Diretor do elogiado “Estômago” revela influência das HQs em novo filme, “Mundo Cão”
O cineasta paranaense Marcos Jorge também comenta o uso dos cães no filme e a ambiguidade dos personagens de Lázaro Ramos, Babu Santana e Adriana Esteves
atualizado
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Diretor de “Estômago” (2007), um hit do cinema independente brasileiro, Marcos Jorge desbrava a selva urbana de São Paulo no lançamento “Mundo Cão”. Na trama, Babu Santana, que já encarnou Tim Maia em cinebiografia, vive um funcionário da antiga carrocinha que recolhe e sacrifica o cachorro do personagem de Lázaro Ramos, um temido criminoso local. Dois lados bem distintos, certo? Para o cineasta, não há heróis nem vilões.
“É uma constância nos meus personagens”, explica o paranaense, de 51 anos. “Em ‘O Duelo’ (filme anterior de Jorge), você não sabe quem está dizendo verdade ou mentira. O objetivo é divertir, mas fazer o espectador refletir sobre justiça, a condição humana e se colocar nos dois lados”, analisa o realizador.
A mistura entre comédia e suspense vista em “Estômago” retorna em “Mundo Cão”. Ambientada em 2007, a trama se passa antes da lei que passou a proibir o sacrifício de animais sadios. Santana, personagem de Babu Santana, é um pai de família comum da periferia: administra a casa ao lado de Dilza (Adriana Esteves) e cria os filhos Isaura (Thainá Duarte) e João (Vini Carvalho).
Ao sacrificar o rottweiler de Nenê, o mafioso vivido por Lázaro Ramos, Santana desencadeia uma saga violenta e repleta de reviravoltas. São tantas surpresas que a distribuidora do longa, a Paris Filmes, pediu que jornalistas e críticos evitassem spoilers em seus textos. “É uma metáfora da agressividade humana. Os homens se comportam como cães”, diz Jorge.
As dualidades perseguem ambos os lados: Nenê é palmeirense fanático, enquanto Santana torce pelo Corinthians. E o paradoxo: João também ama o Verdão. A sequência ambientada no estádio do Pacaembu durante um jogo do Palmeiras é um dos pontos altos da produção.
Veja galeria de fotos de “Mundo Cão”:
Atuações realistas e visual de HQ
Jorge buscou noções distintas para compor a atmosfera dramática de “Mundo Cão”. Quis atuações realistas e formatou um estilo ambíguo, com fotografia descolorida e ritmo de história em quadrinhos. Tem até cena pós-créditos finais, tal qual as aventuras de super-herói da Marvel.
“A gente abusou dos contrastes usando tons escuros, planos abertos e médios. O quadrinho tem essa proposta de alargar e fechar os planos”, explica. “Tiramos a cor para refletir o estado de espírito dos personagens”, completa.
Quatro cachorros (dois rottweilers, dois dobermanns) assumiram nomes de figuras históricas do antigo império romano: Calígula, Nero, Herodes e Salomé. “Tínhamos até dublês. Usamos sete cães para os quatro personagens”, detalha.
Vivendo entre São Paulo e Curitiba, Marcos Jorge frequenta Brasília com frequência, sempre a trabalho: além de filmes, ele dirige comerciais publicitários. A carreira começou na Itália, onde morou na década de 1990. “Estômago”, vale lembrar, é fruto de coprodução com o pais europeu.
De lá, vem o interesse por quadrinhos. “Acabei de comprar uma edição completa do RanXerox”, diz o cineasta, revelando o carinho pelo anti-herói do quadrinho italiano.