“Eu Sou Ingrid Bergman” traça perfil de grande atriz de Hollywood
Norteado pelos diários de uma das maiores divas do cinema, documentário traz imagens raríssimas de uma carreira marcada por dedicação e contradição
atualizado
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Houve um tempo que, poucas coisas na vida eram tão belas do que ver o rosto encantador da atriz sueca Ingrid Bergman nas telonas. Quando ela entrava em cena pela primeira vez no clássico “Casablanca” (1942), por exemplo, com seus olhos cintilantes e lábios molhados, chapéu estiloso na cabeça, era como se uma epifania de desejo e sonho pipocasse em algum lugar no infinito. Até hoje ainda é assim.
Todo o lado glamuroso de uma das atrizes mais deslumbrantes do cinema pode ser reverenciado no documentário, “Eu Sou Ingrid Bergman”, mas também a faceta família, caseira e perturbadoramente contraditória. Norteado pelos diários deixados pela diva escandinava e depoimentos dos filhos e pessoas próximas, o filme dirigido por Stig Bjorkman chama atenção pela riqueza de imagens raríssimas, como os primeiros registros de Ingrid no cinema sueco, ainda nos anos 30, assim como milhares de vídeos domésticos documentados em 16 mm ao longo de toda uma vida.
Esse hobby obsessivo que a atriz tinha de filmar tudo, aliás, é explicado na fita por um viés freudiano, tendo motivação o pai – que ela perdeu bem cedo -, e refletindo de maneira contundente nas relações amorosas que colecionou. Algumas cenas são formidáveis pela preciosidade do momento, como aquelas em que ela aparece bem descontraída e à vontade ao lado dos filhos.
Vida amorosa da atriz chocou Hollywood
Revelações surpreendentes são feitas ao longo da narrativa, pelo menos para o espectador que não tem tanta familiaridade com a trajetória pessoal de Ingrid. Antes mesmo de se envolver num escândalo amoroso que chocou a América com o cineasta italiano Roberto Rossellini, a atriz teve um affair com o fotógrafo de guerra de origem húngara, Robert Capa. As feridas deixadas por uma mãe ausente, que sempre se entregou de corpo e alma à carreira, veem à tona por meio de frases de ironia e velado ressentimento.
“Eu não exijo muito. Só quero tudo”, ironizou certa vez. “Se tirasse de mim a atuação eu não poderia mais respirar”, sentenciou.
Temendo ser uma atriz famosa apenas num país distante e pequeno, Ingrid, que começou a carreira no conceituado teatro sueco, sonhou alto ao alçar voo para Hollywood, aonde estreou com o drama “Intermezzo”, remake de grande sucesso do cinema sueco. A consagração viria com as pérolas como “O médico e o monstro”, e claro, “Casablanca”, que a projetou internacionalmente.
No seu diário revelador, a estrela nórdica faz observações pontuais da rotina glamorosa que teve em Los Angeles ao lado de grandes astros. Para ela, Humphrey Bogart era interessante, mas longe de ser um típico galã. Já Cary Grant a convenceu de que não era esnobe e arrogante, se tornando umas das pessoas mais legais com quem trabalhou. Hitchcock, que a dirigiu três vezes, era talentoso e divertido.
Mesmo conduzido por certa burocracia, não há como se emocionar com o documentário ao fim de suas quase duas horas de projeção. Embalado por trilha sonora comovente, o espectador aos poucos se deixa fascinar por uma artista que se sacrificou pessoalmente para dar ao mundo o prazer de seu talento, a magia de sua beleza.
Avaliação: Bom
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