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Metrópoles em Cannes: Confira nossas críticas de 40 filmes do Festival

Voltamos para a Croisette já com saudades após a pandemia.

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Luiz Oliveira
Festival de Cannes
1 de 1 Festival de Cannes - Foto: Luiz Oliveira

O Metrópoles voltou para Cannes! Após a edição de 2020 ser cancelada devido à pandemia, e não estarmos vacinados a tempo do Festival de 2021, chegamos com tudo. Nossos três repórteres assistiram nada mais, nada menos do que os clássicos 40 filmes de sempre, mas este ano a audácia dos filmes deixou um pouco a desejar. Nossas críticas classificaram 2 filmes como excelentes, 8 como ótimos, 11 filmes bons, 14 como regulares e 4 ruins.

Confira abaixo a lista completa:

Excelente – 5 Estrelas

Armageddon Time, de James Gray

Paul (Banks Repeta) é o descendente nova-iorquino de judeus europeus começando a cursar a 6a série numa escola pública do Brooklyn. Muito ligado à família, que inclui a mãe Esther (Anne Hathaway), o pai Irving (Jeremy Strong) e o irmão mais velho Ted (Ryan Sell), Paul é fascinado pelo avô materno, Aaron (Anthony Hopkins), que enxerga no pequeno todo o potencial do mundo. É o começo da década de 80 um pouco antes da eleição de Ronald Reagan, que formou o tipo de conservadorismo hoje degringolando nos EUA, para presidente de seu país.

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Les Pires, de Lise Akoka e Romane Gueret

Apresentar um filme sobre fazer um filme corre o risco de resultados pretensiosos e masturbatórios. Afinal de contas, se trata de algo muito conveniente colocar um personagem que é um diretor de cinema no centro de um drama quando este filme em si é regido por um diretor (ou, neste caso, duas diretoras). O personagem-diretor no filme das reais diretoras Lise Akoka e Romane Gueret é por vezes encantador e irresponsável, acolhedor e frio. Gabriel (Johan Heldenbergh, excelente) está rodando um filme de periferia na França, com jovens atores não profissionais, tentando fazer com que estes extraiam de suas próprias vidas, a força de performances fortes e “verdadeiras”.

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Ótimo – 4 Estrelas

Holy Spider, de Ali Abbasi

Que salvação tem uma parcela da população que é constantemente subjugada e desvalorizada numa sociedade repressora? Se ela já convive com perigos cotidianos e implícitos, o que devem fazer perante uma ameaça urgente e violenta? Este é o ponto de partida em “Holy Spider”, filme que usa o caso real de um serial killer à solta no Irã para denunciar vários aspectos de uma sociedade religiosa e paternalista. A jornalista investigativa Rahimi (Zar Emir-Ebrahimi), que chega da cidade grande para lançar uma investigação própria, é a única força capaz de detê-lo.

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R.M.N., de Cristian Mungiu

Tensões sobre imigração correm alto na Europa. Em seu novo filme, o diretor Cristian Mungiu, vencedor da Palma de Ouro no passado escolhe uma vila romena para servir como um microcosmo da Europa como um todo. Logo no começo do filme, o romeno Matthias (Marin Grigore) desiste de viver na Alemanha com um sub-emprego, após ser chamado de ‘cigano’, e volta para seu país natal. Nesta pequena cidade campestre, sua ex, Csilla (Judith State) é uma das administradoras de uma fábrica panificadora que acaba de contratar dois imigrantes vindos da Sri Lanka. A reação da cidade a essa presença é o que desnuda todo o desenrolar da trama.

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Baradaran-e Leila, de Saeed Roustaee

Inúmeros artigos de filme sobre famílias começam com aquela citação inescapável de Anna Karenina que nem vou citar aqui, só pra ser diferente, mas o filme “Leila´s Brothers” transforma tudo em uma montanha-russa por vezes hilária e outras agoniante. No centro de tudo está a Leila (Taraneh Alidoosti) do título. O título é uma pista interessante. pois se propõe a ser um filme sobre os irmãos dela. Só que este título não tem o nome dos irmãos dela, mas sim o dela. Ou seja, no espaço dela, este corpo maciço de homens acabam atrapalhando tudo, mesmo que não sejam tão importantes quanto ela.

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Tori et Lokita, de Jean-Pierre & Luc Dardenne

O que mais tenho a dizer sobre os irmãos Dardenne? Já ganharam a Palma de Ouro duas vezes e fazem sempre o mesmo filme é o que geralmente digo. “Tori et Lokita”, seu novo filme, não é uma partida da fórmula. Existe aqui, porém, um pequeno ajuste. Seus protagonistas são um menino e uma adolescente negros, imigrantes africanos, sozinhos no mundo, buscando a cidadania belga. Logo na primeira cena, oficiais não acreditam muito na história de Lokita (Joely Mbundu), que afirma ter encontrado seu irmão mais novo Tori (Pablo Schils) em um orfanato, ainda na África, depois de anos separados. Como o processo de permanência de Tori está mais adiantado, Lokita pode estar mentindo para ter mais chance de ser aprovada também.

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Top Gun: Maverick, de Joseph Kosinski

Pouco mudou desde então para Pete “Maverick Mitchell” (Tom Cruise). Ainda avesso a obedecer ordens, não progrediu na carreira militar e continua sendo um piloto de testes para a marinha americana. Após uma sequencia inicial de tirar o fôlego, Maverick está em maus lençois com um Almirante (Ed Harris) quando é convocado de volta para a escola de pilotos Top Gun. Animado para a nova aventura, Maverick tem uma pequena surpresa: ele não irá voar a missão, mas sim treinar pilotos (mais novos, obviamente) para executar a missão.

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Coupez!, de Michel Hazanavicius

“Coupez!”, do ganhador do Oscar Michel Hazanavicius conta a história de um filme de zumbis sendo feito para uma transmissão ao vivo na televisão. Nele, em um só plano, uma equipe de filmagem é atacada por uma infestação zumbi. Aos poucos vamos descobrindo que o local de está num antigo laboratório japonês onde cientistas faziam experimentos para tentar reanimar os mortos. Tentando controlar sua equipe de técnicos e atores, o diretor (Romain Duris) e outros personagens conduzem a câmera, testemunha viva, durante todo o ataque.

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La Maman et la Putain, de Jean Eustache

La Maman et la Putain é um filme “presque” documental, com um estilo de longos planos sequencia, personagens urbanos e comuns e muita, mas muita conversa. Seu foco principal, como muito da Nouvelle Vague, é relacionamentos, e a premissa é impagável. Alexandre (Jean-Pierre Léaud), depende financeiramente de sua amante, Marie (Bernadette Lafont). Mesmo assim, ele ainda nutre sentimentos por sua ex-namorada, Gilberte (Isabelle Weingarten). Certo dia ele dá em cima de Veronica (Françoise Lebrun), e subsequentemente a apresenta a Marie.

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Esterno Notte, de Marco Bellocchio

Marco Bellocchio é um ancião do cinema neorrealista, e correspondeu até com diretores brasileiros do Cinema Novo, como Glauber Rocha. Interpretado e re-interpretado no cinema, o sequestro e assassinato do primeiro-ministro italiano Aldo Moro (Fabrizio Gifuni) na década de 70, pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas, foi um evento que mexeu com muito da estrutura política italiana, para se dizer o mínimo. Por isso, para se fazer um filme que passe da superfície, é sempre necessário se escolher uma perspectiva única e retratá-la. Com mais de 5 horas de série na mão, Bellocchio pôde agora explorar o mesmo evento de perspectivas diferentes e ainda colocá-las lado a lado em momentos distintos.

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Bom – 3 Estrelas

Pacification, de Albert Serra

Haverá um dia paz para os fantasmas do colonialismo? Os crimes cometidos pelo Ocidente contra povos nativos das ilhas do oceano pacífico não são diferentes daqueles que conhecemos aqui na América do Sul. Pouco estudamos sobre a relação entre a França, colonizadora, e o Tahiti, colonizado, exceto pelas pinturas de Paul Gauguin e a série de testes nucleares executados por lá durante o século XX. Porém, entre esses dois extremos, já se estabelece a complexidade da relação. Ou não, já que o fato da Polinésia Francesa ainda ser controlada por um país europeu já está anacrônico.

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Decision to Leave, de Park Chan-Wook

O detetive Hae-joon (Park Hae-il) é um workaholic habitando uma sociedade com poucos assassinatos. O caso de um escalador idoso, que parece ter caído de uma montanha de maneira acidental, porém, ressoa seus instintos. Quando ele e seu parceiro entrevistam a viúva Seo-rae (Tang Wei), bem mais jovem, e de naturalidade Chinesa, o detetive não consegue tirá-la de sua cabeça. Será que esta mulher–linda, fria e calma–seria capaz de empurrar o marido de cima de montanha? Serão estes pensamentos apenas a paranoia de Hae-joon, que sofre de insônia e adora ter um crime perigoso para resolver?

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Broker, de Hirokazu Kore-Eda

Um bebê abandonado pela mãe. Na Coreia, veja, existem instituições que aceitam bebês abandonados como se fossem DVDs de locadora, despachados em um gavetão na parede de ingrejas que separa de vista a pessoa largando o bebê e os que o resgatam do outro lado da parede. Ha Sang-hyeon (Song Kang-ho, de Parasita) trabalha como voluntário numa destas entregas de bebê mas, em vez de receber um bebê e mandá-lo para o orfanato, como seguindo as regras, ele e o comparsa Dong-soo (Gang Dong-won) levam o bebê consigo para tentar vendê-lo no mercado negro e arrumar um bom dinheiro.

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Nostalgia, de Mario Martone

Escoriada por críticos e sentimental para todos os seres humanos, a nostalgia atinge cada um no cerne do ser. Ao colocar o sentimento em evidência logo no título de seu novo filme, o diretor italiano Mario Martone estabelece seu critério para o filme: mergulhar o espectador nas peculiaridades do sentimento. A trama é simples– o executive Felice Lasco (Pierfrancesco Favino) retorna à cidade de sua infância, Nápoles, para cuidar de sua mãe idosa e lá tem de lidar com sua própria partida e com quem ficou.

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Moonage Daydream, de Brett Morgen

Não é por nada que o apelido de David Bowie era camaleão. Morto em 2016, o roqueiro britânico viveu muitas vidas em uma. Para um novo documentário, o primeiro feito em parceria com seus familiares e espólio, o próprio Bowie parece narrar os múltiplos episódios de sua própria vida. A voz é real, e as falas também–tudo foi incorporado de entrevistas realizada ao longo dos anos. A montagem, porém, cria uma viagem pelas ideias de como ele explica para si e para outros a diversidade de seus “personagens”.

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Elvis, de Baz Luhrmann

Você, que ainda verá esse filme, conhece a história, mesmo que não conheça Elvis Presley (Austin Butler). Um jovem de origem humilde, com muito talento e esforço, vira um mega astro. Apaixonado por seus pais e sua esposa, se distancia deles por causa da fama e se perde nas drogas. Com sua vida entrando em espiral, ele tenta voltar ao topo com uma última performance, uma volta às suas raízes, por assim dizer. Até o narrador da história, o empresário Colonel Tom Parker (Tom Hanks) que tira o jovem cantor das feiras country e o direciona ao super estrelado parece inspirado no Salieri do filme Amadeus. Tudo isto já foi feito antes.

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Fumer Fait Tousser, de Quentin Dupieux

Imagine as possibilidades de um programa de TV aonde os Power Rangers, enquanto defendem o planeta contra monstros espaciais, também fizessem propaganda de cigarro e tabaco. Esta é a missão de vida da Tobacco Force, grupo inspirado nos seriais japoneses com 5 membros, cada um com o nome de um dos componentes químicos do cigarro: Benzene (Gilles Lellouche), Nicotine (Anaïs Demoustier), Methanol (Vincent Lacoste), Mercury (Jean-Pascal Zadi) e Ammonia (Oulaya Amamra). No começo do filme, eles já estão batalhando uma tartaruga gigante. Juntando forças, a equipe forma o gigante Tartaruga com Câncer, que, como o nome sugere, derrota o vilão fazendo com que suas células cresçam desordenadamente até que ele exploda.

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Nos Frangins, de Rachid Bouchareb

A reflexão da força policial como uma instituição de brutalidade e subjugação não é nova e nem surpreendente, infelizmente. Na Europa, as feridas vão além do racismo, incorporando também centenas de anos de colonialismo. Especialmente complicadas são as ligações entre França e Algéria. Em seu novo filme, o diretor Rachid Bouchareb usa o assassinato de dois jovens acerca de um protesto em Paris para examinar questões históricas e atuais. O dia 5 de dezembro de 1986 é um dos piores da história da polícia parisiense. Jovens estudantes protestavam uma proposta de reformas no sistema de educação e o efetivo policial recebera ordens de desbandar os protestantes de qualquer maneira. Rapidamente se renderam aos seus piores instintos violentos.

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Marcel!, de Jasmine Trinca

Se cada família tem aquele membro um pouco mais biruta do que o resto da humanidade, como será a vida dessa pessoa? Infelizmente, para a menina (Maayane Conti) essa pessoa é sua mãe (Alba Rohrwacher). As duas passam os dias pelos bairros ensolarados de Roma como artistas de rua, encenando uma pequena peça aonde o cachorro das duas (o Marcel do título) foge e depois retorna. Final feliz! Pelo menos para o cachorro.

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The Stranger, de Thomas M. Wright

Henry Teague (Sean Harris) é um homem com um passado, provavelmente criminoso. Com cabelo e barba longos, roupas pretas e um aspecto meio vagabundo, Henry entra num ônibus e nem ele parece saber pra onde vai. Qualquer lugar aonde possa tocar a vida, imaginamos. Dentro do ônibus ele logo conhece outro sujeito com trabalho a oferecer. Os dois se entendem com olhares e poucas palavras, por isso Henry logo diz: “eu não faço violência”. Aí fica claro, estamos no submundo do crime australiano.

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Corsage, de Marie Kreutzer

Em nome, a imperatriz Sissi (Vicky Krieps) tem tudo o que as pessoas do mundo desejam, exceto o mais importante, sua liberdade. Prisioneira da realeza e do cortejo, das formalidades e dos protocolos, Elisabeth anseia fazer o que lhe der na cabeça. O filme começa quando ela está perto de seu aniversário de 40 anos e a vida segue perfeitamente resolvida. Seu marido, o imperador Franz Joseph (Florian Teichtmeister) lhe é indiferente e seus filhos estão crescidos. Sissi tem um pouco mais de espaço do que antes, mas ainda precisa que criadas apertem as cordas de seu espartilho (o “corsage” do título, em francês) até que ela quase não consiga respirar.

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Regular – 2 Estrelas

Triangle of Sadness, de Ruben Ostlund

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), um casal de jovens modelos, começam o filme no final de um jantar caro, a conta da refeição na mesa entre eles. Carl, que ganha menos no trabalho, espera que Yaya pague, como ela prometera no dia anterior. Yaya, por sua vez, espera que Carl cumpra seu papel de homem e pague. O momento em questão serve como uma prévia do que Ostlund está tramando: discutir, ad infinitum, as estruturas sociais em que nos organizamos. O termo “triângulo da tristeza”, descobrimos logo no comecinho, se refere ao espaço entre nossas sobrancelhas, aonde as primeiras rugas de tristeza costumam aparecer. É também uma metáfora para a contradição da pirâmide social, onde poucos tem o privilégio de estar no topo, e uma larga base compõe seu nível mais carente.

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Showing Up, de Kelly Reichardt

Quão férteis são as pausas de que se compõe a vida? Lizzie (Michelle Williams) tem uma semana para terminar as peças cerâmicas que vão compor sua exibição em uma galeria que tem um alcance um pouco maior do que ela já conseguiu na carreira. Morando à beira de uma escola de artes em Portland, Oregon, a vida, juntamente com uma pequena propensão a evitar o trabalho, parece querer atrapalhá-la quase que propositalmente. É exatamente isto que a diretora, Kelly Reichardt, quer propor: a arte acontece inspirada na vida ao redor, ou o redor se impõe na composição da arte?

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Crimes of the Future, de David Cronenberg

Saul Tenser (Viggo Mortensen) e Caprice (Léa Seydoux): ele desenvolve, de tempos em tempos, novos órgãos dentro de seu corpo (são tecidos sem propósito e até tumorosos), e ela os extrai, operando Saul em uma forma de performance-art, com espectadores. Tal distopia é, obviamente, monitorada por agentes governamentais. Para seguirem a lei, Saul e Caprice sempre registram os órgãos extraídos com as autoridades, especificamente Wippet (Don McKellar) e Timlin (Kristen Stewart), que oscilam entre burocratas responsáveis e fanboys do casal. O maior interesse do governo é controlar sectos interessados em criar uma nova ordem mundial a partir desta nova classe de seres humanos.

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EO
EO

EO, de Jerzy Skolimowski

O cinema é centrado nas histórias de seres humanos. Faz sentido, afinal, é pra estes que as imagens serão projetadas. Contar histórias sobre seres humanos facilita a empatia entre espectador e personagem. Polonês, o filme “EO” tem um burrinho homônimo como um peregrino pela civilização. Quando conhecemos Eo (o nome se refere ao barulho típico do animal), ele mora num circo, e trabalha com uma cuidadora que o ama (Sandra Dryzmalska). Só que circos estão em baixa, e após um protesto ecológico contra o uso de animais, o dono do circo resolve vender Eo para uma fazenda. O que sucede é uma série de vinhetas, pois Eo vira um transeunte, um peregrino pela condição humana/animal, passando de mão em mão. Algumas vezes é pra melhor, outras para pior, com mais de uma ocasião perigosa.

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Walad Min Al Janna, de Tarik Saleh

Sociedades secretas nos geram curiosidade. Se elas exercem poder político, então, uma constelação de interesses se formam em volta dela, todos querendo o pouquinho de informação que lhes dará, também, um pouco de poder. Pois neste filme temos a Universidade Al-Azhar, na cidade do Cairo, uma das maiores instituições do Egito. Não se trata de uma instituição como aqui, mas sim de um dos maiores centros de pensamento Islâmico do mundo, exercendo assim forte influência na política de países muçulmanos. (A universidade, aliás, incorpora uma grande mesquita.) O problema, e o que este filme explora, é que a instituição é completamente fechada e incomunicável com o mundo exterior.

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Le Otto Montagne, de C. Vandermeersch e F. Van Groeningen

Pietro (Lupo Barbiero) e Bruno (Cristiano Sassella) se conhecem ainda na pré-adolescência, em um pequeno vilarejo nas montanhas, e ainda mantém uma amizade que durará a vida inteira. Pietro vem da cidade, de férias, e Bruno mora ali, crescendo como um “homem das montanhas”. A amizade entre as duas crianças é verdadeira e cresce a cada verão, mas a família de Pietro começa a se preocupar com o futuro de Bruno neste lugar tão abandonado. Quando oferecer criar Bruno em Turim, e colocá-lo numa ótima escola, o pai de Bruno reage ferozmente, levando o pequeno para trabalhar com ele em obras e construção. O conflito mais duradouro é esse, do risco de extermínio de um modo de vida montanhesco.

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Three Thousand Years of Longing, de George Miller

Tudo começa em Istanbul, quando a professora Alithea Binnie (Swinton), participando de um seminário sobre mitos e história, compra uma garrafa empoeirada num antiquário. Limpando-a no seu quarto de hotel, Alithea é surpreendida por um gênio (Elba), que após uma cômica introdução, oferece-lhe o de sempre: 3 desejos. Só que neste filme, Alithea sabe muito bem o que é um gênio da lâmpada, e com grande base de estudos, reluta em fazer seus pedidos, sabendo que todas estas histórias terminam mal para o pedinte.

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Men, de Alex Garland

Para quem não sabe que homens são um problema, o novo filme do auteur de sci-fi Alex Garland chega em boa hora. Harper (Jessie Buckley) termina um relacionamento de maneira traumática, e para ela o horror está prestes a começar. Partindo do conselho de uma amiga, ela decide pegar um tempo pra si e alugar uma casa de campo, isolada e afastada de tudo. Assim que chega, porém, Harper estaciona o carro ao lado de um pé de maçã, vê uma fruta suculenta e vermelhinha, arranca do galho e dá uma mordida. O diretor Alex Garland, evidentemente, não está preocupado com sutilezas.

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The Silent Twins, de Agnieszka Smoczynska

June e Jennifer habitam um mundo cheio de palavras, brincadeiras e agressões, assim como todos os irmão e irmãs do planeta. Só que no caso delas, por alguma razão que ninguém saberá, elas levaram a conexão entre gêmeas às suas últimas consequencias, impossibilitando que qualquer outra pessoa, inclusive sua mãe, faça parte desta união. A diretora e sua roteirista montam este mundo lúdico com animação stop-motion e narração um off. Tudo bem enquanto as meninas são crianças, mas quando começa a adolescência, o mundo começa a ser inóspito demais para elas.

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Plus Que Jamais, de Emily Atef

Hélène (Vicky Krieps) está numa encruzilhada. Diagnosticada com fibrose pulmonar, um dia ela simplesmente não conseguirá mais respirar. Pior que a doença é a maneira com a qual todos a tratam: não como alguém que ainda vive, mas como alguém semi-morta. Seu parceiro, Mathieu (Gaspard Ulliel), parece ter o pior ônus de todos, se preocupando com o bem-estar da esposa sem conseguir fingir que a situação lhe entristece. Após ser convencida a sair de casa para um jantar com amigos, Hélène finalmente não consegue mais lidar com as conversas e o fingimento de normalidade. Tem uma explosão emotiva e decide que algo deve mudar.

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Heonteu, de Lee Jung-Jae

O veterano ator coreano Lee Jung-jae, astro do mega-hit da Netflix “Round 6”, parece ter aprendido uma lição importante com essa experiência: qualquer defeito num thriller pode ser subsidiado pela boa vontade gerada com sequencias de alta tensão. Em seu primeiro filme como diretor, ele estabelece um enredo perfeito para isso, pois se trata de um jogo de gato-e-rato entre dois espiões na Coreia do Sul. Ambientado na década de 80, o país vive um regime autoritário assim como uma rivalidade perigosa com a Coreia do Norte.

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Domingo y la Niebla, de Ariel Escalante Meza

Domingo vive uma vida solitária nas montanhas da Costa Rica. Permanece no vilarejo após a morte de sua esposa e a partida de seus vizinhos, que trocaram seus lotes por um montante de dinheiro oferecido por uma empreiteira que busca construir uma estrada pelo lugar. Antigo, ele lida não só com a sensação de que aquele é seu lar e que ele não saberia morar em qualquer outro lugar, mas também com o pressentimento que o espírito da amada ocupa o ambiente.

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Syk Pike, de Kristoffer Borgli

Signe (Kristine Kujath Thorp) e Thomas (Eirik Sæther) estão namorando, mas nenhum parece muito enamorado do outro. Como artistas contemporâneos, ainda tentando aparecer no mercado, estão mais focados nos próprios umbigos. Duas ocorrências mudam as coisas: uma mulher é atacada por um cão no café em que Signe trabalha, e ao socorrer a vítima, a atendente é movida pelo nível de atenção que recebe de policiais, médicos e repórteres locais. Ao mesmo tempo, Thomas ganha reconhecimento por uma série de esculturas que envolvem pedaços de móveis roubados (ele é um tanto cleptomaníaco). O jantar de gala para o qual o casal é convidado, com Signe fica com ciúme com a maneira que todos tratam seu namorado, fingindo, ter um ataque de alergia com a comida e uma simulação de choque anafilático. A enganação rouba o foco de Thomas e o coloca sobre ela.

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Tirailleurs, de Mathieu Vadepied

Thierno Diallo (Alassane Diong) é um jovem senegalês obrigado a servir no exército francês. Seu pai, Bakary (Sy) entende imediatamente o perigo da conscrição, e também se alista no exército, com um nome falso, para tentar encontrar e resgatar seu filho. A surpresa é que Thierno não concorda com o pai, e planeja servir o exército francês até o fim da guerra. A receita do bolo é perfeita: o diretor e roteirista mesclou um evento específico francês (a obrigação de um povo colonizado em servir a França) com uma história íntima e universal (a preocupação de um pai com a segurança de um filho e a busca deste filho pela sua independência familial).

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Ruim – 1 estrela

Close, de Lukas Dhont, venceu o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes

Close, de Lukas Dhont

Você se lembra de seu melhor amigo no ensino fundamental? Aquele com quem você fazia tudo, com quem se abraçava, antes de começar a reparar em meninas? Os amigos Rémi e Léo (Gustav De Waele e Eden Dambrine) são inseparáveis. Aos 13 anos, porém, a linha entre crianças e adolescentes começa a se impor, e a facilidade que os dois meninos tem um com o outro começa a ser notada pelos outros colegas. Um dia, uma menina pergunta, possivelmente como zoação: “vocês são um casal?””

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Les Amandiers, de Valeria Bruni Tedeschi

Amandiers é o nome de uma escola real, dirigida a partir de 1982 por Patrice Chéreau (Louis Garrel). O filme começa com uma sala inteira cheia de alunos passando por testes de seleção para integrar a próxima turma. Professores dificilmente impressionados estão os avaliando, sem a presença de seu diretor, que aparece apenas para o que é precioso. Tudo bem, pois o filme não é sobre eles, mas sim sobre os alunos, aqueles que sobrevivem o processo seletivo e embarcam na jornada.

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Frère et Soeur, de Arnaud Desplechin

Arnaud Desplechin é figurinha carimbada no cinema francês e no Festival de Cannes. Seu cinema também contém muito do que sua cinegrafia nacional propõe, filmes de relacionamentos, aonde adultos capazes conversam por duas horas a fim de resolver seus conflitos na base do diálogo. Dramas familiares são o métier de Desplechin, e aqui ele apresenta Marion Cotillard e Melvil Poupaud como Alice e Louis, irmãos que mal conversaram por vinte anos, mas que agora tem de lidar com a morte próxima de seus pais.

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Zhena Chaikovskogo, de Kirill Serebrennikov

Por trás de todo grande homem existe uma grande mulher, diz o ditado. Pois se Antonina (Alena Mikhailova) achava que seu cortejo do jovem Pyotr Tchaikovsky (Odin Biron), um dos mais famosos compositores Russos da história, resultaria em felicidade, ela errou feio. Tchaikovsky era gay, e apesar do filme evitar seu ponto de vista, mantendo-se fixo em Antonina, vemos ele primeiro refutar os avanços da jovem e, em seguida, aceitar casar-se com ela. Só que o ato é meramente social desde o começo, e ele nunca teve a menor vontade de dividir sua vida com a moça.

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