainda tem muito a refletir sobre um de seus períodos mais sombrios.

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Nos anos 1970, mais de 4 mil soldados combateram os 76 integrantes da "ameaça comunista" representada pela Guerrilha do Araguaia
Vários ex-soldados hoje contam suas histórias no projeto Clínicas do Testemunho em Marabá, Belém e Rio
O filme é o segundo da "trilogia do silenciamento", dirigida por Belisario Franca
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Documentários reúne histórias pouco conhecidas vividas por recrutas de baixa patente do Exército Brasileiro

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Nos anos 1970, mais de 4 mil soldados combateram os 76 integrantes da "ameaça comunista" representada pela Guerrilha do Araguaia

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Vários ex-soldados hoje contam suas histórias no projeto Clínicas do Testemunho em Marabá, Belém e Rio

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O filme é o segundo da "trilogia do silenciamento", dirigida por Belisario Franca

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“Nós somos um país que prima pela negação do racismo, do machismo, da violência. Existe um discurso permanente de olhar para frente, para o futuro. Mas se não soubermos quem somos e o que fizemos, teremos muita dificuldade na construção desse futuro. Como podemos ter justiça se não temos memória da injustiça?”, reflete Franca.

Às pessoas que estão flertando com a ideia de intervenção militar, sugiro passar duas semanas na Maré, para ver o que é conviver diariamente com intervenção. Mas depois me contem se é bacana, se funciona bem. Eu não acho que militarizar é solução alguma para esse país. Já foi provado que não é

Belisario Franca, diretor

Ao contrário da maioria dos filmes sobre a ditadura, Soldados retrata como “o terror do estado”, segundo o diretor, também atuou dentro do próprio estado. “As pessoas são de carne e osso e as histórias estão ali, foram vividas. Traumas reais de gente transformada e destruída no regime”, continua o cineasta, de 57 anos.

Próximo da trilogia
Ainda sem título e em fase de montagem, o trabalho seguinte de Franca se debruçará sobre o problemático e superlotado sistema carcerário brasileiro.

“É outro de nossos grandes silenciamentos. Podemos pensar a sociedade na maneira como ela trata seus presos. Nossa realidade prisional não é a do político, do empresário, do doleiro. É a do abandono, da injustiça”, explica.

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