Na Netflix, filme Para Sempre Chape narra tragédia e reconstrução
Documentário dirigido pelo americano radicado no Uruguai Luis Ara relembra repercussões do acidente que vitimou 71 pessoas no fim de 2016
atualizado
Compartilhar notícia
“É o sorriso da cidade”, diz um torcedor sobre o time de Chapecó num dos depoimentos mais espontâneos reunidos no filme Para Sempre Chape.
Disponível na Netflix desde o começo de outubro, o documentário propõe uma retrospectiva da tragédia e da reconstrução do clube após o acidente que deixou 71 mortos em novembro de 2016, quando a equipe viajava a caminho de Medellín, na Colômbia, para a disputa da primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional.
O longa, dirigido pelo americano radicado no Uruguai Luis Ara, levou meses para estrear. Antes intitulada O Milagre de Chapecó, a produção pegou de surpresa familiares das vítimas, que não sabiam da existência do documentário, quando um trailer foi exibido nos cinemas. A Associação dos Familiares das Vítimas do Voo da Chapecoense (Afav-c) conseguiu barrar o lançamento na Justiça, mas depois houve acordo e o projeto foi liberado.
Com um formato bastante tradicional, próximo de um especial televisivo de fim de semana, a produção começa contando a rápida ascensão do Verdão do Oeste no futebol brasileiro. Fundado em 1973, o clube era conhecido apenas em Santa Catarina até poucos anos atrás. Entre 2009 e 2014, subiu da Série D do campeonato nacional para a elite, a Série A.
Foi justamente em sua segunda aventura internacional – na primeira, em 2015, acabou eliminado por pouco para o tradicional River Plate (Argentina), também na Sul-Americana – que a Chape foi do auge à quase extinção.
Além de jornalistas e membros da comissão técnica, grandes ídolos morreram a bordo do avião da LaMia, como o goleiro Danilo – herói da classificação para final da Sula 2016, em partida dramática contra o San Lorenzo (Argentina) – e o atacante Bruno Rangel, maior artilheiro da história da agremiação.
Com apenas 74 minutos de duração, Para Sempre não vai muito além de uma coletânea de fotos, vídeos e entrevistas com alguns personagens. Destacam-se, claro, os quatro sobreviventes brasileiros: o lateral-direito Alan Ruschel, já de volta aos gramados, o zagueiro Neto, o goleiro Jakson Follmann, que teve parte da perna direita amputada, e o jornalista e radialista Rafael Henzel.
Naturalmente, todo registro da tragédia emociona qualquer um. Mas parecem faltar à edição mais depoimentos – não foram entrevistadas as famílias dos jogadores, por exemplo, e poucos torcedores e moradores de Chapecó ganham espaço de fala. Com monólogos demorados de dirigentes do clube, o documentário assume forma e conteúdo de filme institucional.
O longa também passa longe de questionar com contundência os bastidores da tragédia e seus culpados. Yaneth Molina, controladora de voo que trabalhou na noite da queda, traz olhar importante sobre o ocorrido naquela noite: o piloto só anunciou a situação emergencial da falta de combustível dois minutos antes da catástrofe. Ela escreveu um livro, Eu Também Sobrevivi, com detalhes técnicos e um relato pessoal do acidente.
O desafio de Ara envolve sintetizar, em algumas dezenas de minutos, uma dor que extrapola as quatro linhas e marcará eternamente a história da cidade e do esporte. Para Sempre funciona como um trabalho digno, mas menos comovente e impactante do que o esperado. Fica a sensação de que a Chape, seus fãs, sua história e sua terra mereciam um filme bem melhor.
Avaliação: Regular