Diretor mergulha na intimidade de João de Deus em documentário
Candé Salles, diretor de O Silêncio É Uma Prece, conversou com o Metrópoles sobre a produção do longa
atualizado
Compartilhar notícia
Quando finalizou o documentário sobre o poeta Caio Fernando Abreu (Para Sempre Teu, Caio F.), sua estreia como cineasta, o diretor carioca Candé Salles enfrentou um dilema comum. E agora, qual projeto fazer? Pediu dicas de pessoas “retratáveis”. Então, um amigo paulista lhe salvou ao falar do trabalho do “Sr. João”, que acabara de curar sua esposa, desenganada pelos médicos por conta de um câncer.
“Isso faz 20 anos. Ela está viva e bem”, conta Candé, em entrevista ao Metrópoles.Algum tempo depois, ao esbarrar com o tal “Sr. João” em São Paulo, não titubeou. Na maior cara de pau, confessou o desejo de fazer um filme sobre ele e, após ser “secado” de cima a baixo pelo homem, obteve resposta afirmativa. Mas, a decisão final seria do Dr. Augusto de Almeida, uma das entidades incorporadas pelo médium. “Fui eu que te escolhi, mas você está muito sujo. Posso te limpar?”, cravou o espírita.
“Desde então, entrei na maior onda de amor já sentida em toda minha vida”, confessa o diretor. O documentário João de Deus – O Silêncio É Uma Prece será exibido, gratuitamente, nesta quarta-feira (14/3), no Cine Brasília.
Foram sete anos em uma jornada intensa de paz, amor e descobertas sobre a vida, intimidade e trabalho desse homem “santo”, que, desde 1976, oferece ajuda a pessoas em sua residência, Casa Dom Inácio de Loyola, no município de Abadiânia (GO).
A fama de João de Deus atraiu as mais diversas personalidades, famosos do mundo político e do entretenimento. A lista contempla figuras como Lula, Bill Clinton, Hugo Chávez, Chico Anysio, Marcos Frota, Shirley MacLaine e Oprah Winfrey.
“O Sr. João tem uma missão com Deus”, avalia o entusiasmado Candé. Ao longo do processo, o diretor confessa ter construído uma relação de afeto, respeito e admiração pela figura humana de João Teixeira de Faria, o João de Deus.
“Filmar sobre a verdade”
Para entender melhor como era a rotina de João de Deus e seu séquito – enfim, todo o processo metafísico e mediúnico ao seu redor–, o documentarista chegou a Abadiânia (GO) bancando o Sherlock Holmes da sétima arte. Morou seis meses na cidade goiana e acompanhou o médium em viagens internacionais.
No começo, tinha restrições sobre até onde as filmagens poderiam ir. “Você vai fazer um filme sobre a verdade?”, questionou o médium. Diante da resposta afirmativa do cineasta, deu carta branca e livre acesso para Candé captar tudo, inclusive as cirurgias espirituais no interior da casa onde vive João de Deus.
“O roteiro da Edna [Gomes, assessora de João de Deus] ajuda a explicar para o público o inexplicável, as leis espirituais”, revela Candé. A opção pela roteirista, uma figura extremamente próxima ao personagem, foi decisão do próprio diretor. “Eu a escolhi. Ela foi um presente que esse projeto me deu. É uma excelente escritora e se entregou dia e noite”, elogia.
Com duração de 80 minutos, o filme já exibido no Festival do Rio e em salas lotadas no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, tem previsão de lançamento nacional em maio, pela Paris Filmes. E, segundo o diretor, o documentário promete arrebatar o público. Sobre os incrédulos de plantão, Candé é pragmático.
“Os milagres que eu vi na Casa Dom Inácio me fizeram acreditar no seu trabalho”, enfatiza.