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“Mad Max: Fury Road” como uma complexa obra feminista

Só chegaremos no final da estrada se homens e mulheres andarem – ou correrem – juntos

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“Mad Max – Fury Road” é o blockbuster que todos nós queremos ver: um clímax de 2 horas de duração, com poucos diálogos, um design de produção que é um verdadeiro coice nas nossas mentes, um ritmo frenético e uma fotografia impecável. O melhor filme de ação do ano. George Miller criou uma pérola. Uma pérola que, aos desavisados, pode parecer uma superficial ode ao feminismo. Mas, desculpem meus caros, é muito mais que isso.
O exato motivo que me levou a sair maravilhada da sala de cinema foi o fato de ele ser absolutamente panfletário; um filme-tese que está lá, escancarado, para provar um ponto: mulheres e homens não conseguem viver um sem o outro.

George Miller, diretor e roteirista, não quis reescrever ou dar continuidade a nenhuma das histórias já contadas nos filmes da saga Mad Max, apesar da feroz utilização de elementos – relevantíssimos, diga-se – dos anteriores, tais como o ambiente distópico pós-apocalíptico, as gangues de motocicleta e a obsessão por carros velozes.

Nesse ambiente partiu-se da ideia de que a humanidade sucumbiu e o planeta foi reduzido a um imenso deserto de tons avermelhados durante o dia e azulados à noite, em que os conflitos atuais pelo controle da água se fortaleceram. Daí, quem tinha o controle desse elemento era imediatamente lançado ao status de Messias, aqui personificado na figura de Immortan Joe, um tal cavaleiro apocalíptico com dentes de cavalo que comandava a Cidadela, sempre protegido por seus guerreiros, os War Boys, capazes de morrer de pé para adentrar o paraíso de Valhalla.

E é nesse contexto que George Miller desenvolveu o encontro entre Max (Tom Hardy) e a Imperatriz Furiosa (lindamente interpretada por Charlize Theron) que trabalhava para Joe mas, em busca de redenção, fugiu em uma das máquinas de guerra e para levar as escravas sexuais de Joe para sua terra natal, o Vale Verde. E é Max quem ajuda a Imperatriz nessa missão suicida.

Furiosa

São tantos elementos complexos e tanta simbologia incrustada nesse filme que é praticamente impossível falar de tudo o que existe ali. Mas a grande questão que se coloca em Fury Road é: pretendia George Miller desconstruir a premissa que há em todos nós de que Max, o estereótipo do homem forte, durão e viril seria o protagonista e Furiosa a coadjuvante que vivia à sombra daquele ícone da masculinidade hollywoodiana?

Creio que a resposta seja um sonoro sim. Sim porque, verdadeiramente, a protagonista é a Imperatriz Furiosa, o perfeito retrato da mulher moderna, grandiosa em todos os aspectos. O título do filme revela que a pretensão de George Miller foi poeticamente traçar a trajetória, revelar a estrada do empoderamento feminino nos últimos 30 anos. Foi retratar, sem necessidade de falas, que a mulher buscou e alcançou sua liberdade em todos os sentidos. Mas não se resumiu a isso.

George Miller não reduziu Max a um coadjuvante sem graça, sem cabelo, sem fala, sem sangue, sem nada. Ao contrário, transformou Max em um importantíssimo fio condutor daquela formidável história que estava sendo contada, e conseguiu abrir uma janela paralela para se discutir como vivem os homens nos tempos do empoderamento da figura feminina.

A mulher no apocalipse

Na medida em que a mulher alterou, fundamentalmente, a dinâmica social ao se tornar protagonista da sua própria vida, não estaria o homem agora perdido, perdendo o espaço que antes era só dele? Se antes a fronteira entre homens e mulheres era muito bem definida, em que homens podiam tudo e mulheres eram resumidas a coisas, hoje essa linha se borrou em razão da redefinição do papel da mulher no mundo moderno e agora, cabe ao homem, redefinir o seu próprio papel. A partir do momento em que o homem perde seu protagonismo e se vê, de alguma forma, amordaçado, ele descobre que, a partir dali, se é realmente preciso alcançar um objetivo, é fundamental que a vida seja compartilhada, agora sem as imposições sociais ultrapassadas de diferenças entre os gêneros. E foi exatamente nessa descoberta que Max encontrou seu renascimento, sua redefinição.

A partir de então, as personagens passam a se completar, a se auxiliar e muitas vezes se revelam melhores quando os papeis antes estereotipados são trocados. Isso fica claro, por exemplo, na cena em que Max dá à Furiosa as últimas balas que matariam um dos seus algozes; ou quando o próprio Max, doador universal, dá seu sangue – elemento fundamental à vida e sempre retratado por figuras femininas – para salvar Furiosa da morte. Ou, ainda, quando há a redenção de Nux, um War Boy que almejava a glória, mas só se percebeu valorizado e inserido em um sistema justo ao se relacionar, em pé de igualdade, com Furiosa, as cinco esposas de Immortan Joe e Max.

E é justamente nesse complexo emaranhado de informações que George Miller, usando de uma sutileza peculiar, lança o incômodo final e mostra, sem pudores, que apesar de tudo, só chegaremos no final da estrada se homens e mulheres andarem – ou correrem – juntos. Foi isso que George Miller pretendeu mostrar. E mostrou, com louvor.

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