Jornalistas investigam passado de Bush em “Conspiração e Poder”
Drama reúne Cate Blanchett e Robert Redford reproduz bastidores de reportagem sobre o serviço militar do ex-presidente originalmente exibida em 2004
atualizado
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“Conspiração e Poder” tem muito a ver com o momento crítico que o Brasil está passando, aonde a queda de braço entre boa parte da mídia tendenciosa e um governo em crise moral, vem sacudindo e confundindo a opinião pública numa sinuosa montanha-russa de mentiras escabrosas, verdades veladas e interesses podres. Ingredientes sujos que desnudam situação difícil de engolir, mas infelizmente real: a de que vivemos num sistema vendido.
Mas sempre foi assim. Aqui no Brasil e em qualquer lugar. Nos EUA, em setembro de 2004, por exemplo, na briga pela reeleição, George W. Bush, o filho, teve reputação arranhada com a denúncia de que fez uso de influência privilegiada para não lutar na Guerra do Vietnã em 1972. Ou seja, o homem mais poderoso do planeta não passava de um covarde, mas fingia ser um herói nacional. Enfim, Bush filho teria honrado seus compromissos militares?
Essa história foi desmascarada pela equipe do consagrado programa jornalístico da CBS News, “60 Minutos”, então comandado pela produtora Mary Papes (Cate Blanchett) e o veterano âncora Dan Rather. As investigações corriam a todo vapor, com revelações bombásticas surgindo à sombra de fontes aparentemente confiáveis, mas a credibilidade das informações foi questionada quando um entrevistado confessou, por medo, ter mentido.
Pior, uma das provas apresentadas em rede nacional não teria legitimidade, gerando onda de desconfiança e conflito na imprensa americana, abalando a imagem da poderosa emissora. “Somos o padrão de referência”, diz, paradoxalmente o jornalista Dan Rather.
https://youtu.be/b9soMBJ2J-8
Narrativa fake e apática
Estreia do roteirista James Vanderbilt (“Zodíaco”) na direção, “Conspiração e Poder”, baseado em livro da jornalista Mary Papes, tem enredo parecido com o vencedor do Oscar deste ano, “Spotlight – Segredos Revelados”. Mas o resultado como produto de cinema destoa. Enquanto esse último envolve o público numa trama intrigante cheia de reviravoltas, o primeiro se arrasta numa narrativa fake e apática com seus personagens escusos e histórias mal contadas.
O que é uma pena porque, a reboque de elenco de primeira formado ainda por Dennis Quaid, Elisabeth Moss e Topher Grace, o filme traz momentos interessantes quando mostra a melindrosa relação dos jornalistas com suas fontes e da relação promíscua da imprensa, como um todo, com o poder. No caso aqui e na realidade brasileira atual, na mania leviana de conduzir as reportagens pela opinião política do veículo, implodindo a imparcialidade.
No mais, prestes a completar 80 anos em agosto próximo, Robert Redford tem oportunidade aqui de fazer um link com outro “homem da mídia” que interpretou 40 anos atrás, o jornalista Bob Woodward de “Todos Os Homens do Presidente”. Ok, o feeling não é o mesmo, os tempos como eternizou Bob Dylan naquela velha canção mudaram, mas uma coisa ainda perdura. A do desejo inabalável de contar boas histórias. Histórias marcadas pelo signo da verdade, é claro.
Avaliação: Regular
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