Zé: filme resgata luta de estudante assassinado pela ditadura militar
Inspirado no livro homônimo, de Samarone Lima, o filme traz a história de José Carlos Novais da Mata Machado, jovem que desafiou a ditadura
atualizado
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O filme Zé estreia nos cinemas nesta quinta-feira (29/8) e promete transportar os espectadores de volta no tempo para reviver um período marcante da ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985. Inspirado no livro homônimo de Samarone Lima, o longa narra a história de José Carlos Novaes da Mata Machado, um jovem que ousou desafiar as regras impostas pelo regime da época.
Vivido pelo ator Caio Horowicz no longa, Zé foi um dos principais líderes do movimento estudantil contra a ditadura civil-militar no Brasil e dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista. Como muitos jovens da época, ele era movido por sonhos e viveu na clandestinidade para escapar da repressão, enquanto lutava por um Brasil mais justo.
Em 28 de outubro de 1973, o regime militar brasileiro assassinou Mata Machado em Recife, tornando-o mais uma vítima da repressão e violência sistemática que marcaram essa era sombria da história do país.
Diretor do longa, Rafael Conde conversou com o Metrópoles e compartilhou detalhes sobre o filme. Também responsável pelo roteiro, ele conta que assim como Zé se envolveu em movimentos estudantis quando era jovem. Foi essa conexão com o tema que o motivou a perseverar no projeto, ao qual dedicou mais de 20 anos de trabalho.
No início dos anos 2000, Conde recebeu um investimento para desenvolver o roteiro, mas foi apenas recentemente, pouco antes da pandemia, que ele conseguiu o financiamento necessário para filmar. Não à toa, a narrativa passou por várias alterações ao longo do tempo.
“Costumo dizer que, em mais de 20 anos, surgiram mais de 20 versões, 20 ideias diferentes de filme”, explicou Conde, descrevendo a sensação de finalmente ver o projeto ganhar vida. “Agora, deixo de sonhar e imaginar o filme. Ele segue com suas próprias pernas.”
A ditadura
Filmes sobre a ditadura militar no Brasil não são novidade, já que o tema, fundamental para a trajetória do país, tem sido amplamente explorado por cineastas ao longo dos anos. No entanto, ao ser questionado sobre o desafio de abordar esse período, Rafael Conde destaca a “grande responsabilidade” que a tarefa impõe.
“É sempre importante revisitar esse tema. A ditadura é algo cíclico que, de tempos em tempos, volta à pauta. Precisamos continuar falando sobre isso, pois acreditávamos que esse período havia ficado para trás, mas a democracia e a liberdade estão sempre sob ameaça”, afirmou.
Embora trate de um dos momentos mais críticos da história do Brasil, o diretor oferece um olhar humano em seu filme, explorando a vida íntima das pessoas afetadas pelo regime. Além de retratar a violência física, a censura e as torturas, Conde buscou expor a violência psicológica sofrida pelas vítimas.
“O silêncio, o medo, e a incapacidade de revelar o próprio nome aos filhos são temas centrais. A linguagem do filme cria uma tensão crescente”, explicou. Ele também destacou a atuação dos artistas, que “estão sempre olhando para fora do quadro, como se estivessem sendo observados”.
Atuando em um filme sobre a ditadura
Caio Horowicz, de 28 anos, não viveu durante a ditadura, mas foi o responsável por dar vida a Zé. Para se conectar com essa época, o ator explicou ao Metrópoles que teve acesso a cartas que o verdadeiro José Carlos Novaes da Mata Machado enviava aos pais. Por meio desses registros, ele conseguiu se transportar para o período da ditadura e entender melhor o universo de seu personagem.
“O cinema tem esse poder e eu posso dizer que eu vivi aqueles anos, o final dos anos 60, 70, por meio da história do Zé, de uma maneira muito intensa, principalmente porque teve um mergulho e uma pesquisa muito forte. Me davam a impressão de que ele estava aqui comigo”, descreveu.
O ator também destaca a entrega física para o personagem. Caio precisou emagrecer para mostrar ao público o sofrimento de Zé diante da clandestinidade. “Eu mergulhei em um outro corpo que não era necessariamente o meu, mas tinha um desafio que era o tempo inteiro manter uma vitalidade, uma obstinação, um anseio de luta, que era o fogo estava sempre aceso dentro do Zé”.