Luciano Vidigal debate presença negra no cinema com filme Kasa Branca
O ator Luciano Vidigal lança o seu primeiro filme solo, intitulado Kasa Branca, e comenta sobre representatividade negra no cinema
atualizado
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O sucesso de Ainda Estou Aqui, que conquistou três indicações ao Oscar 2025, atrai novamente a atenção do público para o cinema feito no Brasil. E, em meios às várias discussões levantadas, a representatividade racial na sétima arte segue um tema importante. É neste contexto que surge Kasa Branca, filme do cineasta Luciano Vidigal, que, criado e nascido na comunidade que carrega no nome, optou por contar apenas com pessoas negras e da periferia na equipe do projeto.
A produção traz Big Jaum no papel de protagonista, além de Teca Pereira, Diego Francisco, Ramon Francisco, Gi Fernandes e Babu Santana. Na trama, Dé (Big Jaum) é um adolescente negro da periferia do Rio de Janeiro que descobre que sua avó está na fase terminal do Alzheimer. Ele tem a ajuda de seus dois melhores amigos para enfrentar o mundo e aproveitar os últimos dias de vida da mulher.
Em entrevista ao Metrópoles, Luciano exaltou a importância dessa representatividade em nosso cinema e que pretos e pretas estão contando as suas próprias histórias e assumindo as próprias narrativas. “Porque nós somos a maioria desse país. Tem uma história que vem desde a escravidão. É uma história de muita dor”, descreveu.
Na visão do diretor, mesmo com as mudanças no debate racial nos últimos ano, pessoas negras ainda aparecem em papéis secundários e tem trajetórias apagadas nas tramas. “A gente tem muitos filmes em que nós somos colocados como objeto e que, infelizmente, são produções que a gente se sente até violentado de formas estereotipadas e estigmatizadas sobre a nossa narrativa”, completou.
Kasa Branca
Antes de lançar o seu primeiro filme solo, Luciano Vidigal dirigiu Lá no Alto, que recebeu prêmios em festivais dentro e fora do Brasil. O cineasta explicou que a experiência o ajudou a criar a narrativa para Kasa Branca, um filme que fala sobre afeto.
“Eu percebi que esse cinema negro afetivo, é muito universal. Ele se comunica mais rápido, eu faço cinema para me comunicar. Então, foi um processo longo. Como o filme é baseado em uma história real, pesquisei muito sobre a vida desses garotos que existem no Vidigal”, descreveu.
O processo começou bem antes da pandemia, com captação e pesquisa, e contou com um longo processo de roteiro. As gravações foram iniciadas em 2022. Mas existia uma desafio maior.
“Eu lembro que demorou para eu me identificar com o projeto, porque eu não via esse protagonismo preto, humano, incoerente, que hoje a gente está conseguindo fazer com essa geração pós-anos 2000. Eu via mais na música, no samba do Cartola, da Dona Joana Hilária, depois no rap do Racionais. Então, a minha maior inspiração começou aí, no samba e no rap. E a rua. Eu falo que a rua é 24 horas. A rua, a favela, é o que mais me inspira como diretor de cinema”, declarou.
Uma outra inspiração para sua história foi a relação de seu vizinho com os amigos. Aquele encontro formou uma nova família e, na visão do diretor, havia ali um espaço a ser explorado. “Existe uma escassez na cinematografia brasileira, [não tem filmes que trazem] o jovem preto como protagonista e abordem a premissa de família, amizade”.
Repercussão nacional e internacional
Assim como Lá no Alto, Kasa Branca está passando por festivais nacionais e internacionais, sendo agraciado com prêmios no Festival do Rio, Janela de Recife, Festival de Gostoso, além de ter representado o Brasil no Festival de Torino, na Itália.
“Quando entra em festivais importantes, a gente já celebra. Quando é reconhecido pela crítica e pelo público, a celebração aumenta. Quando ganha prêmio da crítica é muito importante, mas também quando ganha prêmio do público. O filme é feito do povo para o povo. Eu sou filho de empregada, então, eu sou raiz desse povo brasileiro”, concluiu.