Documentário sobre Claudio Santoro é instrutivo, mas convencional
Além do longa “Santoro – O Homem e Sua Música”, a noite de domingo (20/9) também reuniu os curtas “A Outra Margem” e “História de uma Pena”
atualizado
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Confira as críticas dos filmes exibidos no domingo (20/9), quinta sessão competitiva do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A competição segue até segunda (21/9) e os vencedores serão divulgados na terça (22/9). Acompanhe flashes das noites do evento em nosso site, a partir das 20h30.
“Santoro – O Homem e Sua Música” (DF, 85min), de John Howard Szwerman
O fato de, só agora, existir um longa-metragem sobre o compositor erudito Claudio Santoro dá a dimensão da importância deste documentário. Num país em que a memória é, digamos, um commodity desvalorizado desde sempre, as biografias servem para nos instruir acerca de artistas influentes e revolucionários, mas que jamais tiveram um reconhecimento popular minimamente digno.
E é isso que John Howard Szerman propõe em “O Homem e Sua Música”: um resgate do maestro por meio de sua vida e obra, coletando entrevistas com amigos, familiares e músicos e inserindo trechos de concertos baseados em peças de Santoro. Infelizmente, os problemas que aqui se colocam são mesmo de ordem cinematográfica.
Estruturado por entrevistas, o documentário cai numa narrativa circular por se apoiar demais nas conversas: sobram adjetivos, faltam elucidações técnicas, estéticas e analíticas das obras de Santoro. Quando essas explicações surgem, o filme cresce, como no momento em que é contada a relação próxima do compositor com o poeta Vinicius de Moraes. Morando em Paris, eles se tornaram amigos. A relação criativa resultou nas “Canções de Amor”, faixas inspiradas pelos poemas de Vinicius.
Praticamente todos os entrevistados reverberam a ideia de que a genialidade de Santoro era abastecida por seu espírito inquieto. O compositor transitava pela música erudita sinfônica, dodecafônica, eletroacústica e folclórica, para ficar nos exemplos mais frequentes. Era um artista contemporâneo em todos os sentidos, vibrante e aberto à novidade.
Tanto que, atraído pelo novo, veio para Brasília e aqui colaborou para a fundação da música erudita da nova capital: criou o Departamento de Música da UnB e a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro.
Há uma riqueza histórica nessa trajetória, mas o documentário nunca consegue (re)transmiti-la de maneira cinematográfica. A falta de articulação de “O Homem e Sua Música” é um tanto frustrante. É como se a narrativa não desse conta da potência de seu personagem. O filme se sobressai pelo mérito de tentar dar a Santoro a imensidão de uma tela grande.
Avaliação: Regular
Os curtas da noite
“A Outra Margem” (MS, 26min), de Nathália Tereza
Uma entediante noite campo-grandense se desenrola neste curta-metragem. Entre uma música e outra tocada pelo programa de rádio Amor Sem Fim, Jean, um agroboy, dirige pelas ruas da cidade sem ter ideia do que quer fazer. Na direção de um lugar-nenhum, ele entorna uma cerveja após a outra, numa tentativa, talvez, de trazer a farra para dentro do veículo. Sem sucesso.
Nathália Tereza aposta numa atmosfera de diálogos secos e fotografia melancólica, bebendo do mesmo cinema de perambulação que gerou hits alternativos nos últimos anos, como “Oslo, 31 de Agosto”. Emitidas por postes e faróis, luzes débeis banham a noite vazia deste homem simples. Esse retrato contemplativo e anticlimático encontra ecos em algumas boas cenas – como na ida de Jean a um bar, sob fachos de neon –, mas compõe uma narrativa de pouco impacto.
Avaliação: Regular
“História de uma Pena” (CE, 30min), de Leonardo Mouramateus
O simples mote de um professor de poesia à espera de dois relapsos estimula um hiper-realismo habitado por jovens estudantes. Alguns deles se encontram numa sala de aula. Mas o educador, vivido pelo cineasta Caetano Gotardo (de “O que se Move”), não consegue ensinar. O conteúdo da manhã é outro: os alunos tomam as rédeas da classe e querem ser liberados.
Diálogos nonsense provocam um estranhamento muito bem construído sobre uma juventude que não necessariamente precisa ter algo a dizer. Numa áurea meio Richard Linklater, as situações envolvem desde carícias de um casal a uma tarde com os amigos dentro de um carro, entre relatos da balada de ontem e tragos de um baseado passado de mão em mão. “História de uma Pena” exala autenticidade ao se colocar um tom acima do realismo e um outro abaixo da fábula.
Avaliação: Bom