Nos cinemas, Carta Para Além dos Muros é convite ao diálogo sobre HIV
Com depoimentos de envolvidos, especialistas e artistas, documentário de André Canto mostra a necessidade de seguir falando sobre o vírus
atualizado
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Falar sobre o HIV é importante. Conversar sobre o tema, tentar entender, de fato, o que é viver com o vírus que há quase 40 anos chegou ao Brasil, espalhando medo e deixando um rastro de mortos pelo caminho. Hoje não é mais assim. Entretanto, muitos rótulos criados no auge do desconhecimento da então chamada “peste gay” continuam até os dias atuais. E, por isso, é tão necessário levantar debates sobre a Aids. O documentário Carta Para Além dos Muros, dirigido por André Canto, faz isso.
Nas salas de cinema do Brasil, o doc, de uma hora e meia, retrata com primor a trajetória das infecções no país e no mundo. Como chegou, quando aconteceu o primeiro, a quem atingiu… A história do HIV anda de mãos dadas com a libertação sexual e o fim da ditadura militar por aqui. Infelizmente, por isso, muitas pessoas associam o vírus diretamente à promiscuidade, o que não é uma verdade.
Médicos, infectologistas, nomes ligados aos direitos humanos e à área da saúde. São depoimentos de 36 pessoas que conviveram com alguém que teve o HIV correndo nas veias ou que, até hoje, graças ao tratamento antirretroviral, vive — muito bem, obrigado — com o vírus. Foram 2 anos de produção e mais de 90 entrevistados.
Corte
André Canto, à frente da empreitada, diz que chegou a ter 3 horas de filme. E, por uma questão estratégica, resolveu usar um corte mais modesto. “A ideia é alcançar as pessoas que não têm um interesse inicial pelo tema. Quem tem, assistiria a um filme de uma, duas, três horas”, explica o diretor da obra ao Metrópoles.
“Eu escolhi fazer um recorte de estigma e preconceito no filme e na sequência. Há várias conversas que eu ainda quero ter e com muita tranquilidade eu deixei para esse segundo momento. A ideia é alcançar pessoas que não têm um interesse inicial pelo tema.”
Há, segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 866 mil pessoas vivendo com HIV no Brasil. Muitas delas não falam publicamente sobre isso. Em Carta Para Além dos Muros, um dos entrevistados se identifica como Caio. O rosto dele só aparece de relance. Gay, ele diz que contou à mãe sobre a sexualidade no dia em que descobriu a infecção. Na película, afirma que, a partir de então, é como se tivesse dois armários para sair. E optou por sair de um. “Não conseguiria viver dentro dos dois”.
Constituição
As políticas públicas, de prevenção e tratamento ao vírus da Aids, estão estabilizadas. Asseguradas constitucionalmente. Mas, segundo André Canto, falar sobre o assunto também é uma questão de política pública e o governo falha aí.
“Falar também deve ser uma política pública. Eu digo isso porque meu maior objetivo nesse projeto é tentar discutir com os nossos governantes que, enquanto a gente deixar as pautas morais e o conservadorismo ditar as políticas públicas, a gente não vai conseguir avançar no HIV/Aids. Enquanto a gente não informar a população de forma geral sobre todas as possibilidade de tratamento e prevenção, o preconceito não vai acabar”, diz o cineasta.
“Mudou. E hoje é simples tratar o HIV. Os medicamentos não trazem efeitos colaterais. Se eu sei que hoje é só tomar dois comprimidos por dia, que há pessoas com carga viral indetectável, ou seja intransmissível, se eu sei que tudo isso é possível, por que há medo?”, questiona Canto.
Veja vídeo do filme:
Nomes de peso
Entre os entrevistados em Carta Para Além dos Muros há nomes de peso, como Drauzio Varella, Marina Person e José Serra. A dermatologista Valéria Petri, uma das primeiras médicas brasileiras a ter contato e a diagnosticar um caso de HIV/Aids no Brasil, também está lá.
Para o futuro, André Canto pensa em outras produções. “Uma série no primeiro semestre do ano que vem, por exemplo. E quero lançar um livro para discutir a questão da educação sexual. Tenho a intenção de promover diversas outras ações. Nasceu num projeto audiovisual e foi além”, planeja.
Carta Para Além dos Muros tem esse objetivo: falar sobre o HIV. Debater sobre o assunto e mostrar que, em resumo, ter o vírus está longe de ser uma sentença de morte. É possível, sim, ter uma vida absolutamente normal, e saudável, após o diagnóstico positivo.
PS: Nas salas de cinema Itaú, durante a primeira semana de exibição do longa, está disponível, gratuitamente, o teste rápido para HIV, hepatite e sífilis.
Confira onde o filme passa na sua cidade:
1ª Semana (até 2 de outubro)
São Paulo
Espaço Itaú Augusta – 20h
Rio de Janeiro
Espaço Itaú Botafogo – 21h20
Estação NET Botafogo – 20h05
Cine Star Laura Alvim – 14h00, 19h20
Brasília
Espaço Itaú Casa Park – 19h20
Cine Cultura16h30
Cine Brasília Quinta e Domingo – 16h, 18h
Porto Alegre
Espaço Itaú Bourbon Country – 19h
Curitiba
Espaço Itaú Crystal – 17h20
Salvador
Espaço Itaú Glauber Rocha – 18h
Belo Horizonte
Cine Belas Artes – 19h
Aracaju
Cine Vitória – Sexta e Segunda – 14h
Vitória
Cine Metrópolis – Sexta – 15h40, Domingo – 14h30, Terça – 15h30