Kika Sena sobre visibilidade trans no cinema: “Vamos arrombar portas”
Artista levou o prêmio de melhor atriz do Festival do Rio por sua atuação em Paloma, de Marcelo Gomes, sobre mulher trans que sonha se casar
atualizado
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Rio de Janeiro – Paloma, filme de Marcelo Gomes sobre uma mulher trans que sonha em se casar, foi o grande vencedor do Festival do Rio. O longa conquistou três troféus Redentor para casa: melhor longa de ficção, melhor atriz para Kika Sena, e o Felix de melhor filme brasileiro.
Baseado em uma história real, o longa acompanha a vida de Paloma (Kika), mulher transgênero que vive no sertão de Pernambuco e sonha em se casar na igreja com o namorado Zé (Ridson Reis). Para Kika Sena – segunda trans a ganhar um prêmio de atriz na competição carioca –, a grandiosidade do filme está em alcançar a todas as pessoas. “Para além da questão da travestilidade, de todas as adversidades que a personagem enfrenta, ela é uma pessoa que corre atrás de um sonho. E quem não tem direito a um sonho? A fé e a determinação dela afetam muita gente”, considera, em entrevista ao Metrópoles.
Nascida na região metropolitana de Maceió, Alagoas, a luta pelo sonho também é um ponto em comum entre Kika e Paloma. “Desde criança sempre sonhei em trabalhar com cinema e teatro, mas não tinha oportunidade. Não imaginei que chegaria esse momento, mas antes mesmo de qualquer premiação, quando a gente corre atrás, vale a pena sonhar”, pontua.
Ciente dos espaços que ainda são negados a pessoas trans e travestis no Brasil e no mundo, Kika Sena aproveitou o bate-papo com o portal para deixar um recado a quem ocupa espaços de privilégio. “As opressões que a gente sofre, não fomos nós quem criamos. Então, precisam abrir as portas para que a gente entre, senão a gente vai arrombar. Esse prêmio de melhor atriz é o retrato de um arrombamento de porta, de um chute na porta do sistema que eu, junto com todas as outras travestis do cinema estão fazendo. Às trans, eu digo: tirem as navalhas da bolsa, para que não sejamos mais violentadas”, conclui.
Premiação
Mato Seco em Chamas, do ceilandense Adirley Queirós e Joana Pimenta, também levou dois importantes prêmios no Festival do Rio: o especial do júri e o de melhor fotografia, para Pimenta. Híbrido de documentário e ficção, o filme conta a história de um grupo de mulheres da favela de Sol Nascente, em Ceilândia (DF), que se apossa do petróleo que abunda no subsolo e passa a comandar toda uma rede de comércio ilegal do produto.
Veja a lista completa de vencedores da 24ª edição do Festival do Rio.
*A repórter viajou a convite da organização do evento.