Crítica: Turma da Mônica – Laços adere à nostalgia para recriar as HQs
Personagens de Mauricio de Sousa ganham sua aguardada versão com atores na tela grande sob direção de Daniel Rezende (Bingo)
atualizado
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Turma da Mônica – Laços, filme que adapta as histórias em quadrinhos de Mauricio de Sousa, estreia cercado de expectativas do público brasileiro. Pudera. O novo longa de Daniel Rezende, indicado ao Oscar de montagem por Cidade de Deus (2002) e diretor de Bingo: O Rei das Manhãs (2017), concretiza o sonho de boa parte do imaginário coletivo nacional: ver Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali interpretadores por atores reais, de carne e osso, numa recriação palpável do que lemos e vimos nas HQs durante décadas.
Adaptação da graphic novel Laços, de Vitor e Lu Cafaggi, o filme realiza um desafio nada simples: transportar a brevidade dos gibis para uma trama de quase 100 minutos de duração. Até por isso, a caracterização dos personagens e o design de produção importam bem mais do que o roteiro.
Para além do Bairro do Limoeiro
Cebolinha (Kevin Vechiatto) tenta, mais uma vez, se tornar o dono da rua. Para tal, ele precisa se apossar de Sansão, o poderoso coelhinho de pelúcia de Mônica (Giulia Benite), melhor amiga de Magali (Laura Rauseo). Ele convence Cascão (Gabriel Moreira) a topar participar de mais um de seus planos “infalíveis”.
A turminha é obrigada a unir forças e deixar as diferenças um pouco de lado quando Floquinho, o cachorrinho de Cebolinha, desaparece misteriosamente. Ao que parece, foi sequestrado pelo Homem do Saco (Ravel Cabral), que mora floresta adentro.
Laços, o filme, obviamente recorre à nostalgia para recriar esse universo. Mas Rezende e equipe conseguem vencer qualquer desconfiança inicial com um visual cativante.
Recriação colorida e atemporal
Com uma ambientação situada numa escala urbana infantil, de fácil manipulação – Bairro do Limoeiro, rua de cima, Parque das Andorinhas e floresta –, sobram possibilidades de momentos-síntese: uma caminhada contra o nascer do sol, a aparição onírica do Louco (Rodrigo Santoro), o cameo de Mauricio de Sousa à la Stan Lee e variadas interações para trabalhar as características clássicas de cada criança (a fome de Magali, o medo de água de Cascão, a coragem de Mônica, o individualismo de Cebolinha).
Nesse sentido, a visualização das HQs é de fato precisa. A fotografia cristalina adere às cores primárias dos cenários e à horizontalidade de Rezende na formatação dos planos, uma clara alusão às revistinhas. O filme também dispensa qualquer risco de atualização contemporânea autoirônica ou cínica: Laços traz um Brasil da fantasia, da experiência “em miniatura” da infância, atemporal e pueril.
Roteiro falho
A narrativa, porém, nem sempre acompanha esse apuro na composição visual. Em vários momentos, ela parece se alongar de propósito para “caber” no formato de longa-metragem. O filme tem quase 100 minutos, mas poderia ter bem uns 15 ou 20 a menos. A trilha sonora, reiterativa e afobada, só compromete ainda mais o ritmo da história.
Outra decisão discutível é a escolha apressada em indicar Cebolinha como protagonista. Os momentos solo – que não são poucos – jamais rendem tão bem quanto a dinâmica de grupo. Numa leitura talvez mais extrema, dá até para ir adiante e problematizar a persona masculina tóxica do garoto em relação à dona de Sansão.
De qualquer modo, Turma da Mônica – Laços funciona como raro exemplo de cinema infantil bem realizado no Brasil. Uma franquia cujo início se revela promissor.
Avaliação: Regular