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Diretores de Miúcha sobre lado abusivo de João Gilberto: “Não é vilão”

Ao Metrópoles, Daniel Zarvos e Liliane Mutti disseram que o filme, exibido no Festival do Rio, é uma “reparação histórica” com a cantora

atualizado

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Miúcha e João Gilberto RED
1 de 1 Miúcha e João Gilberto RED - Foto: Reprodução

Rio de Janeiro – “Ele não me deixa sair”, “ele trancou o vilão”, “ele deu para gritar comigo”. Essas são algumas confissões de Miúcha sobre a relação conjugal com João Gilberto, e que agora chegam ao conhecimento público através de cartas escritas pela artista ao longo dos anos, e lidas pela atriz Silvia Buarque no documentário Miúcha – A Voz da Bossa Nova. A obra integra a mostra Première Brasil, do Festival do Rio, e lotou sessão realizada no histórico Cine Odeon.

Diretores do documentário, Daniel Zarvos e Liliane Mutti afirmam que o filme faz uma “reparação histórica” e exalta o legado da artista, que precisou se libertar do casamento com o gênio da música brasileira para poder viver o sonho de ser cantora. Mas, segundo eles, as revelações não mancham a memória e nem transformam João Gilberto em um “vilão da história”.

“Eu acho que todos nós somos luz e sombra. Eu realmente não acho que no filme a gente tenha uma heroína e um vilão, o filme não demoniza o João Gilberto. Eu continuo ouvindo João Gilberto. O que para mim é revelador é o lugar da mulher naquela época, a mãe, a cantora… e a gente precisava mostrar o quanto era naturalizado. O que acontece na relação desse casal, acontece até hoje entre vários casais. É importante trazer a história para a gente se colocar em perspectiva. Não existe cinema sem provocação”, ressalta Liliane Mutti, em entrevista ao Metrópoles.

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É de Silvia Buarque a voz escolhida para interpretar as cartas escritas por Miúcha
Equipe do filme Miúcha – A Voz da Bossa Nova em manifestação pró-Lula, durante o Festival do Rio
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Liliane Mutti e Daniel Zarvos, diretores de Miúcha – A Voz da Bossa Nova

André Horta/Festival do Rio
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É de Silvia Buarque a voz escolhida para interpretar as cartas escritas por Miúcha

André Horta/Festival do Rio
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Equipe do filme Miúcha – A Voz da Bossa Nova em manifestação pró-Lula, durante o Festival do Rio

André Horta/Festival do Rio

Da decisão de gravar até o lançamento oficial da produção foram 10 anos. Tempo prolongado por dois lutos: as mortes de Miúcha (81 anos), em 2018, e de João Gilberto (88 anos), sete meses depois. “O que ela falou para a gente, ela nunca tinha falado para ninguém. Quando ela morre, se não fosse o filme, ela levaria esse segredo para o túmulo. Mas ela queria que o filme existisse. Já bem doente, ela nos mandou uma mensagem dizendo: ‘Subiu para a cabeça, e eu só penso em vocês’. Ela pensava no filme, nas coisas que ela tinha nos contado. Depois dessa barra pesada, pensamos que esse tesouro que é íntimo, também deveria ser público”, lembra Mutti.

A Voz da Bossa Nova

O filme traz um recorte temporal da vida de Miúcha, entre os anos 1960 e o fim da década 1970, período no qual a artista trava as principais batalhas para ser reconhecida e se firmar na carreira musical. A temporalidade foi uma escolha bem pensada do diretores. “A gente quis mostrar essa transformação dela como mulher e como cantora, esse percurso de se encontrar… essa luta para conseguir vencer todas as barreiras que são impostas desde a infância. Mostrar como ela consegue vencer”, explica Daniel Zarvos.

Para Mutti, o longa desconstrói o papel feminino de apenas musa da Bossa Nova e coloca a mulher no papel também de protagonista. Como a história de Miúcha se entrelaça a de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto, é a visão e a voz da cantora sobre o som que levou o Brasil para o mundo. “Foi a oportunidade de, a partir de uma perspectiva singular, falar de um movimento que é coletivo”.

*A repórter viajou a convite da organização da 24ª edição do Festival do Rio, evento que acontece até este domingo (16/10).

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