O Aprendiz disseca personalidade violenta e obsessiva de Donald Trump
O Aprendiz revela formação de Donald Trump sob a influência de Roy Cohn, com atuações marcantes e critica à moralidade e à ética americanas
atualizado
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Não foi por acaso que O Aprendiz provocou tanta fúria em Donald Trump. Ovacionado com aplausos de 11 minutos no Festival de Cannes, o filme, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (17/10), escancara a ascensão do empresário ao topo da lista dos homens mais ricos dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que lança luz sobre o uso questionável dos sistemas jurídico e político norte-americano como ferramentas a serviço de sua ambição.
Com roteiro de Gabriel Sherman e direção de Ali Abbasi, o longa estreia num momento crucial, enquanto Trump busca o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, em uma disputa acirrada com a democrata Kamala Harris. O Aprendiz, entretanto, oferece uma visão sombria e nada lisonjeira da figura republicana, o que certamente não favorece suas pretensões políticas.
Ao explorar os anos 1970 e 1980, período fundamental da vida de Trump, O Aprendiz constrói um retrato de um homem dominado pelo ego, pela manipulação e por uma sede de poder insaciável. Ainda, expõe um Trump egocêntrico, mentiroso e violento, disposto a descartar até mesmo figuras muito próximas quando elas não mais úteis, como Roy Cohn — o controverso advogado que se notabilizou por sua dureza e lealdade questionável — ou a própria ex-esposa, Ivana Trump, que aparece em um cena sendo agredida e abusada sexualmente pelo ex-presidente.
Para além de dissecar a personalidade explosiva de Trump, O Aprendiz captura a mentalidade da América da época, uma nação marcada por crenças inabaláveis na própria superioridade e por um oportunismo desenfreado.
Sherman traça habilmente o paralelo entre a trajetória pessoal de Trump e o contexto social mais amplo, em que a busca por poder e sucesso a qualquer custo era celebrada. Isso faz com que o filme vá além da biografia de um homem, transformando-se em uma crítica contundente a uma era em que moralidade e ética eram descartadas em nome da ambição.
Atuações brilhantes
Embora ofereça um retrato interessante e profundo sobre a vida de Donald Trump, o longa não adentra sua trajetória política posterior. Isso pode criar uma certa desconexão para o público que conhece apenas o Trump mais recente, já moldado pelo poder.
No entanto, a interessante narrativa de Gabriel Sherman é sustentada por atuações brilhantes, sobretudo de Sebastian Stan, como Donald Trump, e Jeremy Strong, no papel de Roy Cohn.
A evolução do personagem de Stan, aliás, partindo de um homem levemente ingênuo e inadequado, reflete como Trump, investimento após investimento, transformou-se no empresário que o mundo conhece hoje: alguém que nega verdades, não admite erros e está sempre pronto para atacar.
Abbasi complementa esse desenvolvimento com escolhas visuais inteligentes. Ele alterna entre planos abertos e closes rápidos, culminando em cenas de câmera tremida que remetem ao estilo documental popularizado por séries como The Office. Além disso, a equipe de figurino e maquiagem faz um excelente trabalho ao recriar a estética e o lifestyle dos anos 1970 e 1980.