Filmes brasilienses fazem sucesso no circuito de festivais internacionais
O longa Valetina e o curta Silêncio se destacaram em agosto com prêmios e indicações no Brasil, Europa, Ásia e Estados Unidos
atualizado
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O cinema da capital federal continua mostrando seu potencial em festivais internacionais, mesmo diante das limitações impostas à indústria por causa da pandemia do novo coronavírus. Em agosto, duas produções com DNA brasiliense foram reconhecidas com prêmios e indicações internacionais.
O longa-metragem Valentina, lançado em Los Angeles na semana passada, recebeu o prêmio de Melhor Interpretação, pela atuação da atriz goiana Thiessa Woinbackk, no Outfest LA, mais antigo e relevante festival LGBTQ dos EUA. Já a diretora Bruna Carolli, que dirigiu despretensiosamente o curta Silêncio, em Brasília, acaba de emplacá-lo em dois festivais, na Índia e na Espanha.
Primeiro longa dos irmãos Cássio e Erika Pereira, Valentina também marca a estréia de Thiessa. A youtuber transexual interpreta uma adolescente de 17 anos, também trans, que dá nome ao filme. No enredo, ela vive e revive situações complexas que muitos jovens enfrentam diariamente.
“Tenho muito em comum com a Valentina, passamos por muitas coisas semelhantes como chegar à balada, precisar mostrar o RG e o segurança achar que eu tô ‘curtindo’ com a cara dele. Acho que toda mulher trans vai se identificar um pouquinho”, comentou a atriz, em entrevista para o Metrópoles.
Ser transgênero foi um dos pré-requisitos para interpretar Valentina. Thiessa, inclusive, possui um canal no YouTube para falar sobre o tema. De acordo com ela, essa compreensão também a ajudou a brilhar no papel. “Me entreguei para o filme, para a produção, aprendi muito e o resultado foi incrível. É um sonho”, diz ela, que é natural de Catalão (GO).
Mulheres na pandemia
Assim como Valentina, o curta Silêncio, da diretora brasiliense Bruna Carolli, também mergulha em experiências difíceis, compartilhadas por várias mulheres. O olhar, contudo, é voltado para o contexto da pandemia do novo coronavírus que ao mesmo tempo em que agravou problemas inerentes a todas elas, os tornou invisíveis.
“Trabalho com filmagem há 15 anos e comecei a ver vários colegas fazerem homanagens a profissionais de saúde, filmes com mensagens positivas, tudo muito iluminado, otimista. É legal, mas ao mesmo tempo, eu estava ali, lendo notícias sobre a situação se agravando cada vez mais, em relação o vírus e seus efeitos. As mulheres sendo muito atingidas. Pensei: ‘ninguém vai falar sobre isso?'”, recorda Bruna.
Ela começou, então, a reunir uma série de depoimentos de mulheres contando como o cenário atual havia remexido suas vidas. Os relatos inspiraram um texto de sua autoria, transformado em curta premiado com ajuda de apenas seis profissionais.
A ideia era divulgar o resultado só nas redes sociais, mas o feedback foi tão positivo que a diretora decidiu inscrevê-lo em festivais. Para sua surpresa e felicidade, o enredo que emocionou os internautas também tocou críticos da sétima arte.
Depois de ganhar o prêmio de Melhor Curta de Arte por júri popular no Festival de Curtas Mulheres no Cinema, Bruna soube, nesta semana, que seu trabalho concorre ao Festival Internacional de Malhaar, na Índia, e ao prestigiado Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, realizado no País de Basco, na Espanha.
“Toda vez que recebo uma confirmação como essa fico pensando que mais mulheres vão ver o filme e isso me deixa bastante emocionada. É um curta muito forte, que fala sobre situações em que elas conseguem se reconhecer, mesmo que uma ou outra não tenha vivido na pele. Ao mesmo tempo, não estereotipamos essas fragilidades e o resultado é algo muito sensível e delicado”, diz.
Assista ao curta:
s i l ê n c i o from Bruna Carolli on Vimeo.