“Moana”: Hollywood e a sutil busca por mais diversidade nos filmes
Ambientado na Polinésia, “Moana” segue uma tendência recente em Hollywood: a busca por mais diversidade de gênero e etnia nos filmes
atualizado
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Se você foi aos cinemas nos últimos tempos, deve ter percebido que os filmes andam parecendo, digamos, mais coloridos. Não estamos falando de efeitos visuais ou locações, mas de rostos de diferentes etnias, raças e gêneros. A diversidade tem sido tendência em Hollywood – mesmo que ainda esteja longe do Oscar. Veja “Moana”, por exemplo: uma aventura bem nos moldes Disney, mas sobre nativos antigos da Polinésia que cultuam deuses não cristãos.
Mais negros, mulheres e pessoas de origens variadas surgem como protagonistas em grandes produções da indústria de cinema. É óbvio que elencos multiétnicos não garantem qualidade ou sucesso. O gesto revela sua relevância por outros motivos: criar uma conexão e, por consequência, uma representatividade que nem sempre acontece quando todos os heróis são homens brancos de olhos claros.
Para alguns, pode parecer filosófico demais, mas basta um exercício simples de se colocar no lugar do outro. Já parou para pensar quantas meninas vão crescer carregando na memória a Rey de “Star Wars – O Despertar da Força”? E a emoção de um garotinho negro que pode ganhar um bonequinho de Finn, companheiro de aventuras de Rey?É claro que essa tendência pode (e deve) ir mais longe. Gays, lésbicas e trans, por exemplo, dificilmente sentem-se representados no cinema comercial, apesar de algumas sutis alusões recentes. E, atrás das câmeras, Hollywood prefere investir em homens para o cargo de diretor. Patty Jenkins, de “Mulher-Maravilha”, pode ajudar a atenuar essa cultura fortemente machista nos grandes estúdios.
Abaixo, lembramos os mais recentes blockbusters que investiram na diversidade em seus elencos:
“Star Wars”: “O Despertar da Força” e “Rogue One”
É a franquia que mais tem investido em protagonistas mulheres e elencos multiétnicos. Daisy Ridley (“O Despertar da Força”) representa a nova cara da saga: uma personagem forte, sem jeito de princesinha Disney, e que age por conta própria. Ela é acompanhada por Finn, negro (John Boyega), e Poe, latino (Oscar Isaac).
A Jyn Erso (Felicity Jones) lidera “Rogue One”, mas a personagem merecia um roteiro mais cuidadoso. De qualquer maneira, o elenco do spin-off não fica atrás: mais um latino (Diego Luna), outro herói negro (Forest Whitaker), dois asiáticos (Donnie Yen e Wen Jiang) e um britânico de origem paquistanesa (Riz Ahmed, também visto na comentada série HBO “The Night Of”).
Fora das telas, “Star Wars” é comandado pela experiente Kathleen Kennedy, poderosa produtora e parceira longeva de Spielberg. Desde que a Disney comprou a Lucasfilm, ela assumiu simplesmente o lugar de George Lucas, criador da saga. A desconhecida Kiri Hart atua como vice-presidente de desenvolvimento, o que significa cuidar de etapas criativas todos os produtos da saga.
“Caça-Fantasmas”
O reboot liderado por mulheres — sendo uma delas negra (Leslie Jones) e outra lésbica (Kate McKinnon) — despertou uma estúpida onda de comentários racistas, machistas e misóginos na internet. A tamanha imbecilidade dos tais “haters” acabou comprometendo até a bilheteria do filme (US$ 229 milhões).
No fim das contas, tivemos um produto à altura do original — que não é lá grande coisa — e uma ótima piadinha envolvendo Chris Hemsworth (o Thor) no papel de um secretário bonito, mas burro.
“Star Trek – Sem Fronteiras”
A cena gay do filme é daquelas “piscou, perdeu”. Sulu (John Cho) encontra seu marido e filha, dá um abraço no companheiro e a família sai de cena. Mais tarde, o ator revelou que houve um beijo nas filmagens, mas acabou não entrando no corte final. George Takei, intérprete de Sulu na série original, gostou e não gostou.
Ativista dos direitos LGBT, Takei contou que na série clássica, por causa do preconceito, Sulu nunca pôde ser escrito por Gene Roddenberry como um personagem gay. Na verdade, o desejo do ator era de que a atual franquia criasse um tripulante homossexual completamente novo, do zero.
“Sete Homens e um Destino”
O remake do filme de 1960 — que, por sua vez, é releitura do clássico japonês “Os Sete Samurais” (1954) — tem lá seus problemas de ritmo, mas acerta no quesito diversidade. Dupla de “Dia de Treinamento” (2001), o diretor Antoine Fuqua e o astro Denzel Washington rearranjam os rostos do faroeste, gênero de poder indiscutível, mas historicamente branco.
Washington lidera um bando de pistoleiros que inclui um mexicano (Manuel Garcia-Rulfo), um índio Comanche (Martin Sensmeier) e um asiático bom de faca (Lee Byung-hun). Ainda sobra espaço para a personagem de Emma (Haley Bennett), a brava mulher que contrata os sete justiceiros para defender a cidadezinha de violentos invasores.
“Independence Day – O Ressurgimento”
Abertamente gay, o veterano diretor de blockbuster Roland Emmerich inseriu uma breve cena na continuação do sucesso “Independence Day” (1996). É tão curta que chega a ser pueril. Vistos no filme original, os personagens cientistas dos atores Brent Spiner (à direita, de jaleco) e John Storey trocam palavras dóceis no leito de morte de um deles.
“Procurando Dory”
Já dava para desconfiar que a revelação lésbica de “Procurando Dory” seria pouco memorável. Mas poderia ser um tantinho mais cuidadosa ou marcante. Numa das várias sequências de correria e confusão do filme, um casal surge assustado num frame e logo sai de cena. A Disney preferiu ficar só na repercussão adiantada pelo trailer.