Life After Design: vida em Brasília é tema de documentário canadense
Produzido ao longo de mais de cinco anos, longa ganha sessão gratuita no Cine Brasília nesta quinta (28/2), às 20h
atualizado
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Diretor de “Brasília: Life After Design”, documentário inédito sobre a capital do Brasil, Bart Simpson ficou cerca de um ano e meio por aqui. Entre idas e vindas, no espaço de cinco temporadas, pesquisou, produziu e filmou a paisagem urbana da cidade, seus habitantes, seus ruídos e espaços. Em sua estreia como cineasta, o canadense tenta entender como funciona a dinâmica coletiva e pessoal de um dos lugares mais planejados do mundo. O longa ganha sessão gratuita e única nesta quinta (28/2), às 20h, no Cine Brasília.
Apesar de acompanhar habitantes (comuns e conhecidos) da capital, Simpson diz que o filme não se baseia em entrevistas. “Gravamos depoimentos para nos dar uma base e nos nutrir com essa ideia de meditar em uma cidade. Mas eu estava mais interessado em um estilo mais observador. Esperamos dar ao público a experiência de como é viver em Brasília por algum tempo”, explica.
Para tal, imagens de carros e ônibus compõem a trama, seguindo personagens ou simplesmente mostrando a vibração das ruas. “Tenho o som do trânsito cravado no meu cérebro”, brinca, sobre as longas caminhadas que fez pelas entrequadras. “Um dos temas do filme é explorar como as pessoas se conectam a uma cidade construída para dividir. Movimento e distância ganham uma grande importância na história”, analisa.
Uma das principais aliadas de Simpson durante a produção, a conterrânea Nancy Marcotte trouxe um olhar estrangeiro já habituado ao Brasil. Conhecida por seu extenso trabalho de pesquisadora para cinema, ela morou em São Paulo e fala português fluentemente. Atuou no filme como corroteirista ao lado do cineasta e assistente de direção.
“Sabia que precisava de um ‘parceiro de sparring’. Alguém que me lembrasse da perspectiva de alguém de fora e que garantisse que eu fizesse as decisões certas”, aponta o diretor. Foi ela, por exemplo, que achou o comerciante Willians, personagem central de Life After Design.
“Um dia estávamos filmando na Catedral e queria alguém que falasse sobre aquele lugar e outras construções do ponto de vista de uma ‘pessoa comum’. Esse era um grande foco do filme. Ouvi alguém conversando alto atrás da gente e a Nancy disse: ‘Por que eu não descubro quem é e converso com ele?’ A história de Willians se movimenta no documentário de uma maneira que não poderíamos prever”, continua.
Diversos olhares estrangeiros
Após as gravações, a obra ganhou forma durante a pós-produção, na Escócia, onde o título foi editado. Outros olhares de fora se associaram ao de Simpson durante os retoques finais e forneceram novos elementos para a finalização do documentário.
Montador de Life After Design, Colin Monie trabalhou em Às Margens do Rio Sagrado (2005), produção Canadá/Índia indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro. “Ele tem um forte senso de espaço. Vive e respira Glasgow. Alguém que conhece muito bem uma cidade tende a ter nível parecido de perguntas detalhadas sobre outros lugares”, diz o canadense, que entregou uma cópia de O Novo Guia de Brasília, da arquiteta e artista Gabriela Bilá, para a equipe de montagem.
O diretor de fotografia do longa, Alex Margineau, romeno radicado no Canadá, notou várias semelhanças entre Brasília e Bucareste, capital do país europeu, já no primeiro dia de filmagem na Esplanada.
Nosso time era pequeno mas diversificado, e isso trouxe um grande benefício para o resultado final
Bart Simpson, diretor
Passagem por festivais
Uma vez pronto, Life After Design passou em mais de 30 eventos cinematográficos pelo mundo, incluindo alguns voltados para títulos sobre arquitetura. A primeira exibição aconteceu no Sheffield Doc/Fest, um dos mais relevantes painéis para a produção documental no mundo. E foi premiado no Arquiteturas Film Festival (Lisboa) e FICARQ (Madri).
“As plateias da Europa oriental realmente se conectaram com o filme. Tivemos sessões esgotadas na Polônia e depois vendemos os direitos de exibição para a TV daquele país. Há um interesse lá em como cidadãos de outras democracias relativamente recentes, como o Brasil, lidam com as mudanças no meio ambiente, na economia e na interconectividade”, avalia o cineasta.
Nessa temporada de festivais, não faltaram brasileiros nas sessões. “Não sei o que acontece. Como australianos e irlandeses, brasileiros aparecem em todos os lugares. As pessoas com quem conversei disseram que conseguimos capturar uma experiência real. Para mim, esse foi o feedback mais recompensador”.
Brasília: Life After Design
Nesta quinta-feira (28/2), a partir das 20h, no Cine Brasília (106/107 Sul), projeção seguida de debate. Telefone: (61) 3244-1660. Haverá uma recepção antes da sessão, às 19h. Entrada gratuita. Mais informações no Facebook