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Na Netflix, O Outro Lado do Vento e documentário celebram Orson Welles

Um dos mais brilhantes cineastas do século 20 é reverenciado em resgate de filme perdido e longa de não ficção afetivo

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Tut: The Boy King
1 de 1 Tut: The Boy King - Foto: NBCU Photo Bank/Getty Images

Em 1950, aos 35 anos, o cineasta Orson Welles já era apontado por especialistas em Hollywood como o “mais jovem has been” da história. Ou seja, para muitos, o cara já era. E olha que até o final daquela década ele nos brindaria com o soberbo A Marca da Maldade (1958). O que não o impediria de seguir se humilhando até os últimos dias de vida com pires na mão atrás de dinheiro para os seus projetos. Muitos deles sem jamais serem finalizados.

É o caso de O Outro Lado do Vento (1974). Resgatado do limbo do esquecimento após quase 50 anos, agora o filme pode ser conferido na Netflix junto com um documentário sobre os bastidores dessa produção conturbada, Serei Amado Quando Morrer. É Orson Welles em dose dupla na badalada plataforma de cinema. Difícil saber qual dos dois é o melhor.

Originalmente um roteiro dos anos 60 – chamado, a princípio, de The Secret Beasts (As Feras Secretas) –, O Outro Lado do Vento era para ser a história de um diretor de cinema machão, fã de touradas que se apaixona por um “matador” das arenas. O enredo teria sido inspirado na suposta dúvida de que Welles tinha sobre a virilidade do escritor norte-americano Ernest Hemingway, de quem ele era amigo. Imagina se não fosse.

Numa nova versão, já nos anos 70, a trama se dividiria em duas narrativas confusas que misturam realidade e ficção num exercício de metalinguagem bizarro tendo como figura central o badalado cineasta Jake Hannaford, vivido de forma estupenda pelo veterano diretor John Huston. Outrora um nome de peso do cinema e depois chutado pelos seus pares, Jake agora é um profissional envelhecido em busca do seu “canto do cisne”.

Qualquer semelhança com Welles era intencional, embora ele negasse que o filme tivesse algo a ver com sua dolorosa jornada de rancor e reconhecimento. Desnorteado com o caótico roteiro apresentado diariamente por Welles, o amigo John Huston chegou a surtar no set. “Orson, sobre o que diabos é esse filme?”, perguntou certa vez. “Sobre pessoas como você e eu”, desconversou. O cineasta Peter Bogdanovich é outro que brilha em cena.

Serei Amado Quando Morrer
Norteado por montagem frenética, O Outro Lado do Vento, ambientado numa noite só, é diferente de tudo o que Welles fez nas telonas. Com provocações à la Nouvelle Vague e estilo visceral dos cineastas da Nova Hollywood, surge como espécie de posfácio da trajetória de um cineasta genial que perdeu seu lugar ao sol. Um toque felliniano salpica de nonsense a trama com desfile de anões vestidos de caubóis, falos gigantes e manequim sem cabeça.

As referências diretas, outras nem tanto, ao clube fechado das estrelas de Hollywood revelam, na essência, um drama sobre traição na amizade – tema, diga-se de passagem, recorrente no cinema de Orson Welles. Mas também sobre amor, vaidade, ego e devaneios sexuais, quesito que o diretor admite sempre ter abordado com certo puritanismo em seus filmes e que aqui explode em sensualidade por meio da figura da atriz croata Oja Kodar, sua amante.

“Acho que contribuí para a criatividade dele com o erotismo. Eu introduzi o sexo”, lembraria ela, em depoimento mostrado em Serei Amado Quando Morrer.

O documentário, produção da Netflix, foi realizado especialmente para complementar o resgate dessa obra fundamental na carreira de um dos maiores nomes do cinema do século 20. É uma preciosidade à parte. Traz não apenas os bastidores e detalhes do filme perdido de Welles, reconstituído por atores, técnicos e o próprio diretor, como um instantâneo de sua trajetória de glória e penúria para viabilizar projetos ousados que até hoje não deram o ar da graça.

“As melhores coisas dos filmes são os acidentes divinos. Para mim, um diretor de cinema é alguém no controle desses acidentes. É algo que traz vida aos filmes”, ensinava o mestre.

Problemas com orçamento, conflitos humanos, o calor da criatividade em meio a um clima de caos e insegurança, enfim, detalhes de uma vida dedicada ao cinema diluídos em fotos e vídeos pouco vistos pelo grande público. Em suma, os dois projetos são belos exemplos de trabalhos criados especialmente para agradar não apenas aos milhares de admiradores de Orson Welles mas, sobretudo, aos amantes da sétima arte.

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