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Festival de Cannes premia vencedores em concorrida noite de gala

O brasileiro Ricardo Teodoro foi um dos destaques, sendo premiado pela Semana da Crítica como Melhor Ator Revelação pelo seu papel em Baby

atualizado

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Imagem colorida de um homem e um mulher andando abraçados pela rua
1 de 1 Imagem colorida de um homem e um mulher andando abraçados pela rua - Foto: Divulgação

Cannes (França) – Após 11 dias de imersão cinematográfica, nesta noite de sábado (25/5), o Júri do 77º Festival de Cannes, presidido pela diretora, roteirista e atriz americana Greta Gerwig, e composto ainda pela roteirista e diretora de fotografia turca Ebru Ceylan, a atriz americana Lily Gladstone, a atriz francesa Eva Green, a diretora e roteirista libanesa Nadine Labaki, além do diretor e roteirista espanhol Juan Antonio Bayona, o ator italiano Pierfrancesco Favino, o diretor japonês Kore-eda Hirokazu e o ator e produtor francês Omar Sy, entregou a lista de vencedores entre os 22 filmes apresentados na Competição deste ano.

Anora, de Sean Baker (de Projeto Flórida), recebeu a Palma de Ouro e a emocionante justificativa de Greta: “Este filme incrivelmente humano que capturou nossos corações, nos fez rir, nos deixou esperar além da esperança e depois partiu nossos corações e nunca perdeu de vista a verdade”.

Sean Baker, incrédulo, agradeceu e discursou: “Vou lutar pelo cinema pois, como cineastas, precisamos lutar para manter o cinema vivo. Isso significa fazer filmes destinados à exibição nos cinemas. O mundo tem que ser lembrado de que assistir a um filme em casa enquanto navega pelo telefone, lê e-mails e meio que prestando atenção não é o caminho. Assistir a filmes com outras pessoas em uma sala de cinema é uma das grandes experiências em comunidade, compartilhamos risos, tristeza, raiva, medo e, com sorte, temos uma catarse com nossos amigos e estranhos – e isso é sagrado. Então eu digo que o futuro do cinema é onde ele começou, em uma sala de cinema”.

Imagem colorida de mulher dançando em uma boate no filme Anora - Metrópoles
Cena do filme Anora

Este é o quinto filme distribuído pela NEON que conquista, em sequência, a Palma de Ouro. Antes dele, Parasita, Titane, Triângulo da Tristeza e Anatomia de uma Queda. Destes, apenas Titane não teve êxito em transformar a Palma de Ouro em indicações ou prêmios no Oscar.

O Grande Prêmio do Júri, o segundo lugar, foi para o drama All We Imagine as Light, da diretora indiana Payal Kapadia, que dramatiza a vida de três mulheres na metrópole de Mumbai. Já o Prêmio do Júri, o terceiro lugar, foi para Emília Pérez, do diretor francês Jacques Audiard, um musical ambientado no México sobre um narcotraficante submetido a uma cirurgia de redesignação sexual.

Emilia Perez é estrelado por Zoe Saldana, Selena Gomez, Karla Sofia Gascon e Adriana Paz, e as atrizes, coletivamente, conquistaram o prêmio de melhor atriz do festival.

Jesse Plemons conquistou o prêmio de melhor ator em Tipos de Gentileza, do diretor Yorgos Lanthimos (de Pobres Criaturas), no qual interpreta três personagens em três histórias contadas com bastante acidez e crueldade.

O português Miguel Gomes conquistou o prêmio de melhor direção por Grand Tour. Miguel dirigiu grande parte do filme remotamente já que as filmagens aconteceram na pandemia de Covid-19. O Brasil pode se sentir celebrado, já que os diretores de arte Thales Junqueira e Marcos Pedroso trabalharam na produção com Miguel Gomes.

A francesa Coralie Fargeat conquistou o prêmio de melhor roteiro com The Substance, um horror corporal que trata do etarismo na indústria audiovisual. Demi Moore é a protagonista, no papel de uma apresentadora de televisão, recém demitida após completar 50 anos, e que decide se submeter a um procedimento revolucionário de rejuvenescimento. As suas consequências são desastrosas e bizarras.

O júri ainda premiou, com um prêmio especial, o diretor iraniano Mohammad Rasoulof, que fugiu do país após as filmagens de The Seed of the Sacred Fig, obra crítica ao regime opressor do país.

George Lucas

O momento mais bonito da cerimônia de premiação aconteceu quando o diretor Francis Ford Coppola, que havia viajado para a Riviera Francesa apresentar o seu Megalópolis, subiu ao palco para homenagear, com a Palma de Ouro honorária, o amigo e colaborador George Lucas (de Star Wars: Guerra nas Estrelas). George trabalhou como assistente de produção de O Caminho do Arco-Íris (1968), dirigido por Coppola.

George Lucas e Francis Ford Coppola na premiação

Brasil premiado em Cannes

A Semana da Crítica premiou o brasileiro Ricardo Teodoro como Melhor Ator Revelação pelo seu papel no drama Baby, de Marcelo Caetano.

“Eu trabalho há anos como ator de teatro e sempre pensei que, se algum dia eu tivesse uma oportunidade, iria agarrá-la com toda a minha força. E quando o personagem do Ronaldo apareceu, lutei muito para fazê-lo com a minha alma. Vim de uma cidade de 4 mil habitantes, no interior de Minas, e sempre sonhei em estar em um festival como Cannes. Voltar com esse prêmio é sensacional”, celebrou Ricardo.

Ricardo Teodoro, ator de Baby, foi premiado em Cannes

Crítica de Anora, filme vencedor da Palma de Ouro

Diretor e roteirista de Tangerina, Projeto Flórida e Red Rocket, exibido no Festival de Cannes de 2021, Sean Baker tem a habilidade de expor e descascar realidades marginalizadas na sociedade americana com uma sensibilidade que falta à maioria dos autores do cenário independente. O cineasta é o tipo de autor apaixonado por seus personagens e, até imagino, se pudesse ultrapassar a barreira da dramaturgia cinematográfica e as demandas narrativas havidas na arte, daria o melhor mundo possível a cada um deles.

É o caso de Anora, ou Ani, como prefere ser chamada, uma dançarina erótica de um clube badalado de Nova York que, certa noite, por ter fluência em russo, é convidada para atender Ivan, um impulsivo homem de 21 anos, filho de oligarcas riquíssimos. A química bate e ele a convida para ser sua acompanhante durante uma viagem a Las Vegas, onde se casam, para desespero de Toros, Garnick e Igor, os capangas de seus pais, que devem anular o casamento a qualquer custo. Só que Ivan foge, e cabe ao quarteto procurá-lo na cidade até o horário de comparecer no tribunal nova iorquino.

O destaque é Mikey Madison, que interpreta a personagem-título. A atriz de Pânico e Era Uma Vez em… Hollywood é um poço de energia interminável, manifestada a princípio sexualmente; depois, no sentimento de quem ganhou na loteria e aproveita como pode um sonho de Cinderela até o inevitável badalar da meia-noite torná-la em gata borralheira.

Imagem colorida de um homem e um mulher andando abraçados pela rua
Anora: no filme de Sean Baker

Após terminar a lua-de-mel, com a fuga de Ivan da responsabilidade, a energia de Ani é transformada em uma combinação de esperança – de que ele tomará a decisão certa – e inconformismo – este retratado na reação física e verborrágica da personagem, que deve soltar tantos palavrões quanto Leonardo DiCaprio e Jonah Hill juntos em O Lobo de Wall Street.

Falando desse jeito, nem parece que Anora é uma orgia sedutora de gargalhadas pela forma com que Sean Baker constrói as situações e explora-as até o limite do absurdo e da ansiedade, enquanto escapa da maioria de clichês habituais em obras análogas. A longa sequência ambientada dentro da casa dos pais de Ivan, mas que Ani acredita ser dele, é o melhor exemplo para compreender como Sean Baker tem êxito por ousar explorar a acidez das circunstâncias e irreverência das atuações de Karren Karagulian, Yuriy Borisov e Vache Tovmasyan (não exatamente os tipos de capangas russos que o cinema apresentou para nós).

Até por esses personagens, Sean Baker preocupa-se, pois apenas cumprem ordens dos pais oligarcas de Ivan, enquanto também lidam com a reação inesperadamente violenta de Ani. A propósito, mesmo que a direção explore o corpo da personagem – porque, bem, ela é uma dançarina erótica e seria no mínimo hipócrita e cosmetizado se não o fizesse –, não faz o mesmo quando trata da humanidade e dignidade dela. Ani não se acovarda diante daqueles homens, e se é subjugada fisicamente, isto só ocorre após morder um e quebrar o nariz do outro. Esta força e resiliência ainda são testadas no clímax da narrativa, antes de Sean Baker devolver a personagem ao mundo real.

Como comédia, a narrativa é ótima pelo humor fácil e irreverente fruto de situações inusitadas. Como drama, idem, pois eventualmente o casco grosso da personagem é penetrado pelo mundo real que a cerca. Como estudo da personagem-título é um arraso.

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