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Crítica: “Una” propõe olhar pertinente à violência contra a mulher

Os diálogos viscerais e inquietantes do longa exploram com dramaticidade os conflitos dos personagens

atualizado

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Una 2
1 de 1 Una 2 - Foto: Divulgação

Num país em que questões relacionadas à violência contra a mulher parecem ter virado rotina banalizada pelas autoridades, o polêmico drama “Una” não deixa de ser pertinente. Baseado na peça “Blackbird”, escrita pelo escocês David Harrower, o longa conta a traumática história de Una (Rooney Mara). Ela é só mais um número negligenciado na estatística mundial dos abusos.

Isso porque aos 12 anos ela foi abusada sexualmente pelo vizinho Ray (Ben Mendelsohn). Não somente isso. Numa fase da vida em que é fácil se deixar deslumbrar e fascinar por qualquer coisa, Una foi seduzida por essa “pacata” figura, vivendo um romance proibido de três meses, cujo desfecho deveria ser a fuga de ambos. “Tenho uma nova vida para nós”, prometia ele.

Tudo isso, as memórias e detalhes da sedução, consumação do crime — que se passa numa pequena floresta — e o envolvimento passional da jovem com esse homem de meia idade, por sinal o melhor amigo do pai e que acaba condenado, se passam em flashbacks. No tempo real do filme, Una é uma mulher madura obcecada por essa relação frustrada, aplacando sua angústia e traumas ao se entregar de forma cega ao sexo furtivo, levando uma vida à deriva.

Confusão na condução do tema
Um belo dia, Una descobre o paradeiro de Ray e vai atrás dele. Agora ele se chama Peter, pagou pelo crime que cometeu, passando quatro anos de humilhação na cadeia, e tenta reconstruir a vida com um emprego bom e o conforto do lar de uma nova família. O encontro entre os dois, claro, após esses anos todos e tudo o que aconteceu, é tenso, marcado por rancor e medos velados mútuos.

“Não quero a porta fechada”, diz ele, se protegendo do passado aos olhos dos empregados da empresa onde trabalha, o local onde ela o procurou. “Não sei nada sobre você, exceto que me abusou”, contextualiza ela, lembrando uma vida de vergonha, constrangimento e frustração.

Não tem como assistir a esse drama contundente e não se lembrar do clássico romance de Nabokov, que ganhou adaptação estilosa do mestre Kubrick no começo dos anos 1960. Mas são abordagens, situações, contextos e épocas diferentes, com o assunto evidenciado de forma bastante velada, sugestiva, resvalando no campo da sedução inocente e da busca de um desejo mais maduro.

Com estrutura narrativa teatral do texto original bem resolvida nas telonas, onde diálogos viscerais inquietantes exploram com dramaticidade os conflitos dos personagens, sem ficar preso às convenções cênicas, “Una” peca pela confusão na condução do tema. O que é uma pena porque as atuações estão de tirar o fôlego.

O problema talvez esteja no direcionamento dos interesses e destinos dessas duas almas em crise eterna. Há até uma insinuação machista no enredo, quando caracteriza essa mulher meio destrambelhada sedenta por punição. Afinal, a culpa foi dela ou dele? Cabe a você espectador decidir, embora a verdade seja bem clara…

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