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Filme inusitado discute cotidiano por meio de uma vaca em crise

“Animal Político”, longa de estreia do pernambucano Tião, tem sessões no Espaço Itaú. Produção mostra um bovino em dilema existencial

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animal político tião
1 de 1 animal político tião - Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

“Animal Político”, filme do pernambucano Tião, discute questões sociais por meio de uma protagonista inusitada. Uma vaca. O longa será exibido nesta quarta (14/6) e na próxima (21/6), no Espaço Itaú de Cinema (CasaPark).

Batizada pela produção de Cerveja, a vaca transita pelo cotidiano de uma grande cidade como uma pessoa de classe média. Vai ao cabeleireiro, frequenta baladas e restaurantes, exercita-se na academia, faz aulas de yoga, anda de metrô.

A escolha da “atriz” impôs desafios a Tião e equipe: filmar por dois ou três dias seguidos e em horários reduzidos. “Além de cuidados (cuidador sempre no set com ela, veterinário, etc), entendemos rapidamente suas dinâmicas e como tínhamos que adaptar o plano de filmagem a ela, para que não se cansasse”, conta o cineasta.

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De Sessão da Tarde a questões filosóficas
A vaca, narrada por voz masculina (do ator Rodrigo Bolzan), também enfrenta um dilema existencial: a sensação de vazio, de que falta algo que dê sentido à vida. Incomodada, a vaca sai da zona de conforto em busca de iluminação – intelectual e espiritual.

Eu tento fazer filmes com os quais eu gostaria de me deparar e, como dá muito trabalho, pra valer a pena é importante que envolvam, sim, risco e aprendizagem

Tião, diretor

Com ares de comédia experimental, o longa toma emprestado do filósofo grego Aristóteles o título e o conceito de “animal político”. “Acho que o filme lida com o absurdo da imagem, com o contraste da presença da vaca em situações cotidianas”, explica Tião.

“As reflexões que eu queria propor são as que estão no filme e que passam pelo conceito clássico de Aristóteles, da realização plena da experiência humana por meio da vida em sociedade (ele acreditava que só as divindades atingiam isso pelo isolamento)”.

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O diretor pernambucano Tião: estreia em longas com "Animal Político"

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A profundidade existencial da vaca mistura-se a um elemento claramente absurdo e cômico: como não rir de uma vaca cruzando corredores de um shopping com sacolas de compras? “O filme vai desde uma coisa meio Sessão da Tarde até uma questão filosófica um pouco mais densa”, define o cineasta.

Por ser um projeto tão acessível quanto radical, “Animal Político” atraiu reações diversas desde que começou a ser filmado. Tião conta que a produção foi longa, mas divertida. “Os donos de estabelecimento se dividiam entre os que achavam um absurdo a proposta, alguns ficavam até meio irritados, e outros que adoravam e queriam assistir, participar como figurantes com as famílias”, detalha.

Em festivais, Tião também observou um espectro variado de interpretações. “Tem algumas sessões que entro e as pessoas estão rindo muito (acho que na Romênia e na Holanda foi assim), e outras em que tá um clima mais introspectivo”, conta.

No Festival de Roterdã (Holanda), o diretor ouviu comparações a discos e músicas da banda Pink Floyd – a capa do álbum “Atom Heart Mother” (1970) é estampada por uma vaca.

O sucesso nos curtas e as diversas influências
Rodado com orçamento de R$ 400 mil ao longo de três anos, “Animal Político” é a primeira experiência de Tião, apelido e alcunha artística de Bruno Bezerra, em longas.

Antes, o cineasta assinou os curtas “Muro” (2008) e “Sem Coração” (2014), vencedor do Festival de Brasília nas categorias de melhor filme, direção (dividida com Nara Normande) e montagem. Os dois filmes ganharam troféus na Quinzena dos Realizadores, no Festival de Cannes.

Mesmo dono de uma carreira curta, Tião já exibe estofo estético em seus filmes. O bizarro vem de David Lynch e Lucrecia Martel, a brasilidade é herdada de Helena Ignez e Rogério Sganzerla e o visual carrega um pouco do rigor de Stanley Kubrick – há até uma homenagem indisfarçada a “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (1968) em “Animal Político”.

Mas as referências citadas por Tião também passam por artistas menos óbvios, como a fotógrafa Nan Goldin, o desenho animado “South Park” e o escritor Roberto Bolaño.

“Você pode inclusive se sentir inspirado por algo que você não gosta, mas que de alguma forma fez você pensar em algo. Você pode estar em uma exposição ou show de um artista que nem tem muito a ver com o que você faz, mas aquilo faz você querer voltar pra casa correndo pra trabalhar”.

“Animal Político” (75min, direção de Tião)
Quarta (dias 14/6 e 21/6), às 19h30, no Espaço Itaú de Cinema (shopping CasaPark). Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia). À venda bilheteria e pelo Ingresso.com. Não recomendado para menores de 14 anos.

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