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Dira Paes fala sobre Pasárgada, filme que dirigiu e exibe em Gramado

Uma das maiores atrizes do país, renomada em todos os públicos, Dira Paes lança filme em um novo papel: o de diretora.

atualizado

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Carol Herrmann
Dira Paes Entrevistada
1 de 1 Dira Paes Entrevistada - Foto: Carol Herrmann

Dira Paes chegou a Gramado arrasando. Uma das maiores atrizes do país, renomada em todos os públicos, é veterana do festival, mas, em 2024, vem em um novo papel, o de diretora de longa-metragem. Seu filme, Pasárgada, conta a história de Irene, uma bióloga que está praticamente isolada na Mata Atlântica à procura de pássaros raros.

Após a estreia, realizada na última terça-feira (13/8), o Metropoles conseguiu uma conversa com a atriz e, agora, diretora.

Dira, você já trabalhou com tantos diretores, dezenas… No papel de atriz, qual é o nível de exigência e de dificuldade desta diretora estreante em longa-metragem, essa nova voz no cinema brasileiro, Dira Paes?

Dira Paes: Eu acho que o desejo de fazer um filme surge de uma inquietação, de uma vontade de me expressar de uma maneira diferente. E eu queria muito experienciar todos esses momentos, desde a ideia original. Eu queria ser autora de uma ideia original, e eu queria fazer parte de todas as etapas, então eu era a personagem central do filme, na frente das câmeras também. Eu acho que esse envolvimento com o roteiro me deu muita segurança de levar a Irene para a frente das câmeras.

Ela estava dentro de mim. É um avesso construído. É uma personagem com a qual eu queria que ela acessasse um olhar aonde o público não estivesse acostumado a me ver. Essa autodireção acontece muito no reflexo e no diálogo com o público. Trabalhei com o Pablo (Baião), que é o diretor de fotografia e meu companheiro há 19 anos de vida. Eu conseguia ver no olhar dele se tinha ido bem ou não, quando eu tinha alguma dúvida. Mas eu conseguia sentir, na hora da cena, se tinham fluído bem as coisas.

Quando a gente faz uma cena de cinema, tem de abstrair também a realidade em torno. Você abstrai a equipe que está segurando o boom, a equipe que está na câmera, e você faz de conta que não tem ninguém ali. E eu acho que eu também pude lançar a mão desse elemento, vamos dizer, para poder estar íntegra em cena. A gente tem muito plano sequência, tem muito take 1, 2, mas a gente tinha uma média de 3 a 4 takes por cena. E, às vezes, o melhor take era o primeiro.

Você menciona nos créditos do filme, dois diretores com quem você começou no cinema, o John Boorman, em The Emerald Forest e o Walter Lima, em Ele, o Boto…

Dira Paes: Quando eu fui montar o filme com o André (Sampaio), que faz uma montagem incrível — não é fácil montar um filme de plano sequência— fui percebendo como eu acessei esses lugares. O meu primeiro filme se chama Floresta das Esmeraldas. Então, eu achava que ali eu tinha levado muito daquela floresta para dentro do meu filme. E os interiores do meu filme lembravam muito Ele, o Boto, aquela casa caiçara, no lugar ermo. E aí eu falo que o John Boorman está no exterior e o Walter Lima está nos interiores do filme.

Eles fizeram o meu primeiro alicerce. Nós, atores, somos feitos destes primeiros olhares sobre a vida, sobre as emoções. E quando eu me percebi, eu tenho que reverenciar esses dois diretores que me fizeram atriz. E me fizeram mesmo. Um me pegou de uma maneira espontânea. E o Walter Lima já me pega com 17 anos, eu já querendo ser atriz. São momentos marcantes da minha vida. E eu agradeço também aos meus pais que me permitiram fazer cinema, fazer um filme com 15 anos de índia totalmente entregue àquela realidade. Eu tive um começo cinderelesco no cinema.

A concepção do filme começa na pandemia. E, apesar do filme não abordar a pandemia, eu acho ele um filme que fala muito sobre ela…

Dira Paes: Sobre o sentimento pandêmico, né? Foi baseado no desejo de encontrar um paraíso para fugir da pandemia, que fez com que Pasárgada entrasse em mim. O poema de Manuel Bandeira me invade nesse desejo, porque eu estava dentro de casa, dentro do concreto, desejando um paraíso para tomar sol, para mergulhar, para ser livre como os pássaros. Então, eu acho que esse sentimento pandêmico, ele também se relaciona muito com o movimento da maturidade feminina, que enfrenta mudanças hormonais, que enfrenta um ressecamento, vamos dizer, das sensibilidades, e faz com que a gente tenha que se reabilitar, se reconectar consigo mesma.

Eu queria fazer uma alusão à mata como um ventre. A gente faz essa metáfora da mata, da floresta, ser um ventre feminino. Penetrando na mata, Irene penetra em si mesma, ela volta para dentro de si e se questiona, se ressignifica. Eu acho que isso é uma coisa da maturidade. Eu acho que isso teve a ver com a pandemia também. Durante a pandemia, todo o mundo pensou: quais são os meus valores, o que é que eu quero para a minha vida, já que eu escapei dessa desgraça, o que é que eu quero fazer com a minha vida?

A Irene se confronta com as suas escolhas e quando ela vai perceber os seus dilemas… A gente nunca sabe se vai dar tempo ou não, mas talvez para ela tenha sido tarde demais.

O filme privilegia o sensorial, um sensorial completamente diferente desse de concreto da cidade, em áudio e imagem. Como foi essa construção?

Dira Paes: Quando a Irene está embaixo d’água, eu queria que o espectador estivesse embaixo d’água com ela. Quando ela está com fone tentando perceber a mata, eu queria também que o espectador sentisse como a natureza é dona de si mesma. Se ela quiser, ela te engole, ela te passa uma rasteira. Eu queria muito que o espectador percebesse esses ruídos que a natureza te surpreende e te amedronta.

A Irene, ela se relaciona com a natureza de uma maneira desarmoniosa, e eu acho que isso reflete muito com a desarmonia que ela está vivendo pessoalmente. O convite é para o público, também, para entrar num ritmo diferenciado, um ritmo das distâncias, um ritmo do suor, do tempo, da chuva, do frio, do molhado. E eu acho que o filme consegue trazer o espectador para dentro da tela e para dentro daquela mata.

Acho que qualquer espectador vai se apaixonar um pouco também pelo personagem Ciça (Ilson Gonçalves). Como foi achar essa persona, esse homem, e o deixou confortável nas câmeras?

Dira Paes: Quando eu conheci o Ciça, eu já reconheci nele a cinegenia. Foi uma coisa incrível vê-lo. Geralmente, quando você liga a câmera na frente de uma pessoa, a pessoa muda a personalidade. O Ciça, ao contrário, quando a gente liga a câmera na frente dele, aí ele cresce dois metros. Esse passarinho, como a gente pode ver, ele é um homem pequeno, que fica gigante na tela. Isso é cinema. O Ciça, o senhor Ilson Gonçalves, é cinema. Sem o menor esforço, ele conseguia improvisar.

Lógico, eu tive uma preparação linda com ele. A gente está falando de uma convivência de quase um ano. Ele não é letrado e ele não quis depois do filme também. Eu fiz um convite para ele, para ele se alfabetizar. Ele falou que ele era feliz desse jeito. E eu acho que o Ciça, ele é uma grande revelação.

Dira, muito obrigado por conversar com a gente.

Dira Paes: Estou muito feliz e convido a todos para assistirem Pásargada, a partir do dia 26 de setembro nos cinemas. A gente quer aproveitar esse lançamento aqui em Gramado e esse aquecimento em torno do filme para a gente dar continuidade e fazer um lindo lançamento pelo Brasil inteiro.
Muito obrigado, gente.

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