De Ceilândia para Sundance
Revelada nos palcos do DF, Camila Márdila divide as atenções com Regina Casé no filme “Que Horas Ela Volta?”
atualizado
Compartilhar notícia
Desde que dividiu com Regina Casé o prêmio de melhor atriz no Festival de Sundance, em janeiro, pelo filme “Que Horas Ela Volta?”, Camila Márdila tem sido tratada como uma das revelações do cinema brasileiro em 2015. A guinada na carreira foi tão rápida que seu primeiro longa-metragem (“O Outro Lado do Paraíso”, de André Ristum) encontrou o segundo (“Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert) no Festival de Gramado, em agosto.
Em breve ela aparece em dois outros filmes: faz uma ponta no novo longa de José Eduardo Belmonte e interpreta a poeta goiana quando jovem na cinebiografia “Cora Coralina – Todas as Vidas”, dirigida por Renato Barbieri. Em “Que Horas Ela Volta?”, a atriz, nascida em Ceilândia e moradora de Taguatinga até os 17 anos, dá sotaque candango a uma personagem pernambucana às voltas com a ausência da mãe. Criada longe do berço materno, Jéssica decide sair do Nordeste e tentar a vida em São Paulo, onde a mãe, Val (Regina), trabalha há anos como babá.
“O filme fala muito do contexto social e político brasileiro. É uma história que precisava ser contada neste momento e dessa forma”, diz a jovem atriz, sobre os tons dramáticos e cômicos que permeiam a trama. A sinergia com a personagem de Regina se deu sobretudo no set. “Surgiu ali, com a gente já filmando”, conta Camila. Juntas, ambas construíram mãe e filha trocando diferentes tipos distintos de experiência.
“Regina parece ter passado a vida inteira pesquisando para esse papel. São gestos, expressões e detalhes que mostram a propriedade dela para aquilo”
Camila levou para a personagem elementos pessoais que a conectam com Pernambuco, como a admiração pela música e pelo cinema do Estado. “Pessoas que passaram pela minha vida e as possíveis ‘Jéssicas’ que encontrei na rua também acabaram sendo referência”.
Vida no teatro
Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, em 2012, Camila tinha vida tripla. Estudava comunicação social na UnB, estagiava em publicidade e flertava com as artes cênicas. Sempre que podia, participava de oficinas com dramaturgos da cidade, como Hugo Rodas, Tullio Guimarães e André Amaro. A então embrionária carreira de atriz ganhou contornos mais maduros quando conheceu os irmãos Adriano e Fernando Guimarães.
“Eles me acolheram no sentido de começar a trabalhar mesmo, ter grupo de estudo e viajar com peças”, conta. Quando se deu conta, já estava mais envolvida com o tablado do que com a publicidade. Fez um pé de meia e, quando recebeu o diploma, rumou para o Rio em busca de novas experiências.
“Não saí da capital para procurar trabalho. Por isso, seria injusto comparar uma cena com a outra. Me mudei porque nunca tinha morado em outro lugar. Mas volto sempre que tenho tempo livre”
No Rio, ela se aproximou do coletivo Áreas, formado pelas atrizes Miwa Yanagizawa, Liliane Rovaris e Maria Silvia Siqueira Campos. A parceria resultou no espetáculo “Plano Sobre Queda”, que cumpriu temporada no Rio e em São Paulo. Cercada por temas como ausência e morte, a peça revela uma produção minimalista, pensada para facilitar a montagem em outras cidades. Brasília, claro, é um dos destinos desejados.
Aos 27 anos, Camila preserva o espírito inquieto que a fez sair de Brasília ainda recém-formada. Após rodar “Que Horas Ela Volta?”, a procura por novos ares a levou para São Paulo. O carinho por Brasília, no entanto, sempre ocupa espaço na agenda.