Filme do DF estrelado por Bárbara Paz traz debate sobre suicídio
Por Que Você Não Chora, da cineasta e psicóloga Cibele Amaral, estreia nesta quinta-feira (9/9) nos cinemas de todo o país
atualizado
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Depois de abrir o 48º Festival de Gramado como forte concorrente ao prêmio principal, o filme Por Que Você Não Chora?, da cineasta brasiliense Cibele Amaral, estreia nesta quinta-feira (9/9) em cinemas selecionados e streamings com distribuição da 02 Play. O longa propõe o debate de temas oportunos como suicídio, depressão e saúde mental.
Estrelado por Bárbara Paz, Carolina Monte Rosa, Elisa Lucinda e Maria Paula, e ambientado em uma Brasília cinza e chuvosa, a trama mostra a relação conturbada entre Jéssica, menina de origem humilde, que veio do interior para estudar na Capital, com Bárbara, paciente experimental, diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline.
A partir do encontro das protagonistas, o público mergulha nas várias dicotomias existentes entre as personagens: enquanto Bárbara se mostra uma bomba relógio, há anos debruçada sob análises e processo de autoconhecimento, Jéssica é séria demais, sabe pouco de si e, ao contrário de sua paciente, vive mergulhada em uma rotina sufocante.
A relevância da produção, no contexto da saúde mental, é conduzida por Cibele, que antes de seguir carreira no cinema se formou em psicologia. “Foi uma novidade para mim. De um lado a cineasta que tem vontade de mostrar sua visão e de outro a profissional da saúde que sabe que precisa ser muito responsável com um tema super delicado”, contou a diretora em entrevista ao Metrópoles.
Para ser coerente com as instruções da OMS sobre o tema, Cibele explica que o longa teve de passar por adaptações pontuais. “Entramos em acordo. Mudei alguns trechos depois de participar de debates com especialistas em prevenção ao suicídio. Já estava muito coerente, mas coube mudanças. Foi uma experiência quase psicótica (risos) de divisão de personalidade, a cineasta e a psicóloga. Também no roteiro, porque eu queria um filme que contasse essa história da faculdade de psicologia, a viagem que é, a imersão, o autoconhecimento”, pontuou ela.
Elenco poderoso
A narrativa construída pela cineasta ganha contornos reais com as atuações impressionantes de Bárbara Paz, interpretando personagem homônima, e da atriz brasiliense Carolina Monte Rosa, dando vida à Jéssica.
Pouco conhecida no mainstream, Carolina já integrou o elenco da comédia A Minha Casa Caiu (2014), em Hollywood, e do drama Eu Sinto Muito (2019). A atriz também foi uma das primeiras estrelas escaladas para a produção brasiliense. “Chamei a Carolina para fazermos uma peça, algo sobre o transtorno Borderline, eu ainda não sabia direito o que eu queria. Isso foi em 2015. Fizemos algumas experiências e vi o potencial dela. Foi aí que decidi investir mais pesado e escrever um roteiro de longa”.
Já Bárbara contribuiu com a experiência recém-adquirida como diretora. Em sua estreia na função, em Babenco — Alguém Precisa Ouvir o Coração e Dizer: Parou, a artista foi aposta da Academia Brasileira de Cinema (ABC) para disputar vaga no Oscar 2020, para a categoria de Melhor Filme Internacional. “Esse lado da Bárbara ajudou muito. Ela deu toques bons sobre fotografia, montagem, e, claro, interpretação”, elogiou Cibele.
Por Que Você Não Chora?
Segundo informações da OMS, a cada ano, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida e um número ainda maior de indivíduos tenta suicídio. O relato honesto de Por Que Você Não Chora sobre o que há por trás da ideação suicida foi inspirado na experiência de Cibele como psicóloga no Instituto de Saúde Mental de Brasília.
“O filme tem algumas mensagens: a mais importante é o autoconhecimento e a busca por ajuda quando necessário. O título já diz isso, se você está triste, se você está desesperado, por que você não chora? O que acontece com o ser humano é que ele foi privado dessa capacidade de alívio que existe no choro. No choro profundo, no grito. O corpo pede isso e a nossa cultura nega”, ressalta Cibele. “Outra mensagem importante é: quem cuida de quem cuida? Os profissionais da saúde cuidam muito e nem sempre são cuidados”, acrescenta.
A cineasta espera que ao ser confrontado com as cenas, o público reflita sobre o tema, bastante em voga no Setembro Amarelo, sobre várias perspectivas, incluindo a coletiva. É por isso, aliás, que a diferença social entre as protagonistas é tão marcada.
“Quis mostrar que existe uma falácia bem cruel do senso comum: ‘gente pobre não tem problema psicológico, isso é coisa de rico. A verdade é que todo mundo tem problemas psicológicos, uns mais, outros menos, e isso não tem nada a ver com a renda da pessoa. O que muitas pessoas não têm é o acesso a psicólogo, a um psiquiatra”, explicou a cineasta, que já trabalhou atendendo pessoas de baixa renda e garante: “elas não costumam alardear que estão vivendo uma situação complicada”.
“Hoje em dia, felizmente, temos um acesso mais democrático a tratamentos para a saúde mental. O CVV no número 188 é uma grande ajuda, institutos de psicologia em todo país oferecem valores populares e muitas clínicas dentro das Universidades de psicologia oferecem atendimento gratuito ou com preços mais acessíveis, o que abre caminhos para mudanças. No entanto, também não é sempre que as pessoas buscam informações. Ainda há muito preconceito, estigma, autoestigma”, conclui.