Mais uma locadora se vai: Loc Vídeo encerra atividades e liquida acervo
Ponto de referência na memória afetiva de muitos amantes do cinema, a loja da 104 Sul venderá todo o estoque até o dia 30 de outubro
atualizado
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Primeiro foram os DVDs piratas, depois os serviços de exibição em streaming, especialmente o Netflix. Em todo país, as locadoras de filmes têm tido um destino comum: fecham as portas para evitar um prejuízo maior. E com a Loc Vídeo não foi diferente. Fundada em 1993, ela encerra as atividades em 30 de outubro, último dia de vendas do catálogo da loja, localizada na 104 Sul.
Mais de 42 mil DVDs foram colocados à venda. Os valores variam de R$ 2 a R$ 10 e, dependendo da quantidade de exemplares que a pessoa leva, é possível obter um desconto. Esse processo tem sido muito doloroso, tanto para clientes como para os funcionários do estabelecimento. “Teve gente que chorou ao saber da notícia”, conta Larri Reis, 57 anos, 15 deles dedicados à locadora.
Houve momentos bons e ruins, mas a maior parte deles foram legais. O que vivi aqui estou levando para sempre comigo
Larri Reis
“Uma série de fatores levaram ao fechamento da loja. Durante da Copa de Mundo de 2014, percebemos que diminuiu o hábito das pessoas de ver filmes. O movimento nunca mais foi o mesmo dali em diante. Nos últimos três meses, a situação piorou. Diante de tudo isso, somado ao reajuste do aluguel, a solução encontrada pelo proprietário, Fernando Destro, foi fechar as portas”, diz.
O surgimento da Netflix também colaborou na perda de clientes, mas não teve tanta força. De acordo com Larri, a pirataria e a crise econômica contribuíram mais para a queda de movimento. “O serviço de streaming tem poucos clássicos, mas que podem ser encontrados facilmente na internet. E quando falta dinheiro, a primeira coisa que as pessoas cortam é o entretenimento”.
O futuro da filial da Loc Vídeo de Águas Claras (Avenida Castanheiras) ainda é incerto. Mas, provavelmente, deve seguir o mesmo destino da matriz.
As histórias de Larri
Larri — que antes de chegar à Loc Vídeo já trabalhava no ramo de locadoras — recebeu duas propostas de emprego, mas ainda não sabe o que fará a partir do dia 31 de outubro. A única certeza dele é que guardará com carinho as lembranças de tudo que viveu na loja.
“Acompanhei vários inícios e fins de relacionamentos. Já aconteceu de uma cliente amiga trazer o namorado novo para saber o que achava del’. Quando a mãe dela, que morava em outro Estado, perguntou a minha opinião, disse que ‘aprovava’ o rapaz”, lembra, aos risos.
Um dos momentos mais simbólicos nessa trajetória aconteceu há alguns anos. Um cliente, que é médico, chegou à locadora para jogar conversa fora com Larri. Papo vai, papo vem, Larri mostrou a ele uma hérnia incômoda, que o acompanhava havia algum tempo. Após fazer os exames indicados, o cinéfilo descobriu que estava com um câncer no rim. “Falaram que se a doença tivesse sido descoberta semanas depois, eu ficaria preso a uma máquina de hemodiálise para sempre. A locadora me salvou”.
Os top 3 de Larri
Quando perguntado pela repórter do Metrópoles quais são os três filmes que todo mundo precisa assistir, o balconista indicou dois títulos internacionais e um nacional. Confira os top 3 de Larri:
“Dias de Ira” (1943), de Carl Theodor Dreyer.
“A Partida” (2008), de Yojiro Takita.
“O Homem que Virou Suco” (1981), de João Batista de Andrade