Netflix e YouTube lançam projetos para apoiar produtores negros
Plataformas doaram valores para ajudar profissionais afetados pela pandemia e fomentar representatividade no mercado audiovisual
atualizado
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Um ano após a pandemia de Covid-19 ter atingido em cheio a comunidade criativa ao redor do mundo, e em meio a uma nova onda no Brasil, gigantes do audiovisual têm voltado suas ações para o apoio de profissionais negros e organizações que fomentem a permanência deles neste mercado, que é marcado pela desigualdade.
A Netflix divulgou que doará R$ 3 milhões ao Fundo de Amparo a Profissionais do Audiovisual Negro, beneficiando 875 profissionais autônomos e 275 representantes legais de empresas vocacionais. As inscrições vão ser abertas no site da Associação dos Profissionais do Audiovisual (APAN), a partir do dia 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação Racial.
A iniciativa faz parte de um fundo de US$ 150 milhões de dólares da empresa, que foi administrado em mais de 20 países, criado para apoiar aqueles em maior dificuldade no setor.
Segundo o presidente da APAN, Rodrigo Antonio, iniciativas como a da Netflix, transformam vidas tanto de profissionais autônomos quanto dos produtores negros, o que deve resultar, nos próximos anos, em um conteúdo mais plural, em que a população brasileira, majoritariamente negra, se veja representada.
“Esses produtores encabeçam as chamadas empresas vocacionadas, dedicadas à produção de conteúdo identitário. Iniciativas que entendem a necessidade de uma transformação na cadeia de produção, que passa desde a criação das nossas narrativas até o acesso e inserção dessas histórias nas mais diferentes telas, para que elas possam circular e dialogar com seus espectadores”
Rodrigo Antonio, presidente da APAN
Além do auxílio emergencial direcionado ao FAPAN, R$2 milhões foram destinados à APAN, Instituto Querô, Instituto Criar e Instituto Nicho 54 para programas de mentoria, treinamento e capacitação de talentos negros em todo o Brasil.
“Quando a luz do cinema acende ou quando a gente termina de maratonar uma série, o que reverbera e se transforma de fato em ação? É para isso que essas produtoras independentes existem – e devem continuar existindo”, refletiu o produtor audiovisual, responsável pela gestão do fundo que receberá a doação da plataforma de streaming.
Diversidade nas produções
Segundo a pesquisa Diversidade de Gênero e Raça nos Lançamentos Brasileiros de 2016, divulgada pela Agência Nacional do Cinema, atores negros representaram apenas 13,3% do elenco dos filmes que estrearam naquele ano. Em 75,3% dos longas nacionais, eles também eram, no máximo, 20% do elenco.
Disposto a contribuir com uma mudança de cenário, o YouTube também lançou um fundo de financiamento a criadores negros. Em janeiro, a plataforma de vídeos anunciou globalmente a primeira turma de selecionados do projeto, que foi batizado de YouTubeBlack Voices de 2021.
Nela estão 35 brasileiros de destaque em diversas áreas, como Péricles, Nath Finanças e o canal de humor 10ocupados, que receberão recursos para investir em produção de conteúdo.
Nessa terça-feira (16/03), a empresa também anunciou a realização do Vozes Negras da Mídia, um fórum on-line ao vivo sobre diversidade racial na mídia brasileira. Nele, especialistas em mídia, comunicadores e a equipe do YouTube irão abordar o impacto das vozes negras na sociedade e na cultura por meio dos seus canais digitais.
Ligia Lima, gerente de parcerias do YouTube Brasil e coordenadora do projeto, acredita que a ampliação dessas discussões pode, de fato, levar as empresas brasileiras de mídia a repensarem.
“Sabemos que existe uma ampla comunidade de profissionais de mídia e uma robusta liderança de pensamento negro no Brasil interessadas em trabalhar de forma mais proativa para promover a representação racial em diferentes setores e o YouTube pode ser uma excelente ponte para que isso aconteça”, avaliou.
O forúm promovido pela plataforma é aberto ao público, com transmissão no canal YouTube Criadores, nesta quinta (18), das 9h30 às 11h30, e contará com a participação de Talíria Petrone, deputada federal pelo Rio de Janeiro; Guta Nascimento, diretora da revista CLAUDIA; Thiago Amparo, professor da FGV Direito SP e da FGV RI; e Pedro Borges, co-fundador e editor-chefe do portal Alma Preta.