DiCaprio sobrevive a tudo e todos em “O Regresso”
Indicada a doze estatuetas do Oscar, aventura acompanha um personagem quase devorado por um urso e traído por colegas de expedição no século 19
atualizado
Compartilhar notícia
Toda a agitação coletiva nas redes sociais em torno do possível primeiro Oscar para Leonardo DiCaprio talvez sirva para denunciar os truques mascarados de triunfos artísticos em “O Regresso”. Atual vencedor da estatueta pelo afetado “Birdman” (2014), o mexicano Alejandro González Iñárritu leva o fotógrafo do momento, Emmanuel Lubezki (“Gravidade” e “Birdman”), para uma história de sobrevivência ambientada no século 19.
Em locações frias e ameaçadoras, filmadas com luz natural, Lubezki fornece todos os componentes visuais para um filme sobre a dualidade da experiência humana, tão trágica quanto esperançosa. Tanto que “O Regresso” começa à maneira de um western, por meio de violentos planos-sequência: atrás de valiosas peles, índios Arikara atacam um grupo de exploradores americanos.
O que restou da expedição, liderada por Andrew Henry (Domhnall Gleeson), continua a desbravar as paisagens cruas de Louisiana. DiCaprio interpreta Hugh Glass, o mais experiente dos aventureiros. Ele conhece bem a terra e viaja com o filho, Hawk (Forrest Goodluck), concebido por uma nativa Pawnee, tribo rival dos Arikara. Desde o primeiro contato, desenha-se uma relação hostil entre Glass e John Fitzgerald (Tom Hardy), que no passado teve parte do couro cabeludo arrancado por índios.
Pomposo, trágico e involuntariamente cômico
Os infortúnios que acometem Glass – e o pobre DiCaprio, quase sempre babando de dor, frio e ódio – parecem dignos do sujeito mais azarado da história da humanidade. Ele é quase devorado por um urso que o deixa à beira da morte. Moído, o homem resiste numa maca improvisada aos cuidados do ingênuo Bridger (Will Pouter) e John, seu rival. Glass acaba semi-enterrado vivo após presenciar o assassinato do filho pelas mãos de John.
A jornada de Glass ainda inclui nevascas, refeições feitas em cadáveres de animais mortos, uma monumental queda de cavalo e até uma avalanche. Estaria tudo bem se “O Regresso” se aceitasse como um simples veículo para o Oscar de DiCaprio.
Mas Iñárritu quer verter cada momento em um verdadeiro achado cinematográfico, apelando para sequências de sonho/alucinação e longas marchas do herói a ruminar vingança. Cada instante trágico soa como um vazio exercício de estetização e autoelogio. O cineasta visualiza um épico de profundidade artística e existencial. Por fim, realiza o seu “Gladiador” (2000).
Avaliação: Regular
Veja horários e salas de “O Regresso”.