Me Farei Ouvir: brasilienses produzem filme sobre mulheres na política
Iniciativa de cineastas da capital busca financiamento coletivo online. Ideia é mostrar as dificuldades enfrentadas por eleitas e candidatas
atualizado
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Quatro brasilienses abrem a campanha de crowdfunding (financiamento coletivo on-line), via Catarse, do documentário Me Farei Ouvir. Iniciativa de Bianca Novais, Flora Egécia, Dandara Lima e Bárbara Rodarte e das agências criativas Estúdio Cajuína e Düo Photo.Project, o filme pretende analisar a fundo as trajetórias de mulheres (eleitas e candidatas) na política brasileira, sem recorte partidário ou ideológico.
Após o período de captação junto a apoiadores, as cineastas pretendem gravar e finalizar a produção ainda em 2019. O lançamento está previsto para antes das eleições de 2020, circulando antes por festivais de cinema. Nomes como as deputadas federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Joênia Wapichana (Rede-RR), primeira indígena eleita para ocupar vaga na Câmara, e a estadual trans Erica Malunguinho (PSol-SP), também pioneira na questão da representatividade, serão convidadas para participarem do filme.
Sub-representação persiste
Me Farei Ouvir ainda está, portanto, em fase de pesquisa. Mas as realizadoras já têm um objetivo claro. “Compreender quais as dificuldades que as mulheres enfrentam para ascenderem aos espaços políticos”, descreve Dandara Lima.
Certos dados levantados pela equipe chamam a atenção. Segundo o IBGE, as mulheres representam 50% da população brasileira e são responsáveis por sustentar 40% dos lares. Na política, ocupam fatia de 30% entre os candidatos. Ainda assim, não superam a marca de 15% dos mandatos eleitos no Legislativo.
“O uso de laranjas para cumprimento da cota eleitoral é, até certa forma, de conhecimento público. Mas há outras questões que não chegam aos holofotes. Um exemplo é o fato de muitas mulheres não terem inclusive suporte burocrático para efetivarem as suas candidaturas. Cerca de 40% das candidaturas de mulheres indeferidas pelo TSE nas eleições de 2018 foram por falta de documentação. Isso sem contar a falta de treinamento e apoio por parte dos partidos que são, em sua maioria, chefiados por homens”, explica Dandara.
Apesar da ampliação de mulheres de diferentes realidades eleitas em 2018, também houve uma ascensão de nomes conservadores. “Acreditamos que os próximos anos serão anos de muito embate principalmente quanto a direitos relacionados ao corpo e à liberdade individual das mulheres”, analisa.
“Mas também esperamos que, assim como as deputadas constituintes colocaram suas diferenças de lado naquilo que ficou conhecido como o Lobby do Batom, as mulheres eleitas em 2018 façam o mesmo para garantir direitos adquirimos e as medidas de proteção à dignidade da mulher, como a Lei Maria da Penha. Essa é uma agenda que ultrapassa as barreiras partidárias e ideológicas”, completa.
Leis por elas e para elas
A presença de mais mulheres na política importa, lembra Dandara, não apenas por uma questão de equalização de gêneros e representatividade. “São necessárias mulheres para pensarem e proporem leis e políticas públicas para mulheres”, reforça.
Ela cita como exemplo a Lei da Virgindade, que permitia ao marido pedir anulação do casamento se descobrisse que a mulher não era virgem. Extremamente machista, a lei só caiu em 2002, com o novo Código Civil. Mas Dandara lembra que a proposição, de autoria da primeira mulher eleita ao Senado, Eunice Michiles (AM), é dos anos 1980.
“Claro que hoje ela (a lei) parece retrógrada e absurda, mas foi necessária uma mulher para reconhecer e propor a mudança. Quantas outras medidas não podem ser propostas e criadas através da força da experiência das mulheres? Acreditamos que elas têm mais chances de descobri-las e propô-las”, reflete a realizadora.
Além do filme, as cineastas também pretendem organizar uma cartilha intitulada Manual da Mulher Candidata, a ser distribuída gratuitamente. “A publicação explicará o passo a passo burocrático para que mais mulheres possam se candidatar”, adianta Dandara.