Metrópoles estreia com Deus e Diabo no Festival de Cannes
A produção de Glauber Rocha, restaurada por Lino Meireles e Paloma Rocha, é exibida na mostra Cannes Classics
atualizado
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Nesta quarta-feira (18/5), a cópia restaurada em 4k de Deus e o Diabo na Terra do Sol, obra máxima de Glauber Rocha e do Cinema Novo, será exibida no 75º Festival de Cannes. A sessão ocorre às 16h na França (11h do horário de Brasília). A iniciativa de restauro é uma empreitada do Metrópoles, por meio do produtor Lino Meireles, em parceira com a diretora Paloma Rocha, filha do cineasta baiano.
O longa-metragem será exibido na mostra Cannes Classics, parte do festival dedicada a filmes clássicos e à preservação do patrimônio cinematográfico mundial.
“É um ciclo completo para a nossa restauração, em que o filme será reexibido pela primeira vez no mesmo local onde estreou. Que seja um novo chamado de resistência cultural”, afirma o produtor Lino Meireles, diretor do premiado longa-metragem Candango: Memórias do Festival. “Num país com a cultura tão depreciada, com a produção artística sofrendo ataques, fizemos um esforço de contracorrente. Isso só é possível porque o filme tem a força própria dele”, frisa a diretora Paloma Rocha.
Retorno a Cannes
Deus e o Diabo na Terra do Sol é o segundo longa da carreira de Glauber Rocha e considerado um marco do Cinema Novo – movimento cultural que impactou o audiovisual e a sociedade do Brasil.
Curiosamente, a estreia do filme também ocorreu em Cannes, em 1964, quando a produção, que mescla influências de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Euclides da Cunha, foi exibida na mostra competitiva e recebeu indicação à Palma de Ouro.
O filme foi lançado nos cinemas do Brasil em julho do mesmo ano. O legado do diretor inclui longas-metragens, como Barravento (1962), Terra em Transe (1967), O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969), O Leão de Sete Cabeças (1970), entre outros.
Restauro
O projeto teve início em 2019, quando o produtor Lino Meireles se uniu à diretora Paloma Rocha, filha de Glauber Rocha, para a restauração em 4K de uma das principais obras do cinema brasileiro. O projeto foi finalizado em 2022, mais de 40 anos depois da morte do realizador baiano.
A escolha pela obra não se deu apenas por sua importância para a cultura nacional, mas pelo fato de sua última versão digitalizada ter sido feita em 2002, com qualidade inferior à atual. O novo restauro foi realizado na Cinecolor, empresa parceira da Cinemateca Brasileira, onde estava armazenada a cópia em película – cinco latas de negativos 35mm em perfeitas condições. Apesar disso, parte da obra de Glauber foi perdida no incêndio que atingiu um dos galpões da Cinemateca, em São Paulo, em julho de 2021.