Maria Fernanda Cândido fala sobre filme de máfia em Cannes
Atriz brasileira participou da competição do Festival de Cannes pela primeira vez, com coprodução ítalo-brasileira sobre mafioso que vira delator
atualizado
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Após sua primeira experiência no tapete vermelho do Festival de Cannes, a atriz brasileira Maria Fernanda Cândido se sentou com o Metrópoles para uma conversa sobre o filme Il Traditore, que em português significa O Traidor, uma referência à história de Tommaso Buscetta, ex-mafioso italiano que se mudou para o Brasil na década de 1970. Dirigido pelo veterano Marco Bellocchio, “é um cinema com ‘c’ maiúsculo”, caracteriza a artista, que assistiu à película pela primeira vez na ocasião de sua estreia na mostra competitiva do evento.
O filme começa na Itália, na década de 1980, em uma reunião amigável entre famílias rivais da máfia siciliana. Buscetta, porém, já está com um pé no Rio de Janeiro, pois planeja se aposentar da Cosa Nostra no país natal da esposa, Cristina (sua terceira, com quem tem filhos pequenos). Escapar do crime após uma vida inteira dedicada a ele é impossível, e, contra sua vontade, o ex-mafioso se vê indo e vindo da Itália, uma vez extraditado pelo governo brasileiro.
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À personagem Cristina cabe o papel de esposa dedicada. “Existia um amor muito grande entre os dois, uma simbiose fantástica, uma história que durou até o fim da vida dele”, conta Maria Fernanda. “Ela ajudou a criar os enteados, não só os filhos dela. Ela acabou exercendo uma influência grande sobre o Tommaso, no sentido de incentivar ele a fazer a delação.” O personagem entrou para a história por ser o primeiro grande capitão a virar pentito, um informante e delator.
Apesar de aceitar esta vida, Cristina “nunca esteve confortável neste lugar, de ser a esposa de um mafioso. Ela não foi uma mafiosa. Era sempre esta mulher que estava ali, fazendo uma oposição a isto, no limite do que era possível”. A personagem vivida por Maria Fernanda é a única mulher do filme com um papel de destaque ou mesmo com falas. “É muito solitária esta presença feminina dentro do filme. Você tem um filme que retrata um universo absolutamente masculino e machista. E aí você tem o resultado disto: ‘é este o mundo que a gente quer?’. Um mundo assim, com tanta competição, com tanta ganância? Com a questão da violência?”
Por razões que ficarão óbvias a quem assistir ao filme, Maria Fernanda não teve a chance de encontrar a verdadeira Cristina, pôde contar apenas com material fotográfico para estudar sua personagem. “Mesmo com pouco material, você consegue fazer uma leitura. Maria Cristina é uma mulher muito culta e muito cultivada. Vem de uma família muito culta, de advogados. Ela também é advogada… Fala seis, sete línguas. Uma mulher muito inteligente, muito forte. Acho que ‘sólida’ é a palavra para esta pessoa – que se apaixona por um criminoso. Aí temos as contradições da existência humana”, explica.
É importante destacar que se trata de mais uma primeira vez para a atriz: ela nunca antes havia feito uma cena de ação como a do início desse filme, em que Cristina é pendurada de um helicóptero como uma forma de chantagear seu marido. “Eu não tinha noção do grau de dificuldade que era fazer uma cena assim. No dia seguinte, eu fiquei muito dolorida por causa dos cabos de aço, perdi um terço do meu cabelo!”, brinca. A experiência mudou sua percepção sobre assistir a sequências parecidas em outros filmes.
Il Traditore foi aplaudidíssimo pelo público da sessão de gala em Cannes. Que venham mais primeiras vezes.